O Brasil deverá colher mais de 300 milhões de toneladas de grãos já na safra 2024/25, ou três temporadas antes do que se previa inicialmente, segundo as novas projeções do Ministério da Agricultura. A previsão anterior, um mantra da ministra Tereza Cristina desde que ela assumiu a Pasta, era de alcançar a marca no ciclo 2027/28.
De acordo com as novas projeções, que o ministério publicará hoje a produção brasileira de grãos deve crescer 27,1% até 2030/31, quando chegará a 333,1 milhões de toneladas. Na temporada encerrada em junho, o país colheu 262,1 milhões de toneladas, segundo os cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Para a produção das carnes de frango, bovina e suína, o Ministério da Agricultura agora prevê aumento de 24% nesse intervalo. O levantamento mostra também a evolução esperada no setor de frutas, algodão e cana-de-açúcar.
Apesar dos problemas que surgiram com a pandemia, o setor agropecuário teve bons resultados no país, com colheitas e preços recordes. Além disso, há perspectiva de o Valor Bruto da Produção (VBP) ultrapassar a marca de R$ 1 trilhão e de crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio.
A área com plantio de grãos, que é hoje de 68,7 milhões de hectares, deve chegar a, no mínimo, 80,8 milhões de hectares em 2030/31, de acordo com a Pasta. Se consideradas as lavouras de outras culturas, como cana-de-açúcar, café e frutas, o Brasil pode plantar 92,3 milhões de hectares em dez anos, o que representa 10,8% do território brasileiro.
A expansão ocorrerá especialmente com o aumento das áreas de soja, que crescerão 10,3 milhões de hectares no Centro-Oeste e na região do Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A oleaginosa deverá ocupar 48,8 milhões de hectares na safra 2030/31. Na safra 2020/21, o plantio ocorreu em 38,5 milhões de hectares, com produção de 138,5 milhões de toneladas.
A julgar pelos resultados da última década, as projeções podem ser até comedidas. Em 2011, o ministério calculou que o Brasil colheria 185 milhões de toneladas de grãos em 2021/22, das quais 89 milhões seriam de soja, marca superada há anos.
As lavouras de cana-de-açúcar devem ser ampliadas em 1 milhão de hectares, principalmente em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, e o milho segunda safra terá área adicional de 5,2 milhões de hectares no país, totalizando 20 milhões de hectares no ciclo 2030/31. O cultivo de trigo e algodão também deve crescer
O aumento da produção deve ocorrer a partir da incorporação de novas áreas, do avanço sobre pastagens naturais e também com a ocupação de área de outras lavouras. Culturas como arroz, feijão, mandioca, batata, café e laranja vão perder área plantada, nas projeções do governo. Daqui a dez anos, o Centro-Oeste deverá ser responsável por 46,1% da produção nacional de grãos, com área plantada 27% maior que a atual.
O ministério alerta que a pressão para uso das culturas de milho e soja para a produção de biodiesel e etanol tende a aumentar. Além disso, o crescimento da produção agrícola e da demanda também acentuará a necessidade de investimentos em infraestrutura, pesquisa e financiamento dos produtores.
O Brasil deve reforçar seu papel de exportador mundial de alimentos no período considerado no estudo. Os embarques de soja em grão devem passar de 116 milhões de toneladas em 2030/31, com crescimento de 33,6% em relação à temporada 2020/21, e os de milho, 42,4 milhões de toneladas, aumento de 43,8%.
Apesar do protagonismo da soja, o Ministério da Agricultura chama a atenção para a “vantagem comparativa” que o país tem em carnes e frutas, em especial manga, melão e uva. Para essas culturas, a Pasta prevê crescimento de 54,5%, 31,7% e 38,6%, respectivamente.
“Nas carnes, haverá forte pressão do mercado internacional, especialmente de carne bovina e suína, embora o Brasil continue liderando o mercado internacional do frango”, diz a Pasta.
O estudo também chama a atenção para o crescimento da demanda interna. “Do aumento previsto para a carne de frango, 71,4% da produção de 2030/31 serão destinados ao mercado interno; da carne bovina produzida, 64% deverão ir ao mercado interno, e, na carne suína, 73,8%”, diz o ministério.“Embora o Brasil seja, em geral, um grande exportador de vários desses produtos, o consumo interno será relevante”.
Em 2030/31, um terço da produção de soja abastecerá o mercado interno. No milho e no café, as fatias serão de 71,6% e 43%, respectivamente. “Haverá uma pressão sobre o aumento da produção nacional devido ao crescimento do mercado interno e das exportações”, diz o estudo.