Coronavírus: aumento de casos na Alemanha e Coreia do Sul põe em dúvida volta à normalidade pós-isolamento
Novos casos de coronavírus começam a pôr em dúvida o retorno à normalidade em países que recentemente flexibilizaram as medidas de isolamento social, como Alemanha e Coreia do Sul, levantando temores sobre uma segunda onda de infecções.
Já Wuhan, cidade chinesa onde o vírus foi detectado pela primeira vez, informou que registrou o primeiro caso em semanas.
Na França, onde o confinamento começaria a ser flexibilizado a partir desta segunda-feira (11/05), as autoridades anunciaram a descoberta de pelo menos nove casos relacionados a um funeral em Dordogne, no sudoeste do país.
E no Irã, uma Província voltou a decretar o confinamento de sua população após registrar um aumento acentuado no número de pacientes com o vírus.
Os novos casos ilustram as dificuldades que governos de todo o mundo devem enfrentar nos próximos meses.
‘Infecções em alta’
Na Alemanha, segundo o Instituto Robert Koch (RKI), a taxa de reprodução — o número estimado de pessoas que um portador de coronavírus pode infectar — voltou a superar 1.
Isso significa que o número de infecções está aumentando no país.
O relatório foi divulgado quando milhares de alemães protestavam, no último sábado, pedindo o fim das duras medidas de isolamento social.
Poucos dias antes, na quarta-feira, a chanceler Angela Merkel anunciou uma ampla flexibilização das restrições nacionais, após conversas com os líderes dos 16 Estados da Alemanha.
Lojas vão poder reabrir, alunos voltarão gradualmente às aulas e a Bundesliga — a principal liga de futebol da Alemanha — será reiniciada neste próximo fim de semana.
Mas houve protestos em todo o país, com muitos manifestantes pedindo mais velocidade na flexibilização.
A Alemanha tem o sétimo maior número de casos confirmados no mundo. São 169.218 casos confirmados e um número de mortes superior a 7 mil.
Incerteza
A taxa de reprodução é uma maneira de avaliar o grau de contágio de uma doença. Não é um número fixo porque varia à medida que nosso comportamento muda ou à medida que a imunidade de uma população se desenvolve.
Trata-se de uma das três medidas importantes para monitorar um surto, sendo as demais a gravidade dos sintomas e o número de casos.
O relatório da agência de saúde pública da Alemanha, divulgado no sábado, informou que o número de reprodução foi estimado em 1,1. No domingo, essa taxa subiu para 1,13. O número havia ficado abaixo de 1 na maior parte das últimas três semanas.
A agência disse que essa estimativa envolve “um certo grau de incerteza”, e a taxa deve ser observada de perto nos próximos dias.
Ainda não foi possível avaliar “se a tendência decrescente no número de casos de incidentes observados nas últimas semanas continuará ou se os números de casos aumentarão novamente”, acrescentou.
A Alemanha ganhou elogios por sua resposta à pandemia. Testes em massa e restrições eficazes à circulação de pessoas ajudaram a manter o número de mortos muito menor do que em outros países europeus.
Mas alguns criticaram a decisão de Merkel de relaxar essas medidas depois de falar com os chefes dos Estados na quarta-feira.
A chanceler impôs um “freio de emergência”, exigindo que as autoridades locais restabelecessem restrições se os casos ultrapassarem o limite de 50 por 100 mil pessoas.
Foi o que aconteceu nos Estados da Renânia do Norte-Vestfália e de Schleswig-Holstein, que registraram surtos em fábricas de processamento de carne.
E um distrito no Estado da Turíngia registrou mais de 80 infecções por 100 mil pessoas — que se acredita estarem ligadas a surtos em unidades de saúde.
Enquanto alguns temem que o país esteja abrandando suas restrições muito cedo, outros protestam contra a continuidade do isolamento social.
No sábado, milhares de pessoas se reuniram em importantes cidades do país — incluindo Berlim, Frankfurt, Munique e Stuttgart — para reivindicar a flexibilização das medidas.
Autoridades de Berlim prenderam cerca de 30 pessoas do lado de fora do Parlamento por não obedecerem às medidas de distanciamento social. Alguns manifestantes jogaram garrafas em direção à polícia.
Grupos de direita e teóricos da conspiração também participaram de alguns dos protestos.
Contágio em casas noturnas
Na Coreia do Sul, 34 novos casos de coronavírus foram confirmados, o maior número diário em um mês.
Desses novos casos, anunciados no domingo, 26 foram infecções transmitidas internamente e oito foram importados, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC).
Foi o número mais alto registrado em um só dia desde 9 de abril. Depois de ter sido o primeiro país a combater a pandemia fora da China, a Coreia do Sul registrou zero ou muito poucos casos domésticos nos últimos 10 dias, com a contagem diária pairando em torno de 10 ou menos nas últimas semanas.
O ressurgimento ocorreu após um homem em torno de 20 anos ter visitado várias casas noturnas em uma mesma noite antes de ser diagnosticado com o coronavírus.
O surto levou a cidade de Seul a impor uma paralisação temporária imediata de todas as atividades de entretenimento noturno no sábado.
As autoridades disseram que estão buscando localizar 1,5 mil pessoas que foram às boates. Pediram também que qualquer que tenha ido a esses locais se isole por 14 dias e realize um teste para confirmar seu diagnóstico.
Os novos casos ocorrem em um momento em que a Coreia do Sul começava a flexibilizar algumas restrições de isolamento social, buscando reabrir totalmente escolas e empresas.
O presidente Moon Jae-in alertou para uma segunda onda da epidemia no final deste ano, dizendo que o novo surto evidencia os riscos de que o vírus possa se espalhar amplamente a qualquer momento.
“Não acabou até acabar. Nunca devemos baixar nossa guarda em relação à prevenção de epidemias “, disse ele em um pronunciamento na TV marcando o terceiro aniversário de sua posse.
“Estamos em uma guerra prolongada. Peço a todos que cumpram as precauções e regras de segurança até que a situação termine, mesmo depois de retomar a vida cotidiana.”
Testes em massa e rastreamento de contatos de pacientes infectados ajudaram a quarta maior economia da Ásia a conter a epidemia em grande parte sem recorrer ao confinamento generalizado de sua população.
No Irã, a Província do Khuzistão teve de confinar novamente sua população, segundo a agência de notícias Tasnim.
De acordo com o governador da Província, Gholamreza Shariati, as pessoas não estavam cumprindo as regras de distanciamento social após a flexibilização das medidas.
“Por causa disso, o número de pacientes com coronavírus triplicou e a internação de pacientes aumentou 60%”, disse Shariati.
O Irã, um dos países do Oriente Médio mais atingidos pela covid-19, começou a retomar a normalidade para tentar reavivar sua economia, já duramente afetada pelas sanções dos EUA.