Jesus, conversando com seus discípulos, ensinou “De fato, se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” (Lucas 14,28-30).
Já vi gente falando que planejamento é coisa de economista, isto é, não é para todos, não é para nós, normalmente não precisamos planejar.
Tomemos como exemplo uma atividade cotidiana, “simples”: a dona de casa indo ao supermercado. Antes de sair ela certamente verificará sua despensa para ver sua necessidade de suprimentos, ou seja, faz um levantamento da situação atual. A partir de então, projeta para quanto tempo necessitará de produtos, imagina cardápios para o período, e faz sua lista, escrita ou mental. Em outras palavras, planeja os próximos passos, o que buscará no supermercado.
Nas compras, ela vai comparando produtos, preços, e fazendo algumas substituições, adequando seu planejamento à realidade.
Em sentido contrário, imaginemos a pessoa sair para as compras e no supermercado vai comprando o que acha que precisa. Possivelmente, ao chegar à sua casa, verificará que comprou algumas coisas desnecessárias e deixou de adquirir algumas que estão em falta.
Se em uma atividade rotineira, em cenário cujo risco maior seria algum produto que falte, que apresente preço muito elevado ou esteja em oferta, é necessário planejamento, imagine-se nas atividades empresariais e na gestão pública.
A falta de planejamento é um dificultador a empresários, sobretudo os de micro e pequeno portes. Baseado em aprender fazendo, guiam-se pelo achismo, e muitas vezes consomem muito energia e recursos apagando incêndios, e muitos acabam não resistindo às muitas dificuldades: novos produtos ou nova forma de fazer, concorrência, preferência do consumidor que precisa ser fidelizado, preço, abordagem, enfim, um mar de riscos e incertezas a enfrentar.
Deparei-me, várias vezes, com pequenos empreendedores que decidiram construir ou ampliar as instalações de sua empresa, dizerem que vão “construir até onde der”. Sem planejamento, deixam de buscar recursos apropriados e vão imobilizando o seu capital de giro, comprometendo o fluxo de caixa, e não concluem as instalações, nem tem capital de giro para tocar o negócio. Para apagar incêndio, buscam recursos com juros elevados – já soube até de quem recorreu a agiota – prazo curto, inapropriado, levando-os à inadimplência, e muitas vezes ao encerramento de suas atividades, asfixiados pelas dívidas decorrentes da falta de planejamento.
O planejamento envolve tudo o que se refere à atividade empresarial, desde instalações – localização, visual atrativo, mão de obra, comunicação interna e pública, tudo adequado à atividade da empresa e ao seu público.
Há muito tempo vi uma pequena empresa de extintores fazendo comercial em horário nobre da televisão. Chamou-me a atenção aquele fato, porque ele não tinha estrutura para atender tamanha demanda, como também suas vendas não renderiam lucro suficiente para absorver aquele elevado custo. Para satisfazer vaidade pessoal aquela iniciativa estaria bem, mas dentro de um planejamento, que deve considerar a relação custo x benefício seria inimaginável.
Frise-se que planejamento não é atividade somente para implantação de empresa ou expansão de suas instalações ou atividades. O planejamento é permanente: objetivos, metas, estratégias, táticas, acompanhamento, redirecionamento, aperfeiçoamento, porque o mundo não para, a vida não para, a empresas são organismos, têm vida, são sensíveis às mutações no ambiente, que, inclusive, apresenta variáveis externas que o empresário não pode controlar, como leis, normas, surgimento de nova concorrência.
Quer um exemplo? Atualmente a pessoa pode ir a uma loja de produtos de marcenaria, levando desenho e medida e sair dali com um armário modelado, pronto para montar, com parafusos, chaves e tudo o mais.
O planejamento deve levar o empresário a estar “antenado”, oferecendo bom atendimento, ou melhor, oferecendo soluções ao seu cliente, algumas vezes mais investindo no futuro do relacionamento do que propriamente no pequeno ganho imediato.
Resumindo: planejar é imprescindível, e não pode ter visão centralizada, pontual, mas olhar de global, todo o entorno, todos os recursos, materiais – financeiros, instalações, logísticos – como imateriais – atendimento, marketing, imagem ou referência dentre sua clientela, seus parceiros e concorrentes.