A saída de Paulo Guedes do comando do Ministério da Economia é considerada uma questão de tempo dentro do governo, afirma um interlocutor do Palácio do Planalto. A decisão do presidente Jair Bolsonaro de remover Roberto Castello Branco da Petrobras por insatisfação com a política de preços da estatal seria somente o sinal mais visível do afastamento entre ele e a agenda do ministro.
Outro alerta, afirma esse interlocutor, é o fato de que ninguém no entorno do presidente fala em defesa de Guedes ou de suas medidas de austeridade fiscal. No Planalto, a equipe econômica foi apelidada de governo paralelo.
Socorro
O timing de uma eventual saída de Guedes, no entanto, ninguém se arrisca a dar. Isso porque Bolsonaro ainda recorre ao chefe da Economia para pedir ajuda quando a situação aperta. O presidente se assustou com o estrago que sua intervenção fez nas ações da Petrobras no início da semana e pediu conselhos ao ministro. Bolsonaro fez questão de passar o resto da semana fazendo afagos a Guedes e correndo para mostrar uma agenda, com a sanção da autonomia do BC e propostas para privatizar a Eletrobras e os Correios.
Troca
Tirar Guedes do posto também não é tarefa fácil. Bolsonaro ainda teme a repercussão negativa que isso pode ter sobre o mercado, diz o interlocutor do Planalto. Além disso, seu nome preferido é o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que não topa a ideia, especialmente diante do distanciamento cada vez maior do governo de uma agenda pró-mercado. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, um dos principais articuladores políticos de Bolsonaro, tem se encarregado de tentar convencer o comandante do BC. Faria tenta fazer isso com frequência em partidas de tênis que os dois disputam nos finais de semana.
Vice
Faria, aliás, tem dado sinais a pessoas próximas de que gostaria de coordenar a campanha de Bolsonaro à reeleição. O ministro das Comunicações anda tão perto de Bolsonaro que há quem o aponte como possível vice na chapa de 2022. Ele despacha com frequência no Palácio do Planalto. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também sonha com o posto de vice de Bolsonaro.
Lira e Bolsonaro
É arriscada a aposta de que a lua de mel entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e Bolsonaro vai durar pouco, afirmam duas fontes com trânsito no governo e no Congresso. Se Lira e os partidos do centrão são pragmáticos na hora de definir votos, Bolsonaro também é. O presidente não tem problema em entregar o que o centrão pedir e ceder às pressões políticas, mesmo que elas sejam contra a agenda de reformas de seu próprio governo.