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Governo do Tocantins intensifica recuperação de estradas estaduais afetadas pelo desabamento da ponte JK e cobra suporte do Dnit

Após o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, na rodovia BR-226, entre os municípios de Aguiarnópolis/TO e Estreito/MA, o Governo do Tocantins adotou medidas contínuas para diminuir os impactos na rotina dos moradores da região do Bico do Papagaio. Entre as ações emergenciais estão a travessia gratuita de passageiros por meio de barcos e a reestruturação de rotas para o desvio de veículos, dentre outras medidas que visam reduzir os transtornos enquanto é aguardado o início da construção da nova ponte, de responsabilidade do governo federal. Contudo, o intenso fluxo de veículos tem impactado o cotidiano de cidades tocantinenses que não estavam preparadas para essa demanda crescente, como Aguiarnópolis, Axixá, São Miguel do Tocantins, Sítio Novo e outras.

No último dia 14, em evento no Palácio Araguaia Governador José Wilson Siqueira Campos, o governador Wanderlei Barbosa mencionou a falta de suporte do governo federal no enfrentamento dos desafios que surgiram com o novo fluxo de veículos nas estradas estaduais. “Se você passar neste momento em Axixá, em São Miguel, em Sítio Novo, elas [estradas] acabaram, estão totalmente destruídas. Não tenho recebido apoio nesse aspecto do Ministério dos Transportes. Estamos fazendo sozinhos as reparações e as recuperações das nossas estradas”, conferiu.

Pedido de colaboração do Dnit

Como parte das medidas para manter o fluxo de veículos, especialmente os caminhões de carga responsáveis pelo abastecimento de diversos estados do país, o Governo do Tocantins, por meio da Agência de Transportes, Obras e Infraestrutura (Ageto), implementou a sinalização de rotas alternativas em rodovias estaduais da região do Bico do Papagaio, facilitando o acesso ao estado do Maranhão.

O Governo do Tocantins também encaminhou um Termo de Cessão de Uso para o governo federal, solicitando que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) mantenha a estrutura nos trechos das rotas alternativas até a conclusão da nova ponte, garantindo que sejam restituídos, no mínimo, nas mesmas condições originais.

Apesar das reiteradas tentativas de diálogo com o governo federal, a responsabilidade pela manutenção dessas rotas e pela fiscalização de peso, essenciais para preservar as condições das rodovias estaduais, tem ficado apenas a cargo do estado do Tocantins, com expectativa de que, em breve, haja algum suporte mais expressivo por parte do Dnit.

O vice-presidente da Ageto, Ruberval Sousa de França, destaca o compromisso do órgão em evitar prejuízos à população tocantinense. “O Governo do Tocantins não tem medido esforços para melhorar a situação da população local. Estamos acompanhando de perto todos os dias a movimentação dessas rodovias que foram impactadas depois da queda da ponte JK, de responsabilidade federal. Inclusive com investimentos em manutenção e conservação, já que aquelas localidades próximas à ponte foram diretamente potencializadas com fluxo grande de veículos, com mais de 5 mil caminhões passando diariamente nas rodovias estaduais”, explica o vice-presidente.

Ainda de acordo com o vice-presidente, quatro equipes fazem o trabalho de manutenção e conservação das estradas diuturnamente e outras quatro providenciam a segurança viária da região do Bico do Papagaio, com a utilização de balanças e sinalizações. Contudo, aponta que é necessário a presença de órgãos federais para trabalhar nas condições das vias da região. “Por meio deste termo, o Dnit poderá atuar nas nossas rodovias estaduais, pois oficializa a concessão das nossas estradas para manutenção. A expectativa é que esse documento seja assinado com a máxima urgência possível”, salienta.

Operação tapa-buracos

Sem uma ligação direta entre Tocantins e Maranhão, em Aguiarnópolis, foi necessário criar rotas alternativas, desviando caminhões e outros veículos para cidades tocantinenses vizinhas. Rodovias como a TO-126, que liga Tocantinópolis a Aguiarnópolis; a TO-134, entre Darcinópolis e Axixá do Tocantins; e a TO-201, que conecta Axixá ao distrito de Bela Vista, em São Miguel do Tocantins, são alguns dos trechos que estão como rotas alternativas.

