Safra Recorde, Setor em Crise: O Paradoxo do Agronegócio em 2025

O agronegócio vive um de seus momentos mais paradoxais. De um lado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta para 2025 uma safra 8,2% maior do que a de 2023/2024, estabelecendo um novo recorde de produção. No entanto, do outro lado da balança, o setor enfrenta uma crise sem precedentes, com um aumento alarmante de 523% nos pedidos de recuperação judicial em 2024, conforme dados do SEBRAE.

🔛📲 Participe do grupo do Eco News TO no WhatsApp e receba as notícias no celular.

Esse cenário contraditório é resultado de uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que impactam diretamente a sustentabilidade econômica do agronegócio.

A queda vertiginosa dos preços das commodities, especialmente da soja, ilustra bem essa crise. Em 2022, a saca era comercializada a R$ 192,00. Contudo, no ano corrente, esse valor já caiu para R$ 120,00, e com a previsão de uma safra recorde, os preços tendem a desvalorizar ainda mais.

Como é evidente, o setor vem sendo esmagado por reiterados prejuízos, e quando se obtém lucros, as margens são reduzidas.

Diferentemente de outras indústrias, a produção agrícola não pode ser armazenada por períodos prolongados aguardando uma melhora nos preços, e na maioria dos casos, a produção foi comercializada antes mesmo do plantio.

Além da pressão dos preços, o agronegócio sofre com a inflação, que aumentou de maneira significativa os custos de produção, incluindo insumos agrícolas, combustíveis e taxas de financiamentos.

A inflação pressionou a elevação dos juros, comprometendo ainda mais a capacidade de pagamento dos produtores, que se veem sem alternativas viáveis para manter suas operações e honrar seus compromissos financeiros. O resultado foi um aumento exponencial nos pedidos de recuperação judicial, um reflexo direto da fragilidade econômica que assombra o campo.

Diante desse contexto, é imperativo que políticas públicas sejam desenhadas para mitigar os impactos dessa crise. Medidas como a reestruturação do crédito rural, incentivos fiscais e a criação de mecanismos que garantam preços mínimos justos para os produtores devem ser urgentemente discutidas.

Ademais, nesse momento, é essencial a adoção de uma política estratégica e isenta de visões ideológicas, buscando a prospecção de novos mercados, visando a ampliação da exportação. Podendo essa ser uma estratégia eficaz para mitigar os impactos da superprodução e dos baixos preços.

O agronegócio sempre foi um setor resiliente, mas a situação atual exige mais do que apenas adaptação. Sendo necessário um esforço conjunto entre governo, instituições financeiras e produtores para evitar um colapso com capacidade de comprometer não apenas a economia rural, mas a estabilidade econômica do país como um todo.

É inútil uma safra recorde se os produtores não conseguem honrar compromissos, manter a produção, ou continuar na atividade econômica crucial para o país.

Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e  ambiental

@hidekazu.adv