Debate sobre vacina na rede privada é só no Brasil
O debate no Brasil sobre se as redes particulares deveriam oferecer a vacina da covid-19 é incomum no exterior por enquanto. É o que afirmou Mariângela Simão, brasileira que é diretora de Acesso a Medicamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), que descreveu a situação brasileira como “peculiar”.
“Em todos os países em que a OMS vem trabalhando, a gente está verificando que as compras estão sendo feitas pelo governo, e não pela iniciativa privada”, afirmou Simão em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira, 6. “A informação que a OMS trabalha é que a imensa maioria da produção que está sendo feita nesse momento está comprometida com compras governamentais.”
Nesta semana, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) divulgou plano de comprar 5 milhões de doses da Covaxin, vaciana do laboratório indiano Bharat Biotech. Uma expectativa é que os imunizantes seriam oferecidos em clínicas parceiras na rede privada em março, após aprovação da Anvisa — a Covaxin recebeu aprovação emergencial na Índia, mas antes do fim da fase de testes. Possíveis valores também não foram divulgado.
Ainda não está claro se uma importação para uso exclusivo na rede privada seria autorizada pelo Ministério da Saúde, ou mesmo se a Bharat Biotech de fato venderá os imunizantes em uma quantidade considerada pequena. No geral, os laboratórios desenvolvendo vacinas têm feito acordos de centenas de milhões e até mais de 1 bilhão de doses com governos mundo afora.
“A situação do Brasil ainda é bastante peculiar. Acho que ainda tem que verificar melhor qual é o quantitativo, quando é que [a Covaxin] viria, se essa vacina vai ser autorizada pela Anvisa ou não”, disse Simão, da OMS.
Diante dos planos da iniciativa privada, o Ministério da Saúde informou na segunda-feira, 4, que as clínicas particulares também teriam de seguir a ordem dos grupos prioritários do plano nacional de imunização, isto é, começar a vacinação com grupos prioritários.
Dentre os especialistas de saúde que comentaram sobre o tema nesta semana, há opiniões divididas, mas algum consenso de que, se as vacinas forem oferecidas na rede privada, os grupos prioritários deveriam ser cumpridos.