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Brasil à Deriva: Déficits, Endividamento das Famílias, Aumento da População em Situação de Rua, Déficit das Estatais e o Campo em Colapso

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O Brasil chega a 2025 com um cenário que mistura pessimismo popular e realidade fiscal insustentável. A mais recente pesquisa AtlasIntel aponta que 49% dos brasileiros acreditam que a economia vai piorar nos próximos seis meses, enquanto apenas 36% esperam melhora e 15% apostam em estabilidade. Mais da metade já classifica a economia como “ruim”, e 21% a colocam entre os cinco maiores problemas do país. Não se trata de mero desalento coletivo, mas da percepção concreta de um país em crise profunda.

Esse pessimismo encontra eco nos números oficiais. Em julho, o governo federal registrou um déficit primário de R$ 59,1 bilhões, o segundo maior da história para esse mês, só atrás de 2020, no auge da pandemia. O setor público consolidado, que inclui União, estados, municípios e estatais, também apresentou um rombo de R$ 66,6 bilhões, novamente superado apenas pelo colapso de 2020. Para agravar o quadro, as estatais federais acumulam em 2025 um déficit de R$ 55 bilhões. Esses números, que parecem distantes do dia a dia do cidadão, se traduzem em juros mais altos, cortes de investimentos e um Estado cada vez mais caro e ineficiente. Em outras palavras: o governo arrecada como nunca, mas devolve cada vez menos em serviços mínimos de qualidade.

Se as contas públicas sangram, no bolso do cidadão o impacto é ainda mais cruel. O Brasil atingiu mais de 71 milhões de inadimplentes, o equivalente a quase 43% da população adulta. Em junho deste ano, o SPC Brasil registrou que quase metade da população economicamente ativa convive com dívidas em atraso. O crédito, que deveria impulsionar o consumo e estimular o crescimento, virou armadilha de inadimplência. Muitas famílias recorrem ao parcelamento não para comprar bens duráveis, mas para pagar contas básicas, como luz e alimentação.

A tragédia social se escancara nas ruas. Em menos de dois anos, o número de brasileiros em situação de rua dobrou, saltando de cerca de 160 mil para 345 mil pessoas vivendo sem teto. Trata-se de um dado brutal: em um país que se orgulha de ser uma das maiores economias do mundo, milhões não têm sequer onde morar. A face mais dura da desigualdade aparece quando a arrecadação bate recordes, mas a miséria também.

Nem mesmo o agronegócio, tradicionalmente resiliente, escapou do colapso. No primeiro semestre de 2025, produtores rurais pessoas físicas entraram com 700 pedidos de recuperação judicial, contra 320 no mesmo período de 2024, um salto de 45%. Essa estatística é simbólica. O setor que representa quase 30% do PIB nacional e sustenta as exportações do Brasil agora precisa recorrer à Justiça para não perder propriedades e manter a produção. Juros elevados, insumos dolarizados e retração do crédito criam uma tempestade perfeita. Muitos produtores já não conseguem rolar dívidas, financiar a próxima safra ou manter o rebanho. O risco é direto: queda na produção, ameaça à segurança alimentar, ao emprego no campo e à competitividade brasileira no mercado internacional.

O que temos, portanto, é uma engrenagem perversa. De um lado, um Estado deficitário e gastador, que consome recursos bilionários mas não devolve eficiência. De outro, uma sociedade cada vez mais endividada e empobrecida, onde famílias perdem o poder de compra e o direito à dignidade. No campo, produtores são sufocados por um sistema financeiro que cobra caro para emprestar, ao mesmo tempo em que o governo aumenta a carga tributária. E, nas cidades, um contingente crescente de pessoas vive nas ruas, revelando o fracasso da proteção social.

Não se trata apenas de uma crise passageira. É uma crise estrutural, simultânea e profunda, que atinge o Estado, os produtores, empresários e as famílias. O Brasil vive um paradoxo cruel: potência agrícola mundial, mas governada como uma república quebrada. País que está entre os que mais arrecadam impostos no planeta, mas incapaz de oferecer o mínimo de dignidade ao seu povo.

O retrato de 2025 é o de um país à deriva, onde o governo insiste em políticas fiscais insustentáveis, a sociedade afunda em dívidas e o agronegócio pede socorro. A pergunta que resta é inevitável: até quando aceitaremos que a maior nação agrícola do mundo seja conduzida por gestores que transformam o produtor rural em réu, a família em devedora e o cidadão comum em estatística da miséria?

 

Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e  ambiental

@hidekazu.adv

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