Dólar dispara e fecha acima de R$ 5, na 1ª alta semanal em um mês
O dólar terminou em forte alta ante o real nesta sexta-feira (12), que fez a moeda acumular valorização também na semana, conforme operadores voltaram do feriado ajustando os preços ao súbito nervosismo nos mercados externos na véspera por renovados temores sobre o novo coronavírus e a economia global.
Os mercados financeiros no Brasil permaneceram fechados na quinta-feira pelo feriado de Corpus Christi.
As praças internacionais até se recuperaram nesta sexta, mas não sem intensa volatilidade, o que acabou respaldando a alta do dólar ante o real.
O dólar à vista subiu 2,14%, a R$ 5,0454 na venda. É a maior valorização percentual diária desde 7 de maio (+2,39%).
Denunciando a volatilidade, a moeda chegou a subir para R$ 5,0950 nesta tarde, valorização de 3,14%. A cotação operou abaixo de R$ 5 no meio da manhã, depois de bater R$ 5,1130 logo após o início dos negócios, salto de 3,51%.
O real liderou com folga as perdas entre as principais moedas nesta sessão, em ajuste depois de, feriado no Brasil na véspera, os mercados financeiros globais serem golpeados por uma onda de aversão a risco por temores de ressurgência de casos de Covid-19 e pela avaliação sombria do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), emitida na quarta-feira (10). Nesta sexta o Fed afirmou ver “fragilidades persistentes” para famílias e empresas e esperar forte queda do PIB norte-americano neste trimestre.
“O Fed deu um choque de realidade nos mercados”, disse Fernando Bergallo, sócio da FB Capital. “Não foi nada que os mercados não soubessem, mas as avaliações ganharam outro peso por saírem ‘da boca’ do Fed”, completou.
O dólar apreciava contra uma cesta de moedas, enquanto divisas emergentes e correlacionadas às commodities – que mais cedo mostraram recuperação após a liquidação da véspera – passaram a cair ou se afastaram das máximas da sessão.
Na semana, o dólar ganhou 1,16%, após três semanas consecutivas de queda. A recuperação da moeda norte-americana dá sequência ao que parece ser uma correção depois de semanas de firmes quedas e corrobora leituras de que o espaço para mais apreciação cambial pode ser limitado.
O dólar caiu 17,73% ante o real entre a máxima recorde de 13 de maio e a mínima recente de 8 de junho. Até 13 de maio, quando bateu R$ 5,9012, a cotação acumulava no ano alta de 47,06%.
Para Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do ING, o real até pode estender “um pouco” a recente valorização, mas será difícil para a moeda operar abaixo de 4,50 por dólar, conforme a “profunda” recessão mantém riscos fiscais “elevados” no segundo semestre de 2020.
O que ainda joga a favor de apreciação extra para o real, segundo Rangel, é a expectativa em torno da política monetária.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos próximos dias 16 e 17 de junho para decidir sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic.
A estimativa do mercado com base em indicações do próprio BC é de novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, para mínima recorde de 2,25% ao ano. A dúvida é se o colegiado deixará a porta aberta para mais afrouxamento.
Há quem veja no mercado Selic abaixo de 2% até o fim do ano, mas o ING enxerga o juro se estabilizando em 2,25% num futuro “previsível”.
A queda da taxa de juros é citada como fator que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados.
Na avaliação de Bergallo, da FB Capital, o dólar ainda parece “caro” ante o real por métricas como conta corrente, risco-país e diferencial de juros, com sobrepreço da ordem de 10%. Mas ele ponderou que isso diz pouco sobre o desempenho da moeda no curto prazo.
“O real está barato, e pode continuar barato, pode muito bem não convergir agora”, disse, citando o lado fiscal do Brasil como o “grande problema”.
Com a alta desta semana, o dólar reduziu a queda em junho para 5,52%. No ano, a moeda salta 25,73%.