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Contratações sem olho no olho desafiam setor financeiro

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Quentin Marshall contratou três pessoas nos últimos dois meses. Nenhuma delas ele conheceu pessoalmente.

Contratar durante uma pandemia exige “romper muitos preconceitos sobre como fazer as coisas”, disse Marshall, responsável por private banking no banco britânico Weatherbys.

Outros vão pelo mesmo caminho. Felipe Guerra, diretor de investimentos da Legacy Capital, fechou a contratação de quatro pessoas recentemente pelo Zoom, apesar de haver se encontrado com os candidatos antes das medidas de isolamento social.

Jeanne Branthover, sócia-gerente e responsável global pela prática de serviços financeiros da DHR International, concluiu recentemente quatro processos de seleção de executivos em que clientes e candidatos nunca se encontraram, embora em um caso tenham almoçado juntos – virtualmente.

Medidas de isolamento social devido ao coronavírus deixaram milhões de pessoas sem trabalho globalmente e levaram muitas empresas a congelar as contratações. Cerca de 60% das companhias que responderam a uma pesquisa realizada em abril pela consultoria organizacional Korn Ferry disseram que decidiram adiar as contratações.

Ainda assim, algumas empresas de serviços financeiros aproveitam o momento para preencher cargos-chave e fortalecer os negócios. A Fidelity Investments e a Fifth Third Bancorp iniciaram uma “onda de contratações” nas últimas semanas, segundo a Korn Ferry. Mais de 100 pessoas começaram a trabalhar no hedge fund Millennium Management, de Izzy Englander, desde março, enquanto a ExodusPoint Capital, de Michael Gelband, contratou 20 gestores de recursos neste ano.

Os métodos de recrutamento das empresas variam, mas oferecem um vislumbre das maneiras pelas quais a pandemia pode transformar tradições e práticas estabelecidas há muito tempo quando se trata de contratar funcionários. Não que o processo seja necessariamente mais rápido. Para novos empregados, a contratação remota é geralmente mais exaustiva.

“Mais agora”

“Tudo é mais agora – mais reuniões virtuais do que pessoalmente, mais checagem de referências, mais uso de ferramentas de avaliação”, disse Jeanne, cuja jornada agora se estende das 7h até 1h da madrugada. Ela precisa preparar mais as pessoas para entrevistas e ajudar clientes para que o processo funcione virtualmente.

Ferramentas de avaliação como o teste Hogan Personality Inventory – que avalia como alguém se relaciona com outras pessoas – se tornam mais críticas quando empregadores não podem se encontrar frente a frente com candidatos, disse. “Isso dá ao cliente outra validação de que esta é a pessoa certa”, disse. “Dá uma ideia se encaixam em sua cultura, se lidam bem com o estresse.”

Alguns clientes têm usado entrevistas por vídeo com o objetivo de pré-selecionar candidatos para quando seja possível encontrá-los pessoalmente, disse Paul Westall, cofundador da empresa de recrutamento de family office Agreus Group. Empregadores no centro de Londres e Nova York estudam usar espaços ao ar livre onde possam sentar e se encontrar com candidatos, mantendo o distanciamento social, disse.

Ainda assim, o recrutamento remoto continua sendo a exceção. A empresa de pesquisa FPIA Partners, que contrata analistas e gestores para fundos de renda variável, registrava o mês de maior movimento no início de março antes da implementação das medidas de isolamento.

Grupo mais amplo

O ambiente atual pode facilitar alguns fatores no processo de contratação. Guerra, da Legacy, antes evitava almoçar com alguns candidatos no centro financeiro de São Paulo para que não fossem vistos pelos atuais empregadores. A videoconferência eliminou essa preocupação.

Marshall, do Weatherbys, disse que a entrevista por telefone certa pode ser mais imparcial e focada do que um encontro cara a cara, e a entrevista remota pode ampliar o grupo de possíveis candidatos.

Ainda assim, preencher uma posição remotamente pode ser apenas o começo do desafio.

“Contratar pessoas por vídeo não é necessariamente a parte mais estranha”, disse Guerra. “O que é diferente é que você começa a trabalhar com alguém sem realmente ver a pessoa ou levá-la ao escritório.”

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