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Mudanças climáticas a vilã da crise hídrica brasileira

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Falar na crise hídrica tem tomado as pautas nos influenciadores do Youtube, telejornais, blogs, jornais e na vida do cotidiano do cidadão-contribuinte-eleitor (como se referia o jornalista Hélio Fernandes) a nós, simples mortais.

Friamente, estão colocando na conta da crise hídrica, o fenômeno meteorológico La Niña, as mudanças climáticas, e o desmatamento da Amazônia.

Por fim, a gestão hídrica do Brasil já elegeu as mudanças climáticas como a maior vilã da atua crise hídrica.

Divergências a parte, me atrevo a tentar separar em várias questões a serem analisadas. Parafraseando o livro sagrado “Dai, pois, a César o que é de César”

É notório que o fenômeno meteorológico La Niña atuou e que produziu a diminuição das chuvas em várias bacias hidrográficas. Era sabido e também é consenso geral.

Fica uma questão.

Será que apenas ele, o fenômeno meteorológico é o responsável pela tragédia da crise hídrica ou apenas mais um fator? 

Quanto à Mudanças climática, poderíamos pular este assunto, pois quem acredita em terra plana, certamente, não irá contabilizar esta variável tão importante.

No entanto, foi a eleita do ano!

Sobretudo, fica mais uma questão.

Será que os estudos do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (sigla em ingIês, IPCC), não estão claros o suficiente, quanto a recorrência dos fenômenos meteorológicos intensos e adversos no Brasil e no mundo, e mesmo sendo um dos “possíveis” responsáveis fora negligenciado? 

Afinal, o que estamos fazendo para combater os efeitos das mudanças climáticas no Brasil?

Desmatamento da Amazônia, “me reservarei o direito em ficar em silêncio…” plagiando a frase de uma celebridade, visivelmente, constrangida pelo negacionismo em uma importante comissão. (Já abordei sobre está temática em outros artigos desta coluna).

No entanto, pontos relevantes que precisamos avaliar de forma regional no contexto da crise hídrica.

Vamos lá, primeiro o cerrado brasileiro!

O avanço da fronteira agrícola, o desmatamento da vegetação nativa (em especial no cerrado brasileiro), o aumento da demanda de água (atualmente, muitas bacias hidrográficas já se encontram em conflito hídrico), o aumento das áreas irrigadas e não menos importante, a redução dos volumes pluviométricos (nossos períodos chuvosos tem se tornado cada vez mais irregulares).

São apenas constatações!

Pensemos agora, em Uso e ocupação do Solo, do ponto de vista geográfico, agronômico e meteorológico.

Será que não entra nesta equação hídrica?

É fato, e os dados são incontestes que há uma redução da vegetação nativa do bioma cerrado ao longo dos últimos 34 anos (https://mapbiomas.org/ ).

Por que o Cerrado? Por que é simplesmente, o berço das águas do Brasil central.

Outra variável, para ser entendida e mensurada.

A Irrigação, com suas técnicas, com sua Política Nacional e os arcabouços legais que tangem as outorgas dos usos consuntivos.

Será que não precisamos melhorar este monitoramento e quantificar tais volumes?

Quanto mais preciso for, melhor será para todos.

Por que inserir esta variável na conta?

Percebam que os dados que o Atlas da Irrigação (ANA, 2021) nos apresenta, já nos remete a um status de alerta no quesito água, caso as irregularidades dos períodos chuvosos permaneçam.

Ele nos relata que quase 50% das águas superficiais brasileiras já são destinadas para o uso na irrigação. E que a própria Agência Nacional de Águas estima um aumento da área irrigada em 76% até o ano de 2040.

Pasmem! Estamos falando em quase 7 milhões de hectares atuais (1 hectare equivale a 10.000 m2) e não estamos falando ainda em volumes de água.

O que devem elevar este uso na escala exponencial, a depender da cultura e da época do ano.

Em termos absolutos, a ANA possui cerca de 5.600 empreendimentos de irrigação outorgados com autorização para utilizar até 10 bilhões de m³ por ano (equivalente a 10 trilhões de litros) dos rios da união.

Agora, imaginem!

Com licenciamentos ambientais simplificados e auto declaratórios, que por um lado pode facilitar e agilizar as empresas do agronegócio, bem intencionadas.

Mas que por outro lado, com pouca fiscalização e sem o devido controle do marco regulatório legal pode se tornar um convite para as não tão bem intencionadas.

Será que os conflitos não tenderam a aumentar?

Com a redução da vegetação nativa a passos largos, a produção de alimentos ainda será sustentável?

Não pretendo esgotar todo o assunto, tão pouco responder a todos os questionamentos apontados.

Fica o convite para refletir e comentar.

Iremos avançar em outros pontos importantes. Até breve.   

José Luiz Cabral

Professor Unitins e Coordenador do Núcleo Estadual de Meteorologia e Recursos Hídricos

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