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Artigo: E se a fé inspirasse a forma como planejamos nossas cidades? ( (Alex Andrew Presidente da juventude do partido NOVO-TO)

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Falar de urbanismo dentro da perspectiva evangélica pode parecer, à primeira vista, um desvio de pauta. Mas, na verdade, não é. Isso porque, se a missão da Igreja é evangelizar, levar a Boa Nova a todas as pessoas, então pensar nas condições concretas que tornam esse anúncio possível também faz parte da sua responsabilidade. Como anunciar o Evangelho a quem está isolado, distante, sem infraestrutura básica, em cidades desarticuladas e fragmentadas? Uma cidade mal planejada não é apenas um problema social ou técnico, é também um obstáculo à evangelização.

Entretanto, a responsabilidade de pensar o espaço urbano não recai simplesmente sobre a Igreja enquanto instituição, mas especialmente sobre os fiéis que foram chamados a atuar no campo do urbanismo, da arquitetura e do planejamento das cidades. Esses profissionais, à luz do Evangelho, são convidados a viver sua vocação santificando o trabalho, como ensinava São Josemaria Escrivá, transformando sua profissão em meio de serviço a Deus e aos outros, construindo cidades mais humanas, justas e abertas à vida.

Evangelizar, nesse sentido, significa exercer a profissão com excelência, buscando soluções que promovam o bem comum, a justiça social e o cuidado com a criação. Uma cidade pensada com retidão e competência técnica pode se tornar expressão concreta do mandamento do amor ao próximo. Assim, o “urbanismo cristão” não é utopia, mas fruto da fidelidade cotidiana dos fiéis leigos, que encontram em seu ofício um caminho de santidade e apostolado silencioso. Cada projeto bem planejado e cada rua bem desenhada podem se tornar testemunhos vivos de que a fé ilumina todas as dimensões da vida, inclusive a organização da cidade.

Por isso, refletir sobre o planejamento urbano deveria estar no horizonte da Igreja, não como substituição da missão espiritual, mas como instrumento que favorece a vida de fé. Cidades mais próximas, densas e organizadas facilitam encontros, fortalecem comunidades paroquiais, tornam os templos mais acessíveis e multiplicam oportunidades de vida sacramental. Onde há mais proximidade, há também maior possibilidade de comunhão, participação e engajamento pastoral. A vida urbana, bem estruturada, pode favorecer uma vida de Igreja mais intensa.

O primeiro princípio é o planejamento. Em Lucas 14,28, Jesus nos provoca: “Quem de vós, querendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular as despesas, e verificar se tem com que acabar?” A lição é clara, antes de construir, é preciso pensar nos custos, na finalidade e na durabilidade da obra. Em termos urbanos, isso significa projetar cidades que não apenas funcionem no presente, mas que sejam sustentáveis para o futuro.

Outro fundamento é o cuidado com a criação. Gênesis 2,15 nos recorda que Deus colocou o homem no Éden “para cultivar e guardar” a terra. Esse “guardar” não é domínio absoluto, mas serviço, cuidado, responsabilidade. Cidades que destroem o ambiente, que tratam rios e florestas como obstáculos ao progresso, rompem com esse mandato originário. A visão católica lembra que urbanismo também é ato de fidelidade ao Criador.

A Bíblia não se cala sobre justiça social. As cidades de refúgio (Dt 19) revelam a preocupação divina em estruturar o espaço urbano para proteger vidas. O Levítico (19,9-10) e Isaías (1,17) insistem no cuidado com os pobres, estrangeiros e vulneráveis. Uma cidade que exclui ou marginaliza contradiz a Doutrina Social da Igreja, que coloca o bem comum como finalidade de toda organização política. São João Paulo II, na Centesimus Annus, recorda que a cidade deve ser espaço de solidariedade, de acolhimento e de participação.

Por fim, a vida comunitária é central. Em Atos 2,44-47, os primeiros cristãos viviam em comunhão, partilhando bens e orações. Jeremias 29,7 ecoa: “Procurai a paz da cidade… porque a sua paz será a vossa paz.” A cidade, então, não é só infraestrutura, mas o lugar do encontro. Bento XVI, na Caritas in Veritate (§51), adverte que o desenvolvimento urbano deve promover relações humanas autênticas, e não o isolamento. Praças, calçadas, transportes e espaços de convivência são expressões concretas dessa visão de cidade orientada ao bem comum.

Planejar a cidade, portanto, não é apenas técnica ou política, é também espiritualidade e missão. Uma cidade que favorece a proximidade, a justiça e o cuidado com a criação é também uma cidade que evangeliza. Pensar urbanismo à luz da fé é pensar em cidades mais humanas e, portanto, mais santas.

 Alex Andrew

Presidente da juventude do partido NOVO-TO

Coordenador do projeto sextas na cidade

 

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