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Endividamento do agronegócio: números reais de uma crise que não pode ser ignorada

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Locomotiva da economia nacional e responsável direto pelo equilíbrio da balança comercial, o agronegócio brasileiro enfrenta uma das crises mais graves de sua história recente. O endividamento formal dos beneficiários de crédito rural alcançava R$ 744,1 bilhões em outubro de 2024, o que correspondia a 13,2% de todo o crédito do sistema financeiro nacional, segundo o Banco Central. Para agravar, a inadimplência na linha rural atingiu 4,4% em julho de 2025, a maior já registrada, sinalizando a deterioração da capacidade de pagamento e a retração do crédito.

No mercado de capitais, o quadro é ainda mais alarmante. De acordo com o Boletim de Finanças Privadas do Agro, os títulos privados do agronegócio (CPR, LCA, CRA, CDCA e Fiagros) somavam R$ 1,370 trilhão em estoques até agosto de 2025, um crescimento de 23,7% em apenas 12 meses. O maior avanço veio das Cédulas de Produto Rural (CPR), que saltaram de R$ 397 bilhões para R$ 522 bilhões, distribuídos em 383 mil certificados. As Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) atingiram R$ 608,8 bilhões, alta de 25% no ano. Os CRAs totalizaram R$ 162,7 bilhões e os Fiagros movimentaram mais de R$ 43 bilhões em patrimônio líquido.

Esses números significam que uma parte cada vez maior do endividamento rural está lastreada em títulos negociados no mercado financeiro. O risco da inadimplência não recai apenas sobre bancos públicos e privados, mas sobre todo o sistema que securitizou essas dívidas. Trata-se de uma exposição sistêmica: se a inadimplência se agravar, a crise ultrapassará os limites da porteira e atingirá o coração do sistema financeiro.

Não é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma crise dessa natureza. Nos anos 1980 e 1990, o crédito rural entrou em colapso com planos econômicos fracassados, inflação descontrolada e contratos inviabilizados por indexadores caóticos. Foi necessário recorrer a medidas drásticas, como a Lei nº 9.138/1995, que promoveu a securitização das dívidas para evitar a falência em massa do campo. A diferença é que, hoje, o gatilho não é somente a macroeconomia inflacionária, mas a combinação de custos de produção crescentes, retração dos preços das comodities agrícolas e eventos climáticos extremos.

Ignorar essa realidade é brincar com fogo. O produtor rural, que responde pelo cumprimento de rígida legislação, se arrisca em uma loteria a céu aberto, financia a própria atividade muitas vezes a juros extorsivos e se vê impotente diante da natureza e dos preços, acaba sendo esmagado por um sistema que exige cada vez mais e oferece cada vez menos. Enquanto isso, a indústria de crédito multiplica títulos e securitizações, alimentando a engrenagem que pode fazer implodir não apenas o campo, mas a economia nacional.

O que fazer diante dessa crise? A resposta exige pragmatismo. Não se pode recorrer a moratórias generalizadas que corroem a credibilidade do país, mas também não é admissível abandonar milhares de famílias à insolvência. É preciso uma renegociação segmentada, que considere regiões e culturas específicas, programas de seguro agrícola robustos, acessíveis, diplomacia afiada para buscar novos mercados e saber negociar com prudência quando a situação assim exigir.

Além disso, é urgente recuperar a previsibilidade contratual e a segurança jurídica. Contratos não podem ser reféns de decisões políticas casuísticas, pois cada intervenção mal calibrada eleva o risco e afasta investidores. A agricultura precisa de regras estáveis, crédito transparente e políticas que fortaleçam a governança, não que a fragilizem.

O agronegócio brasileiro continua sendo essencial, mas carrega hoje um fardo pesado demais. Um endividamento de mais de R$ 1,3 trilhão, uma inadimplência recorde e um drama humano crescente no campo formam um quadro que exige ação imediata. O preço da inação não será pago apenas em balanços negativos de bancos ou em estatísticas frias do Banco Central. Será pago na mesa do consumidor, no desemprego, na perda de competitividade internacional e, acima de tudo, nas vidas que se apagam no silêncio das propriedades rurais.

O futuro do agro e do Brasil depende da coragem de enfrentar esse problema com seriedade e da capacidade de oferecer soluções que resgatem não apenas a saúde financeira do setor, mas também a dignidade daqueles que o sustentam.

 

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