Bancos privados fecham mil agências na pandemia e planejam até academia
Com o aumento dos hábitos digitais por causa da pandemia, uma tendência ganhou impulso entre os três maiores bancos privados do país: o fechamento de agências bancárias.
Só em 2020, cerca de mil pontos de atendimento presencial do Itaú Unibanco (ITUB3), do Bradesco (BBDC3) e do Santander (SANB11) fecharam as portas, resultando na demissão de 11.000 funcionários. É uma forte aceleração grande em relação ao ano passado, quando esses mesmos bancos encerraram a operação de 430 agências e cortaram 7.000 vagas. Os objetivos são cortar custos e readequar o atendimento às demandas dos clientes.
Muitas agências sobreviventes, por sua vez, passam por reformulação. O Santander, por exemplo, já tem espaços com coworkings e café para os clientes, enquanto o Bradesco agora reavalia antigas agências de outra maneira, passando a classificá-las como unidades de negócio.
No segundo maior banco privado do país, essa é uma tendência que deve ganhar força. Segundo o diretor executivo e de relações com investidores do Bradesco, Leandro Miranda, 500 das 700 conversões previstas para 2020 já foram realizadas. A grande diferença desse modelo é a inexistência do caixas, o que reduz, segundo o Bradesco, os custos em 30% a 40% em relação a uma agência convencional, especialmente no quesito segurança.
O Santander anunciou recentemente que vai criar um ambiente de convivência nos estacionamentos de suas agências, em parceria com seu portal automotivo Webmotors. Além de pontos de encontro para venda de carros, os estacionamentos poderão receber opções de lazer e alimentação, como food trucks. O desenho permite até academias de pequeno porte.
O Itaú também vem fechando agências, mas, em nota, disse que ainda enxerga relevância na relação presencial. “É evidente a transformação tecnológica recente e a procura cada vez maior pelos canais digitais, mas nossa rede física de agências segue cumprindo um papel muito relevante (…) como um espaço mais humanizado de relacionamento e consultoria”, afirmou a maior instituição financeira do país.
Para Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), os bancos já vinham trabalhando na otimização das agências físicas mesmo antes da recente onda de digitalização. Ele lembra que, anos atrás, a consolidação do setor (nome dado para a tendência de fusões e aquisições) levou alguns bancos a ficar com um número excessivo de pontos. Ele ressalta, porém, que muitas pessoas mais velhas ainda valorizam a existência das agências físicas.
Uma pesquisa de 2019 do Instituto QualiBest — ou seja, anterior à pandemia — mostrou que 81% das pessoas consideravam importante a existência de agências físicas, mesmo que a frequência das visitas fosse baixa.
Bancos públicos
Entre as instituições estatais, o Banco do Brasil (BBAS3) tem seguido de perto a tendência de Itaú, Santander e Bradesco. Nos 12 meses encerrados em setembro, o BB fechou 227 agências, enquanto abriu 56 pontos que classifica como unidades especializadas.
Já a Caixa não corrobora a tendência acima. Ainda que o Caixa Tem, aplicativo de celular usado para distribuição do auxílio emergencial, seja um passo em direção à digitalização, o banco não tem seguido a tendência de encerramentos. Ao fim do primeiro semestre, a Caixa tinha 53,7 mil pontos de atendimento, número praticamente estável em relação ao mesmo período de 2019.
“Por sua função de repassadora de benefícios do governo à população, a atuação da Caixa exige a manutenção de agencias, especialmente para pessoas de regiões onde o acesso à tecnologia é menor”, diz o professor de finanças da FGV-Eaesp, Rafael Schiozer.
Entretanto, ele acredita que, à medida que o acesso ao canal digital entre a população aumente, a Caixa também deve acelerar a revisão de espaços físicos. “A médio e longo prazo isso deve acontecer, haja vista a capacidade que o banco teve de distribuir o auxílio emergencial por meio de aplicativo.”