Coluna “Opinião com Fundamento”- Tocantins: Vinte Anos de Interrupções e a Urgência de uma Nova Política
O Tocantins, Estado jovem, criado com esperança de renovação política e de desenvolvimento acelerado, vive mais uma vez um episódio que envergonha a sua história recente. O afastamento do governador pelo Superior Tribunal de Justiça, por acusações de corrupção, expõe um dado incômodo: já são 20 anos sem que um governador eleito consiga concluir o mandato sem ser interrompido pela Justiça. É um ciclo de instabilidade que mina a confiança da população, desestrutura a administração pública e, sobretudo, afasta o investimento privado.
O preço da instabilidade
Investidores não aplicam capital em solo onde o terreno político é movediço. O Tocantins precisa urgentemente de políticas públicas robustas de infraestrutura e de incentivos sociais que atraiam novos negócios. Mas de que adianta planejar rodovias, energia ou programas de incentivo, se quem governa o Estado dificilmente permanece para cumprir o que promete?
A insegurança política, mais do que o custo logístico ou a distância dos grandes centros, é o fator que mais pesa contra o Tocantins nesse momento.
O desafio de formar lideranças íntegras
Há uma questão que vai além das acusações individuais: o que falta à sociedade tocantinense para produzir lideranças imunes à tentação de usar o poder para fins incriminadores?
Aristóteles já nos ensinava que “o homem prudente não é aquele que apenas conhece o bem, mas aquele que o pratica”. No Tocantins, não basta termos candidatos com bons discursos — precisamos de líderes capazes de transformar virtude em prática diária de governo.
E aqui surge outra verdade incômoda: quem lida com o erário público não basta ser honesto — é preciso parecer honesto. Como bem lembrou Maquiavel, “os homens julgam mais pelos olhos que pelas mãos, porque todos podem ver, mas poucos podem tocar”. A imagem pública de um governante, a coerência entre palavra e gesto, é tão essencial quanto a honestidade em si. Sem essa percepção, a confiança se esvai e a sociedade adoece em ceticismo.
A armadilha da descrença
O maior risco que corre o Tocantins não é apenas o desvio de recursos, mas o desvio de esperança. Quando a população passa a acreditar que todos os políticos são iguais, abre-se espaço para o imobilismo ou para aventuras populistas que pouco contribuem para o desenvolvimento.
E um Estado jovem como o nosso, ainda em pleno processo de consolidação institucional, não pode se dar ao luxo de repetir eternamente os mesmos erros.
Conclusão
O Tocantins precisa romper o ciclo. Para isso, é necessário que a sociedade cobre, que as instituições funcionem com transparência e que novas lideranças surjam com coragem para governar não como donos do Estado, mas como servidores dele.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos reféns da insegurança política, da instabilidade administrativa e da descrença coletiva. E sem confiança, não há desenvolvimento, não há investimento, não há futuro.
Por Roger Sousa Kühn, Advogado, Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais
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