Tocantins e a difícil missão de recuperar a confiança: novo governo herda o desafio de romper o ciclo de crises

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O Tocantins, mais uma vez, encontra-se mergulhado em um cenário de desconfiança e instabilidade política. O afastamento do governador Wanderlei Barbosa, acompanhado da exoneração em massa do primeiro escalão pelo novo chefe do Executivo em exercício, Laurez Moreira, reacende uma ferida antiga do estado: a incapacidade de seus governadores concluírem mandatos sem interrupções judiciais ou crises institucionais. Esse padrão projeta uma imagem de fragilidade que ultrapassa as fronteiras estaduais, comprometendo severamente a reputação do Tocantins no cenário nacional e internacional, manchando o nome de um estado com enorme potencial.

O episódio adquire contornos ainda mais graves porque envolve investigações sobre supostos desvios de recursos de programas sociais destinados à população mais vulnerável, como as cestas básicas distribuídas durante a pandemia. Caso as suspeitas se confirmem, não estaremos diante de mera falha administrativa, mas de uma profunda violação do dever de lealdade para com o cidadão. A dimensão do escândalo não se restringe à má gestão, mas alcança o campo da improbidade administrativa, que, em sua essência, representa a mais grave traição à confiança depositada pelo povo em seus governantes.

Comprovada a malversação de verbas sociais, será necessária uma resposta judicial, pois a violação atinge diretamente a dignidade da população que o Estado tem o dever primordial de proteger. É evidente que todas as acusações precisam ser apuradas com o máximo rigor, dentro do devido processo legal e com absoluto respeito às garantias constitucionais. Mas é igualmente evidente que, se constatados os desvios, os responsáveis devem ser exemplarmente responsabilizados.

Esse quadro exige mais do que a simples substituição de nomes no governo. Ele clama por uma mudança estrutural de mentalidade, que só será possível quando os eleitores compreenderem o peso real de suas escolhas. A responsabilidade política não é monopólio daqueles que ocupam cargos eletivos; ela recai, com igual força, sobre quem os coloca no poder. Enquanto a sociedade não assumir esse papel, a repetição de crises será inevitável.

As consequências dessa desconfiança crônica vão muito além do plano político. Investidores, por natureza avessos a riscos, fogem de ambientes marcados pela corrupção e pela insegurança. Nenhum setor produtivo, especialmente o agronegócio e a indústria nascente no estado, pode prosperar em um contexto onde contratos são vistos com suspeita, governos não concluem seus mandatos e a incerteza se consolida como regra. O resultado é um Tocantins menos competitivo, dependente de transferências federais e incapaz de atrair os investimentos privados necessários para impulsionar o desenvolvimento e gerar empregos de qualidade.

Ao atual governador em exercício, Laurez Moreira, cabe uma missão que transcende a mera gestão provisória. Político experiente, com trajetória iniciada em 1983 e marcada pela ausência de qualquer acusação de corrupção ao longo de décadas de vida pública, ele reúne condições raras no cenário político estadual para conduzir um processo de ruptura definitiva com a lógica que tanto desgastou a imagem do Tocantins. Trata-se de uma oportunidade histórica de sinalizar compromisso inabalável com a transparência, a estabilidade institucional e o fortalecimento da governança pública. Não é tarefa simples, mas um imperativo para resgatar a confiança da sociedade e dos investidores, mostrando que o estado pode, enfim, trilhar um caminho de previsibilidade e seriedade.

O Tocantins não pode — e não deve — se conformar com a imagem de território da instabilidade permanente. É chegada a hora de demonstrar que o poder do voto deve operar em sua plenitude, com líderes que governem até o último dia de seus mandatos e instituições sólidas que fiscalizem e punam com rigor. Essa construção, porém, não recai apenas sobre os ombros dos agentes públicos. É fundamental que a sociedade compreenda sua parcela de responsabilidade, pois o poder político, em última análise, nada mais é do que o reflexo direto das escolhas feitas por cada um de nós.

 

Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e  ambiental

@hidekazu.adv

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