EXPERIÊNCIA OU JUVENTUDE?

Dia desses, assisti à uma live “Unicesumar Responde”, e o primeiro palestrante, Ricardo Dias, Vice-presidente de marketing da Ambev, empolgou-me com sua história. Em menos de 20 anos saiu da base de vendas da empresa onde trabalha, para o topo do marketing. Também me chamou a atenção ao dizer que na Ambev o “nosso sonho nos inspira a trabalhar juntos, unindo as pessoas por um mundo melhor”. Significa dizer que o Vice-presidente de marketing da Ambev foi formado na própria empresa. Diríamos que é da sua base, se fôssemos usar a linguagem falada nos clubes de futebol.

            O que vemos aí? Certamente, o sonho das pessoas que a compõem converge para o sonho daquele Grupo Ambev: contribuir para o mundo ser melhor, e para caminhar nesta direção a pessoa necessita, primeiramente, buscar ser melhor.

            Isto me levou a olhar para o mercado de trabalho nacional, onde vemos dificuldade em dois extremos. Jovens saídos de cursos técnicos ou universitários “de cara pra cima”, sem trabalho, porque não têm experiência, e pessoas de “mais idade” que desejam trabalhar e não conseguem, porque são vistas com preconceito, julgadas incapazes de produtividade compatível com a necessidade da empresa.

            No Brasil, muitos anos, foi criado o sistema de estágios, para proporcionar aos jovens aprendizagem, ganho de experiência, e assim facilitar o seu ingresso no mercado formal de trabalho.

            Ouso dizer que percentual enorme de estagiários são utilizados simplesmente como mão de obra temporária e barata. Aos estagiários são destinadas atividades repetitivas, “burocráticas”, apenas levando documento de um lugar para outro, e eles saem dali satisfeitos porque ganharam um dinheirinho, mas com aprendizado muito aquém do que deveriam ter adquirido.

            Perdem as empresas que não cuidaram de observar seus estagiários, com o intuito de descobrir potencialidades e formar, para sua equipe, pessoas com a filosofia, a cara da empresa entranhada em si. Perdem também os estagiários, com o desperdício da oportunidade de acumular experiência, ganhar conhecimento

            Segundo o Sebrae, 54% dos empregos formais no País são em microempresas e empresas de pequeno porte. Imagine-se grande parte desse bolo admitindo estagiários, e aproveitando a oportunidade para selecionar e formar profissionais para sua equipe.

            No outro extremo, como disse, temos os idosos, aposentados que desejam continuar trabalhando, ou às vezes até necessitam de mais renda para complementar sua aposentadoria. Raríssimas oportunidades são oferecidas a este grupo, celeiro de experiência que muito bem poderia – e pode – contribuir para fortalecer a cultura da empresa, respaldando o time principal, composto pelos que têm experiência e juventude, alta produtividade e, também, para a formação de valores jovens.

            Hoje, conversando com o amigo Omar Hennemann sobre trabalho voluntário, a propósito do Dia Nacional do Voluntariado, ocorrido ontem, 28 de agosto, veio-me o ‘estalo’ para inserir este assunto no artigo que iniciara, porque acabamos vendo que estão interligados: voluntariado e desenvolvimento profissional e pessoal.

            Tenho vivência em trabalho voluntário há mais de 50 anos, em diversos segmentos, o que me permite falar o quanto é gratificante, enriquecedora esta atividade, manancial para crescimento como pessoa e desenvolvimento de habilidades para saber relacionar-se, trabalhar em equipe, liderar, tomar iniciativa, cumprir responsabilidade assumida pelo prazer em servir, que é muito mais do que fazer por obrigação.

            Onde quero chegar? Simples. O voluntariado favorece às instituições ou pessoas beneficiárias da ação, como também ao voluntário, que tem oportunidade para crescimento, desenvolvimento de habilidades e competências que lhe serão importantes na vida profissional e pessoal.

Habilidades são definidas “como sendo um conhecimento em determinado setor, área ou atuação, adquirido, por meio de treinamentos, capacitações ou então experiências para executar determinada atividade técnica”. As competências são conceituadas como a “capacidade que as pessoas têm de, por meio de conhecimentos, habilidades e atitudes, fazer suas tarefas plenamente e resolver situações variadas tanto profissionais quanto pessoais”. Citações extraídas do site AIESEC, movimento de voluntariado global liderado por jovens (www.aiesec.org.br).

Grandes corporações buscam para suas equipes não somente conhecimento técnico, mas também, e principalmente, competências, capacidade de encontrar saídas, de decidir, liderar, trabalhar em equipe, para o que é necessário habilidade em relacionar-se com outras pessoas. Talvez por isso valorizem trabalho voluntário quando vão selecionar pessoas para sua equipe.

Esta visão pode muito bem ser adotada por qualquer empresa, independentemente do seu porte, mesmo que o proprietário seja também o responsável pelo RH.

Finalmente, conclamo a todos para olharem esta porta: empresários, professores, pais estimulem os jovens a buscarem o caminho do voluntariado, para o desenvolvimento de habilidades e crescimento, em vez de esperar tão somente o programa formal de estágio, que nem sempre resulta em formação, aprendizagem. A idosos também a mesma palavra: busque no voluntariado autorrealização, o prazer de servir, e paralelamente obterá outros ganhos, como reciclar suas habilidades e desenvolver novas, manter viva e crescente sua rede de contatos, e, quem sabe, abrir caminho para retorno à atividade profissional que deseja ou mesmo necessita.

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