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Em carta, mais de 300 diplomatas criticam Araújo e pedem mudanças

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Em carta apócrifa que circula dentro do ministério das Relações Exteriores, mais de 300 diplomatas pedem mudanças na condução da política externa brasileira, que tem causado, em sua visão, problemas diplomáticos e piorado a pandemia da covid-19.

Na última semana, o Brasil atingiu a marca de 300 mil mortes devido à doença. 

As críticas dos diplomatas se somam à do Congresso Nacional, que já “pediu a cabeça” do ministro ao presidente Jair Bolsonaro, que ainda resiste em fazer a mudança.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou, em uma reunião fechada, uma gestão mais incisiva do Itamaraty para facilitar a chegada de vacinas e insumos — depois, em plenário, reafirmou a necessidade de “boas relações diplomáticas” com a China, país com quem o chanceler não mantém boas relações.

Nesta quinta, dia 25, Araújo foi até a residência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para explicar sua estratégia a respeito do posicionamento do Brasil no cenário internacional.

Na carta, os diplomatas afirmam que a gestão de Araújo rompeu com tradicionais do Itamaraty, com preceitos da Relações Internacionais, o que tem gerado prejuízos para o país. 

Os prejuízos iriam desde a falta de vacinas para a imunização da população contra a covid-19 a prejuízos à imagem do Brasil no longo prazo.

Leia a carta na íntegra

“Brasília, 27 de março de 2021

Nos últimos dias, o Brasil superou a trágica marca de 300 mil mortes por covid-19, tendo o papel do Itamaraty na resposta à pandemia ganhado grande relevância no debate nacional. 

Neste momento, às vésperas da celebração do dia do diplomata, não há o que se comemorar. Pelo contrário, nunca foi tão importante reafirmar os preceitos constitucionais que balizam as Relações Internacionais da República Federativa do Brasil definidos no artigo 4 da Constituição de 1988, assim como as melhores tradições do Itamaraty.

Historicamente, a política externa se caracterizou por pragmatismo e profissionalismo. O corpo diplomático, formado por concurso público desde 1945 sempre investiu no diálogo respeitoso e construtivo com interlocutores internos e internacionais, com a imprensa e o parlamento. 

A constituição de 1988 consagrou princípios fundamentais pelos quais nossa diplomacia deve guiar-se, entre eles a independência nacional, prevalência dos Direitos Humanos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. 

Nos últimos dois anos, avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo com os códigos mais elementares da prática diplomática. O Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série de incidentes diplomáticos com graves prejuízos para as Relações Internacionais e a imagem do Brasil.

A crise da covid-19 tem revelado que equivocados na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos como a falta de vacina, de insumos e a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país.

Nesse contexto, e diante da gravidade do momento, sentimos ser nosso dever complementar os alertas emitidos pela academia, pelo empresariado, pelos movimentos sociais, por prefeitos, governadores e Congresso Nacional a respeito dos graves erros na condução da política externa atual.

Nunca foi tão importante apelar à mudança e à retomada das melhores tradições do Itamaraty e dos preceitos constitucionais, conquistas da nossa sociedade e instrumentos indispensáveis para a promoção da prosperidade, justiça e independência em nosso país.

Essa carta foi elaborada por diplomatas da ativa, que não podem assiná-la como desejariam em razão de dispositivos da lei do serviço exterior, que a propósito, deveriam ser reexaminados por conta de sua flagrante inconstitucionalidade. 

Esperamos com essas reflexões oferecer mais elementos para que as necessárias e urgentes mudanças na condução da política externa ganhem maior apoio na sociedade, contribuindo assim para os esforços de superação das crises sanitária, econômica, social e política enfrentada pelo Brasil.”BRASIL

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