XEQUE-MATE DIGITAL: O NOVO TABULEIRO POLITICO

No grande tabuleiro da política contemporânea, as peças se movem com uma precisão quase sobrenatural, guiadas por uma inteligência que transcende a mente humana. Assim como no xadrez, onde cada lance é meticulosamente calculado, o jogo político atual é orquestrado por análise de metadados e sistemas de inteligência artificial (IA) que analisam, preveem e influenciam o comportamento dos eleitores com uma assertividade jamais vista.

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Os políticos, outrora os únicos jogadores neste campo, agora se veem como peças num jogo muito maior, onde os verdadeiros mestres são os dados e as máquinas que os interpretam. Como um grande mestre de xadrez que antecipa os movimentos do oponente, os estrategistas políticos armados com a análise dos metadados aliados a IA, podem prever tendências eleitorais, identificar pontos fracos nas defesas adversárias e planejar jogadas com vários lances de antecedência.

Os metadados e a inteligência artificial emergiram como os novos peões deste xadrez político, avançando silenciosamente, mas com potencial para mudar drasticamente o curso do jogo. Esta nova realidade ficou evidente nas eleições presidenciais dos Estados Unidos desde Barack Obama, em 2008, pioneiro ao utilizar metadados para uma segmentação precisa de eleitores, arrecadando impressionantes US$ 127 milhões online, em no uso estratégico de tecnologias e análises de grandes volumes de dados de eleitores.

Em 2012, Obama, utilizou dados capturados principalmente das mídias sociais digitais para realizar uma segmentação precisa do público-alvo, chegando ao nível do indivíduo, Donald Trump, em 2016, levou essa abordagem ao extremo com o polêmico uso da Cambridge Analytica, explorando dados de milhões de usuários do Facebook para microtargeting eleitoral, para ganhar uma vantagem estratégica decisiva. Já Emmanuel Macron, na França, inovou em 2017 com o uso de IA para analisar propostas de políticas públicas e refinar sua plataforma de campanha.

No México, a candidata Xóchitl Gálvez demonstrou o poder da IA na preparação para debates, utilizando chatbots para simular cenários e aprimorar suas respostas. Essa abordagem inovadora não apenas melhorou seu desempenho, mas também revolucionou a forma como candidatos se preparam para o escrutínio público. Na Argentina, tanto Javier Milei, quanto Sergio Massa, se utilizaram das análises de metadados e IA, que foram variáveis decisivas ao traçar as estratégias de campanha. Os casos concretos de uso de IA nas eleições se multiplicam como aberturas inovadoras no xadrez político global.

Neste novo paradigma, o microtargeting eleitoral se assemelha a um ataque preciso de um bispo em diagonal, atingindo exatamente o eleitor certo com a mensagem certa. Os políticos, como reis no tabuleiro, são protegidos por uma muralha de dados que antecipa e neutraliza ameaças antes mesmo que se materializem. A análise de sentimento, impulsionada por IA, funciona como um radar constante, permitindo que as campanhas ajustem suas estratégias em tempo real, como um jogador que adapta seu plano de jogo a cada movimento do oponente.

Contudo, assim como no xadrez, onde um movimento errado pode custar a partida, o uso de IA na política traz seus próprios perigos. Os deepfakes e a desinformação são como peças envenenadas no tabuleiro político, capazes de derrubar até mesmo os jogadores mais habilidosos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atuando como um árbitro vigilante, proibiu o uso de deepfakes nas eleições, numa tentativa de manter a integridade do jogo democrático.
Mas a IA não se limita apenas às campanhas eleitorais. Políticos já no poder estão utilizando estas ferramentas para fortalecer seus mandatos, como peças promovidas que ganham novas capacidades. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, demonstrou o poder dessas tecnologias ao reduzir o tempo de resposta a emergências em 18%, utilizando sistemas de reconhecimento facial e análise preditiva, um movimento defensivo que fortaleceu sua posição no tabuleiro político.

Exemplos promissores de uso institucional da IA, estão em desenvolvimento, a Câmara dos Deputados utiliza desde 2018 o sistema Ulysses para análise de emendas legislativas e interpretação de comentários públicos. O Senado Federal está finalizando testes de um “ChatGPT” especializado em normas brasileiras, enquanto a ONG Legisla Brasil desenvolve uma IA para assessores parlamentares.

O STJ apresentou, nesta terça-feira, 11, o “STJ Logos”, seu novo motor de IA generativa, criado inteiramente no próprio tribunal para modernizar a análise e a elaboração de conteúdos judiciais, no Tocantins, está sendo desenvolvido e pronto para a implantação o sistema Nomos, uma IA que consulta a legislação, elabora projetos de lei e outras funcionalidades em tempo real. Essas iniciativas mostram o potencial da IA para aprimorar processos democráticos e a eficiência legislativa.

À medida que nos aproximamos das eleições de 2026, fica claro que o domínio dessas tecnologias não é apenas uma vantagem, mas uma necessidade para sobreviver e prosperar no turbulento mar da política moderna. Os políticos que triunfarão serão aqueles que, como grandes mestres do xadrez, conseguirem equilibrar a precisão algorítmica com empatia genuína, a velocidade da IA com a sabedoria da experiência humana.

O xadrez político da era da IA exige não apenas estratégia, mas também integridade. Cada movimento, cada decisão, cada palavra pode ser o lance decisivo que leva ao xeque-mate ou à humilhante derrota. O futuro da democracia dependerá de como escolhermos jogar este jogo, onde os dados são os peões, a IA é a rainha, e o povo continua sendo o rei que todos buscam proteger – ou conquistar.

ROBERVAL MARCO RODRIGUES
É consultor em soluções estratégicas, relações institucionais e Governamentais

@robervalmarco