Com a sinalização das novas rotas, o tráfego aumentou em outros trechos da região do Bico do Papagaio. Para garantir a segurança e melhorar as condições de circulação, a Ageto intensificou a operação tapa-buracos, promovendo a recuperação das vias mais impactadas. Todos os trechos sinalizados como rota estão passando por um recapeamento emergencial. A medida visa melhorar a estrutura das estradas que agora recebem um fluxo maior de veículos pesados. No entanto, o esforço unilateral do Estado não está sendo suficiente para equilibrar a crise na região.

Fiscalização

A Ageto intensificou a fiscalização na região, realizando inspeções 24 horas por dia nas rotas alternativas da ponte entre Aguiarnópolis e Estreito, objetivando minimizar danos e garantir a segurança dos usuários, ao preservar condições das rodovias estaduais que não suportam o mesmo volume de tráfego da BR-226.

A Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins (Adapec/TO) também segue com a fiscalização para garantir a preservação do status sanitário do estado nas vias do Bico do Papagaio. O trabalho inclui a averiguação de documentação, a fiscalização de fitas sanitárias e a abordagem de veículos em trânsito na região, em conformidade com as normas de vigilância ativa. Os trabalhos são voltados para a vigilância do transporte de animais e vegetais, com controle rigoroso para evitar a entrada de pragas e doenças que possam impactar a agropecuária local. Barreiras fixas seguem sendo utilizadas como estratégia para impedir a disseminação de possíveis enfermidades no estado.

A Ageto também está operando balanças de pesagem nas rodovias do Tocantins que dão acesso ao Maranhão, reforçando a fiscalização do tráfego de veículos pesados. O equipamento mede o peso de eixo por eixo e calcula o Peso Bruto Total (PBT) do veículo. Com base nos dados registrados, a verificação é realizada no sistema e, caso haja irregularidades, a autuação é feita conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

O limite de peso permitido varia conforme o tipo de veículo, seguindo as especificações da tabela oficial do Dnit. Dependendo do fluxo nas rodovias, entre 50 e 80 veículos são fiscalizados diariamente. Após a pesagem e os possíveis ajustes, os veículos são liberados para seguir viagem.

Luzivaldo Silva é trabalhador autônomo e saiu da capital do Piauí, Teresina, para realizar um concurso público em Palmas. A viagem foi feita no próprio carro do piauiense. “Andei por várias vias e tenho visto bastante atuação aqui no Tocantins”, relata.

Impactos em Aguiarnópolis

Aguiarnópolis foi uma das cidades mais prejudicadas, já que a ponte estava localizada em seu território. A prefeitura da cidade segue acompanhando os esforços conjuntos das administrações municipais e do Governo do Tocantins para minimizar os impactos causados pelo desabamento da ponte. A união entre diferentes pastas estaduais resultou em iniciativas voltadas ao bem-estar da população, como a Feira da Colheita, ocorrida no mês de fevereiro, oferecendo diversos serviços públicos à comunidade.

O prefeito da cidade, Wanderly dos Santos, enfatiza que a parceria com o Governo do Tocantins tem sido fundamental nesse período. “O governador Wanderlei Barbosa autorizou uma força-tarefa com a equipe de governo e parceiros estaduais; e graças a esse apoio, mesmo diante dessa tragédia, conseguimos encontrar caminhos para mudar a situação do município”, pontua o gestor.

População do Bico do Papagaio pede ajuda

O intenso fluxo de veículos tem impactado o cotidiano de cidades que não estavam preparadas para essa demanda crescente. Em Sítio Novo do Tocantins, a cerca de 120 km de Aguiarnópolis, a rotina mudou significativamente com o aumento do tráfego. O município, que possui cerca de 9 mil habitantes, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem recebido diariamente milhares de veículos, principalmente caminhões e outros transportes de carga pesada.

