De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até 2050, o mundo precisará aumentar em 70% sua produção de alimentos para atender a uma população prevista de 9,8 bilhões de pessoas.
Diante desse cenário desafiador, o Brasil já é protagonista nas exportações agrícolas e tem agora uma oportunidade histórica: dobrar seu Produto Interno Bruto (PIB) e assumir a liderança mundial na produção sustentável de alimentos.
Especialistas apontam que o país ainda dispõe de mais de 90 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser recuperadas para fins agrícolas. Esse processo, se conduzido por práticas sustentáveis e tecnologias modernas, permitirá expandir a produção respeitando os limites da legislação ambiental e fortalecendo a imagem do agronegócio brasileiro no mercado global.
Entre 2022 e 2023, o Brasil já demonstrou que é possível crescer de forma inteligente: a produção agropecuária registrou um aumento de 11,8% na produtividade, com apenas 5% de expansão da área plantada. O segredo desse avanço está na inovação tecnológica, no melhoramento genético, na agricultura de precisão e nas práticas de conservação e recuperação do solo.
Outro pilar fundamental para o crescimento sustentável é a agricultura familiar. Fortalecer programas como o Pronaf, ampliando o acesso a crédito, assistência técnica e inovação, é essencial para combater a fome, gerar empregos no campo e produzir excedentes para exportação.
Quando o pequeno produtor é integrado de forma competitiva à cadeia produtiva, o Brasil não apenas melhora seus indicadores sociais, mas também aumenta sua capacidade de ofertar alimentos de maneira mais distribuída e resiliente.
Outro fator crucial é o alto índice de perdas na cadeia alimentar. Atualmente, cerca de 30% dos alimentos produzidos no Brasil são perdidos antes de chegar ao consumidor final, seja por falhas logísticas, armazenamento inadequado ou desperdício durante o transporte. Reduzir essas perdas é uma estratégia fundamental para ampliar a oferta de alimentos de forma rápida e eficiente.
Investir em infraestrutura de transporte, armazenamento moderno e eficiência logística é tão importante quanto expandir a produção primária. Melhorar essas etapas também impacta positivamente os preços dos alimentos e a renda dos produtores.
A construção desse futuro depende, inevitavelmente, da implementação de políticas públicas estratégicas. A criação de estoques reguladores e o incentivo à soberania alimentar fortalecem a resiliência do sistema agroalimentar nacional, garantindo preços justos aos consumidores e rentabilidade adequada aos produtores rurais.
Essas medidas também protegem o Brasil das oscilações do mercado internacional e proporcionam segurança para investimentos de longo prazo em inovação e tecnologia.
O Brasil enfrenta uma decisão histórica e urgente. Se investir adequadamente na intensificação sustentável, na integração da agricultura, na recuperação de áreas degradadas e na modernização da cadeia alimentar, poderá dobrar seu PIB e consolidar-se como o principal celeiro do mundo.
A janela de oportunidade não permanecerá aberta indefinidamente: o mundo já busca soluções para garantir a segurança alimentar.
O momento de agir é agora. Com planejamento estratégico, inovação e compromisso, o Brasil pode liderar a próxima revolução agrícola, alimentar bilhões de pessoas e alcançar um protagonismo global sem precedentes.
O futuro da segurança alimentar depende dos nossos campos — e ele precisa ser construído hoje.
Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e ambiental
@hidekazu.adv