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Artesãos revelam histórias de superação e amor à arte

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Por trás de cada peça de artesanato que você adquire como lembrança de uma cidade visitada ou como objeto de decoração há uma história. As mãos que trançam o capim dourado e a palha do buriti, que cortam a madeira e o coco babaçu, que forjam o ferro e as pedras, que manipulam sementes, barro, cristais, tecido e outras matérias-primas carregam não apenas talento, mas uma luta incessante pelo reconhecimento de um trabalho árduo. Os artesãos são os primeiros a serem lembrados quando se usa o termo economia criativa, e o dia 19 de março é dedicado a eles por ser também o dia de São José, pai terreno de Jesus Cristo, marceneiro que trabalhava com as mãos.

“Criei e ajudei a executar o Portal Norte de Porto Nacional”, conta com orgulho o portuense Antônio Luiz Ribeiro das Neves, mais conhecido como Tauru. Filho de artesãos, começou a trabalhar aos 10 anos, a partir da observação do pai. Graduou-se em Artes, mas todas as suas técnicas artesanais foram desenvolvidas na prática. 

“Repasso meu conhecimento para as outras pessoas, em oficinas para adolescentes e para a comunidade”, revela Tauru, ao completar que é um pesquisador de matérias-primas, naturais e sintéticas, para inspirar a produção artesanal. “Vivo exclusivamente do artesanato”, diz, ressaltando que esse trabalho precisa ser valorizado em sua essência. “O artesanato não é só um negócio, é expressão cultural, vivência, manifestação de uma época”, completa.

Na região central, a apenas 50 km de Palmas, onde fica a UHE Luiz Eduardo Magalhães, as peças em cerâmica produzidas em Lajeado são avermelhadas e trazem ilustrações que imitam os desenhos rupestres encontrados em paredões da região e datados com mais de 10 mil anos, além de outras referências regionais, como o capim dourado. 

Natural de Ibipitanga, no interior da Bahia, Maria Elza de Oliveira chegou a Lajeado há quase 20 anos, mesma época em que a cerâmica da região conquistava espaço de destaque no fomento e divulgação do artesanato tocantinense. Autodidata, explica que vive exclusivamente do artesanato, mas pontua que a categoria precisa de mais apoio para a venda dos produtos, tanto virtuais como presenciais.

Arte indígena

O trabalho com cerâmica é uma herança direta dos povos ancestrais, que também preservam a produção de artesanato com outras matérias-primas, como madeira, sementes, missangas, fibras, cabaças e capim dourado. No Tocantins, os povos Karajá, Xerente, Krahô, Krahô  Canela e Apinajé revelam o dia-a-dia das aldeias e tradições seculares por meio da arte. A riqueza dessa tradição está nos colares multicoloridos, nos cofos trançados, nos maracás, nos haretos (cocares). A confirmação da importância cultural do artesanato indígena tocantinense veio em 2012, quando as bonecas Karajá (ritxòkò) tornaram-se Patrimônio Cultural do Brasil.

Maxué Karajá conta que trabalha com 18 aldeias, onde as mulheres produzem peças de acordo com a tradição de cada aldeia.”É muito difícil trabalhar com artesanato, é preciso vender para outras regiões para ajudar as mulheres artesãs”, diz, ao revelar que parcerias estão proporcionando o comércio virtual. 

Capim dourado

Cada região tem suas características próprias, seu povo, trajetória e modo de vida que influenciam diretamente no artesanato, e não seria diferente com o Tocantins. Apesar de uma infinidade de matérias-primas, o Estado tem no capim dourado o seu principal “produto exportação”, cuja beleza das peças douradas é enriquecida pelo fator geográfico: sua origem é o Jalapão, um dos cartões postais do Tocantins. 

Nem faz tanto tempo assim. O capim dourado começou a conquistar o país a partir de 1998. Peças rústicas eram produzidas há algumas décadas no povoado Mumbuca, distante 32 km da cidade de Mateiros e cerca de 400 km de Palmas. Acredita-se que foram os índios da etnia Xerente os primeiros a trançar o capim. Após cursos e oficinas junto à comunidade, o produto ganhou design mais elaborado, o que elevou a renda e a qualidade de vida dos artesãos.

Hoje, são produzidas bolsas, potes, bijuterias, mandalas, chapéus, enfeites, suplasts, totalizando uma centena produtos diferenciados, lembrando que as peças são necessariamente em formatos arredondados, pois a delicada fibra se quebra ao ser dobrada.

Artesãs como Catiana de Sousa, dona de uma uma loja de artesanato em Ponte Alta do Tocantins, a cerca de 160 km de Palmas, conquistaram a autonomia e vendem sua arte para todo o Brasil. Mas também há uma enorme quantidade de trabalhadores que contam com o apoio das associações para fortalecer a produção e a venda das peças.

Biojoias

Os artífices do Bico do Papagaio também ficaram famosos com as biojoias confeccionadas pela Cooperativa dos Artesãos de Xambioá (Xambioart). As peças são feitas com sementes como jarina, considerada o marfim da Amazônia, babaçu, açaí, coco, entre outros materiais, como a madeira. Uma das artesãs que desenvolvem esse trabalho, Elisangela Ribeiro Amâncio, afirma que os materiais utilizados são encontrados na própria região em que vivem. “Utilizamos sementes e materiais da Amazônia e do nosso cerrado, além de peças que agreguem valor ao nosso artesanato, como o capim dourado”, conta. As peças de beleza única são resultado de capacitações e consultorias realizadas junto à cooperativa. 

Reconhecimento

“O Governo do Estado reconhece a força econômica e a importância cultural dos artesãos”, pontua o presidente da Adetuc, Jairo Mariano, ao explicar que várias ações estão sendo desenvolvidas visando o fortalecimento da categoria, seja por meio de qualificação ou via parcerias para amplificar o poder de comercialização dos produtos. “O artesão representa nossa força de trabalho criativa, nossas origens e agrega valor ao turismo”, completa.

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