Coluna Poder Local: Pequenos municípios, grandes soluções: três caminhos que o Prefeito pode seguir para destravar o desenvolvimento local
Por anos, cidades de pequeno porte ficaram à margem das grandes discussões sobre economia. Mas a lógica está mudando. Em 2025, especialistas e órgãos internacionais reafirmam: o futuro de boa parte do crescimento brasileiro pode estar justamente nessas localidades, desde que a gestão pública saiba explorar três engrenagens essenciais: vocação regional, identidade territorial e fluxo de consumo local.
E não é teoria solta. Essas diretrizes estão na agenda de organismos como a OCDE, que defende políticas place-based — estratégias que nascem das características de cada território — e nas ações de programas nacionais como o Mapa do Turismo Brasileiro e o Cidade Empreendedora, do Sebrae.
Cada cidade tem um DNA econômico. Pode ser a força da agricultura, o potencial turístico, uma indústria nascente ou a produção artesanal. Identificar esse “caminho natural” é a primeira etapa para atrair investimentos consistentes.
A OCDE lembra que estratégias territoriais elevam a competitividade quando envolvem governo, empresas e comunidade na mesma mesa de decisões. No Brasil, o Novo PAC Seleções 2025 abriu editais que priorizam projetos alinhados a vocações regionais.
Elaborar diagnósticos rápidos com dados do Censo e da RAIS para identificar setores fortes; criar um comitê local de desenvolvimento econômico; e conectar propostas municipais a linhas de investimento federais e estaduais. Esse é o primeiro caminho para identificar a Vocação Regional do seu município, ou seja, apostar no que o município já sabe fazer bem.
O segundo caminho trata-se da Identidade Regional, que é o ativo econômico do município. Não é apenas sobre ter um logo bonito ou um slogan turístico atrativo. Identidade Regional é uma estratégia de desenvolvimento. Pesquisas em place branding mostram que territórios com marca clara atraem visitantes, investidores e reforçam o orgulho local. É um processo de posicionamento de um território, usando os saberes e produtos de diversas localidades, usando a cultura, a história, a economia e a paisagem para gerar reconhecimento e orgulho interno e atração externa. Exemplo? O programa Minas Junina 2025 que mobilizou mais de 400 municípios em festas juninas, unindo cultura, turismo e arrecadação via ICMS Cultural.
O terceiro caminho é estabelecer um Fluxo de Consumo Local, fazer o dinheiro circular dentro do município. Ampliar receita é bom, mas retê-la é vital, por que gera investimentos. Estudos sobre o “efeito multiplicador local” mostram que cada real gasto em negócios da cidade circula mais vezes antes de sair, gerando emprego e arrecadação.
Ferramentas como a plataforma Contrata+Brasil aproximam prefeituras e micro e pequenas empresas, garantindo que parte significativa das compras públicas fique com negócios locais.
Implementar políticas de compras locais dentro dos limites legais; capacitar empreendedores para participarem de licitações; e criar pacotes de consumo em parceria com hotéis, restaurantes e atrativos turísticos.
Segundo o Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal 2025, quase 60 milhões de brasileiros vivem em cidades com desenvolvimento baixo ou crítico. Para essas localidades, direcionar vocação, identidade e consumo local é uma estratégia para a promoção de uma política social e econômica de primeira necessidade.
Como resume um prefeito sobre desenvolvimento local: “Quando a gente fortalece o que é daqui, todo mundo ganha. O turista leva lembrança, o produtor vende mais, a prefeitura arrecada e o jovem pensa duas vezes antes de ir embora”.
Carlos Assis
Mestre em Desenvolvimento
Regional (UFT), especialista em Políticas Públicas para MPES
(Unicamp), contador e empresário.
Foi secretário de Finanças de Palmas, diretor do SENAI
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