Há um velho ditado que diz: “quem conta a história, escolhe os vilões”. E nos últimos tempos, o agronegócio virou o personagem preferido das narrativas que tentam pintar o campo como inimigo da natureza. Mas será mesmo que é o produtor rural que destrói o meio ambiente? Ou será que estamos apenas repetindo o que os centros urbanos querem que a gente acredite?
Vamos aos fatos. O Rio Tietê nasce limpo, límpido e vivo no interior paulista. Corre por quilômetros entre matas, pastos, lavouras e pequenas cidades sem grandes alterações em sua qualidade. Mas basta entrar na Região Metropolitana de São Paulo para que ele se transforme: esgoto sem tratamento, lixo, resíduos industriais. Em poucas dezenas de quilômetros, o que era rio vira esgoto a céu aberto. E, curiosamente, à medida que se afasta da capital, o Tietê volta a respirar.
Esse ciclo desmonta, por si só, o discurso de que o agro é o inimigo do meio ambiente. Na verdade, são nas áreas rurais que os rios ainda têm chance de sobreviver. E esse padrão se repete em outros corpos d’água pelo Brasil: rios como o Iguaçu, o Capibaribe e tantos outros seguem esse mesmo roteiro de degradação ao atravessar centros urbanos.
Outro dado revelador é a qualidade do ar. Segundo Relatório Anual de Acompanhamento da Qualidade do Ar 2024, Estados com cidades populosas como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre frequentemente apresentam níveis de poluentes atmosféricos acima dos recomendados. A causa? Queima de combustíveis fósseis, frota de veículos e emissões industriais.
Enquanto isso, no campo, o ar segue limpo e puro. O cheiro da terra, da mata, do curral pode até incomodar quem só conhece o cheiro de asfalto quente e escapamento de carro. Mas ali está o ar que se pode respirar sem medo. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que áreas com predominância rural possuem concentrações significativamente menores de partículas finas (PM2.5), as mais perigosas para o sistema respiratório.
É claro que existem desafios ambientais no setor agropecuário e ninguém nega a existência de práticas ilegais ou predatórias isoladas, que devem ser combatidas com rigor. Mas generalizar e demonizar o agronegócio brasileiro é não só injusto, como também contraproducente. Afinal, é no campo que nascem os alimentos, as florestas são preservadas, os rios protegidos e o ar mais puro.
Enquanto isso, nos centros urbanos, o verde virou exceção, o céu é cinza e os rios agonizam. Não é preciso romantizar o campo, mas tampouco aceitar calado o discurso que inverte culpados e inocentes. O verdadeiro problema ambiental não está no boi e nem nas lavouras, está no esgoto urbano.
Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e ambiental
@hidekazu.adv
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