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Dióxido de carbono na atmosfera continua batendo recordes apesar do confinamento

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Madri – 22 ABR 2020 – 18:59 BRT

As medidas de confinamento no mundo para evitar o avanço da pandemia da Covid-19 podem significar uma “redução temporária das emissões de gases de efeito estufa”, mas não devem substituir “a ação climática contínua”, alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) na quarta-feira. Coincidindo com o Dia da Terra, que completa meio século neste ano, o órgão ligado à ONU divulgou um relatório sobre os dados climáticos do período compreendido entre 2015 e 2019 em que aponta que “todos os indicadores” estão mostrando uma “aceleração da mudança climática nos últimos cinco anos”. “O clima extremo aumentou e não desaparecerá pelo coronavírus”, alertou em um comunicado Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.

Ainda que estejam ocorrendo reduções das emissões de gases de efeito estufa pela interrupção da economia, a concentração na atmosfera do principal desses gases ―o dióxido de carbono (CO2)― continuou aumentando durante este ano, de acordo com os dados divulgados pela OMM. “As concentrações atmosféricas de CO2 no observatório Mauna Loa, no Havaí, continuam em níveis recordes em 2020”, afirmou a organização. O observatório é referência no mundo por ter a série histórica de medições diretas mais antiga (começa em 1958). Mas, além disso, há uma série de estações espalhadas pelo mundo que também estão mostrando que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera não se reduzem.

Um desses observatórios citados pela Organização Meteorológica Mundial é o de Izaña, em Tenerife. Seu diretor, Emilio Cuevas, confirma que essa concentração de dióxido de carbono —que eles monitoram desde os anos oitenta― continua aumentando apesar do confinamento. Mas como é possível? “Muitas vezes se confunde poluição com gases de efeito estufa”, diz Cuevas. “Ainda que em Paris, Madri e Barcelona tenha ocorrido uma enorme melhora da qualidade do ar [ou seja, uma redução da poluição], isso não acontece com os gases de efeito estufa”, acrescenta.

Por exemplo, no caso da qualidade do ar, nas 80 maiores cidades da Espanha os níveis de dióxido de nitrogênio ―um poluente ligado principalmente ao tráfego que afeta a saúde dos seres humanos― caíram 51% durante as três primeiras semanas de confinamento em relação às mesmas três semanas de 2019, de acordo com uma análise do El PAÍS. No caso dos gases de efeito estufa, entretanto, um estudo do Goldman Sachs diz que este ano terminará com uma queda de 5,4% das emissões de dióxido de carbono ―que esquenta o planeta, mas não é um poluente― relacionadas à energia, que significam dois terços do total eliminado pelo homem. É uma queda histórica, mas não suficiente para que as concentrações na atmosfera possam diminuir.

“São reduções muito pequenas, não acontecem em todo o planeta e ocorrem em períodos curtos”, diz Cuevas. “Globalmente, a diminuição de emissões não foi tão grande como se poderia imaginar. O que caiu muito foi o nível do tráfego, mas continuamos esquentando nossas casas, muitas indústrias continuam trabalhando…”, afirma Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudança Climática do Copernicus, o programa de observação da Terra da Comissão Europeia.

Além disso, não existe uma relação linear entre as emissões e a concentração na atmosfera. De acordo com o IPCC ―o grupo de especialistas em mudança climática da ONU―, por volta de 50% das emissões diretas de dióxido de carbono relacionadas à atividade do ser humano acabam acumuladas na atmosfera. O restante se divide em partes iguais entre o que é absorvido pelos oceanos e o que fica retido na vegetação. Buontempo também diz que existem “fenômenos” independentes “das emissões diretas e que são consequência do aumento da temperatura”. Ele se refere, por exemplo, ao desgelo das turfeiras em regiões árticas que faz com que sejam liberadas grandes quantidades do carbono armazenado por essas capas.

Por isso a OMM e os especialistas afirmam que para deter a mudança climática é preciso muito mais do que as reduções pontuais causadas pela pandemia. “Temos que achatar tanto a curva da pandemia como a da mudança climática”, afirmou Taalas. O problema é que a curva da concentração de dióxido de carbono está longe de se achatar. “Pelo contrário, a concentração cresce em um ritmo maior”, alerta Cuevas.

Indicadores climáticos

Em comparação com 1970, quando foi comemorado o primeiro Dia da Terra para conscientizar sobre os problemas ambientais, a acumulação de dióxido de carbono na atmosfera é agora 26% maior, disse a OMM. E os indicadores climáticos apontam claramente a um aquecimento global. “A temperatura global média aumentou em 0,86 grau desde então, e é 1,1 grau mais quente do que na era pré-industrial”, acrescentou a OMM.

Além disso, esse aquecimento se acelerou nos últimos anos. Coincidindo também com o Dia da Terra, o programa Copernicus divulgou sua avaliação climática anual, que revela que 2019 foi o ano mais quente já registrado na Europa. “Muitos recordes de temperatura foram batidos em muitas partes da Europa, não só no Sul, onde estamos mais acostumados a ver essas anomalias, como também na França, na Alemanha, na Áustria”, detalha Buontempo. Mas o especialista italiano frisa que “há um aquecimento difuso bem claro em todos os continentes e em toda a Europa”, que faz com que quase todos os anos recordes sejam superados. No caso da Europa, diz Buontempo, “11 dos 12 anos mais quentes foram registrados desde o ano 2000”. “As temperaturas vão subindo de forma clara e uniforme em todos os lugares”, resume.

Por isso a OMM pediu na quarta-feira que os países mostrem a “mesma determinação e unidade” na luta contra a mudança climática que contra a pandemia da covid-19. A organização pediu, concretamente, que os pacotes de estímulo colocados em andamento ajudem “que a economia volte a crescer de forma mais verde”. Porque, como alerta a OMM, em crises anteriores os planos de recuperação foram associados a importantes aumentos de emissões de gases de efeito estufa.

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