Em 2021, a Rússia aumentou em mais de um quarto as importações do produto brasileiro, com isso gerando incremento de quase 54% na receita cambial. Foi nosso décimo principal mercado externo, respondendo por mais de 2% do volume e da receita cambial do setor.
A Ucrânia – que hoje, segundo o USDA, integra o grupo dos 10 maiores exportadores mundiais de carne de frango, colocando-se na sexta posição, à frente da China – tem, por essa razão, pequena participação nas exportações brasileiras. Mas ainda que em 2021 tenha sido apenas o 92º maior importador da carne de frango do Brasil, registrou, no ano, aumento de mais de 512% no volume adquirido e de 665% na receita cambial.
Oportuno inserir nesse grupo também Belarus – cujo território está servindo de acesso russo à Ucrânia – e tem-se, entre os três países, receita cambial próxima de US$170 milhões, aparentemente a mais sujeita a risco no momento.
Mas, independente das medidas que venham a ser adotadas pelo Brasil em relação à atitude russa, o que está em jogo é um mercado muitíssimo maior. Porque toda a logística de atendimento do Leste europeu está prejudicada. Assim, opostamente ao que ocorreu em 2020 (quando se confirmou a pandemia e os mares ficaram vazios), o que acontece agora são verdadeiros congestionamentos marítimos, sobretudo nos pontos mais próximos de acesso à região, o que prejudica o atendimento de vários outros países.
Espera-se que o bom senso prevaleça e que tudo comece a voltar ao normal o mais rápido possível, mesmo porque o mundo todo está sendo afetado. De toda forma, prevalece a percepção de que, plena ou parcialmente, o comércio de alimentos, ainda que enfrentando os percalços do conflito, será mantido.
Indicação nesse sentido, por exemplo, foi dada ontem (2) pelas duas maiores empresas de navegação marítima do mundo, Maersk e MSC. Ambas anunciaram que, aderindo à série de restrições já impostas por outros países à Rússia, suspenderam seus serviços marítimos em território russo. Mas excluem dessa medida o transporte de alimentos, produtos médicos e humanitários.
Ou seja: ainda que possam perdurar, os efeitos sobre a carne de frango e outros alimentos devem ser menores do que sobre as commodities não alimentares.