A prefeita do município, Dora Farias, comenta sobre as constantes reclamações dos moradores da cidade, principalmente quando se trata do trânsito na cidade. “O fluxo de veículos aumentou muito, especialmente na avenida principal, onde moram muitas famílias e há diversos comércios. Os moradores reclamam bastante do barulho durante a noite e não é para menos. Segundo relatos, mais de 5 mil veículos passam por Sítio Novo todos os dias. A verdade é que nossa cidade, assim como nenhuma outra da região do Bico do Papagaio, não estava preparada para um tráfego tão intenso, principalmente de veículos pesados. Mas essa é a realidade que estamos enfrentando”, explica a prefeita de Sítio Novo.

A senhora Fátima dos Santos trabalha há 20 anos no seu próprio empreendimento, uma lanchonete que fica na avenida principal da cidade. Ela conta que os moradores estão reclamando bastante, principalmente por conta do trânsito. “A estrutura da cidade não está preparada para isso. Com esse aumento no tráfego, a situação só piorou, as autoridades federais precisam achar uma solução. No trecho entre Sítio Novo e Axixá, o trânsito estava praticamente parado, com uma fila enorme de carros, além disso está muito perigoso para quem dirige carro pequeno e também pedestres”, desabafa a comerciante e moradora de Sítio Novo.

A cidade de Axixá do Tocantins, localizada a cerca de 15 km de Sítio Novo, também enfrenta os impactos do aumento do tráfego de veículos pesados na região. Com mais de 10 mil habitantes, segundo dados do IBGE, o município tem, na agricultura familiar e no comércio, suas principais atividades econômicas, setores que agora lidam com os desafios causados pela intensa movimentação nas vias locais.

Antônio Ferreira Lima é um exemplo de comerciante que está tentando driblar a situação. Há 25 anos a frente de um açougue na avenida Elza Leal, sendo esta a principal via da cidade de Axixá, ele conta que as vendas caíram 40% depois que a rotina da cidade foi mudada pelo tráfego de veículos. “Muitas vezes, as carretas ficam paradas por muito tempo, impedindo que os clientes consigam estacionar e acessar os comércios. O Dnit já passou por aqui para avaliar a situação, mas nada fez efetivamente, até o momento só estamos vendo o Estado com ações concretas”, comenta o açougueiro.

Em São Miguel do Tocantins, a gestão municipal se mobilizou desde o início, articulando com o Governo do Tocantins para lidar com a situação. A cidade, localizada a cerca de 17 km de Imperatriz/MA, já registrava um alto fluxo de veículos na TO-201, uma das principais rotas de acesso à segunda maior cidade do Maranhão. Com a queda da ponte em Aguiarnópolis, o tráfego de veículos pesados aumentou ainda mais, comprometendo a segurança e a infraestrutura viária da região.

O secretário de Administração de São Miguel do Tocantins, Valnei Monteiro, ressaltou que uma audiência pública foi realizada em Brasília/DF, com a presença do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa; do governador do Maranhão, Carlos Brandão; do ministro dos Transportes, Renan Filho, e da bancada federal, mas que até o momento a gestão federal não atendeu ao município. “Estamos no aguardo e esperando que algo seja feito por parte do governo federal, mas, infelizmente, a situação só tem piorado no último mês. O trânsito aumenta a cada dia e o asfalto não está suportando essa demanda, até o momento não tivemos nenhum retorno do Dnit, precisamos desse apoio do governo federal”, explica o secretário.

Morador de São Miguel do Tocantins há 40 anos, João Batista Silva conta que desde dezembro a situação vem piorando no município, por conta do trânsito nas vias da cidade. “A gente está vendo as estradas se acabando aos poucos, porém eu não vejo ninguém do Dnit na nossa cidade, que fica do lado do Maranhão, o que faz com que o trânsito seja ainda mais intenso”, relata o aposentado de 62 anos.

Paulo Oliveira, que trabalha como ajudante de obra e conhece bem os trâmites de uma reforma, conta que o trânsito aumentou bastante e que não existe movimentação do governo federal para reparar os danos nas vias. “Não vi até agora ninguém dos órgãos federais nas vias de São Miguel. E a situação aqui só piora”, acrescenta.

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