A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China em 2025 reacendeu tensões no comércio global, mas também abriu uma janela estratégica para o Brasil, especialmente no setor do agronegócio.
Com a imposição de tarifas de até 145% sobre produtos chineses pelos EUA, incluindo um adicional de 20% denominado “tarifa do fentanil” e, a retaliação chinesa com tarifas de até 125% sobre produtos americanos, o comércio entre as duas maiores economias do mundo sofreu um impacto direto e agressivo.
Neste cenário, o Brasil emerge como o único fornecedor confiável e capaz para suprir a demanda da China, que busca diversificar suas fontes de importação para garantir sua segurança alimentar.
A dependência chinesa de importações agrícolas é estratégica: manter sua força de trabalho na indústria e nos serviços é mais vantajoso do que expandir uma produção agropecuária em terras montanhosas, o que ainda é menos eficiente do que a observada no Brasil e nos EUA.
Um reflexo imediato desse redesenho comercial é o crescimento das exportações brasileiras de soja. Em abril de 2025, o porto de Ningbo-Zhoushan registrou um aumento de 32% na quantidade de soja brasileira desembarcada, saltando de 530 mil toneladas (abril de 2024) para 700 mil toneladas.
Além disso, a visita do presidente Lula à China, prevista para este mês de maio, deve intensificar ainda mais a cooperação entre os dois países. Espera-se que sejam firmados acordos relevantes, não apenas no campo agropecuário, mas também em áreas como ciência, tecnologia e investimentos em infraestrutura logística.
Apesar das boas perspectivas, o Brasil ainda enfrenta entraves sérios. A logística ineficiente, o sistema tributário confuso e a insegurança jurídica travam o pleno aproveitamento do potencial exportador do Brasil. Enquanto a China ergue um mega porto no Peru para facilitar o escoamento da produção brasileira via Pacífico, seguimos discutindo projetos ferroviários que nunca saem do papel.
O agro brasileiro, contudo, tem se mostrado resiliente e competitivo. Basta que o governo federal não crie novos obstáculos e ofereça previsibilidade para o produtor. Com estabilidade institucional, planejamento e investimentos minimamente coordenados, o Brasil pode transformar 2025 em um marco histórico nas exportações para a China e fazer de 2026 um salto ainda maior.
O mundo está em movimento. A disputa entre China e Estados Unidos está remodelando rotas comerciais, redefinindo alianças e reposicionando fornecedores.
Nesse novo tabuleiro global, a crise deles pode e deve ser a colheita do Brasil.
Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e ambiental
@hidekazu.adv