O ano de 2022 está sendo bastante diferente dos anteriores. Produzir ficou bem mais caro, mas os lucros não deixaram de vir para boa parte das atividades agropecuárias brasileiras.
Eventos climáticos adversos, que afetaram de forma diferente as diversas regiões produtivas do país, e os efeitos externos, que trouxeram forte aceleração nos preços dos insumos, estão sendo os principais desafios para o campo.
Os custos vieram dos fertilizantes, dos agroquímicos, do diesel, da energia elétrica, da ração e, para algumas atividades como a do café, também da mão de obra.
A demanda externa ainda elevada e as dificuldades na reposição dos estoques mundiais de grãos, principalmente devido a questões geopolíticas envolvendo Rússia e Ucrânia, mantiveram os preços das commodities em alta.
Grandes fornecedores de grãos e de óleos vegetais para o mercado internacional, Ucrânia e Rússia ajudaram a manter os preços aquecidos, mas a guerra entre elas provocou forte aceleração dos custos de produção, devido à importância da Rússia no fornecimento de fertilizantes.
O próximo ano não será menos desafiador. Os custos de produção continuam elevados, e a recessão mundial afeta a demanda por vários produtos do agronegócio.
Com relação aos preços para os produtos nacionais, a expectativa é de um reajuste para baixo no mercado internacional, mas sem grandes mudanças porque os estoques ainda estão sendo repostos.
Para avaliar o cenário vivido pelo produtor brasileiro neste ano e as perspectivas para 2023, o Projeto Campo Futuro, parceira do Sistema Cenar/CNA com departamentos de universidades como USP, Federal de Viçosa e Federal de Lavras, pesquisou 11 atividades agropecuárias em 116 municípios de 21 estados.
Entre os aumentos dos custos, a liderança fica com os fertilizantes, que participaram com um percentual bem maior neste ano no COE (Custo Operacional Efetivo).
Nesse embate de custos, preços e receitas, os produtos que levam vantagens ganham mais espaço. É o caso da soja e milho, que vêm ocupando áreas maiores.
A soja teve custo operacional efetivo 35% maior neste ano, com queda de 8,3% na receita bruta, em relação a 2020/21, quando o custo era menor, e a receita, maior.
O preço médio da soja aumentou 38%; e a receita média bruta, apesar da queda de produtividade, subiu 17,8%. Das 26 regiões pesquisadas, apenas duas tiveram margens bruta e líquida negativas.
Para o próximo ano, os pontos positivos para a soja são a continuidade da demanda, estoques abaixo da média e óleos vegetais em alta. O ponto negativo poderá vir de uma desaceleração econômica.
A cultura do milho teve alta de 31,1% no custo médio na safra de verão e de 56,7% na de inverno. A receita bruta caiu 7%.
Para 2023, as incertezas vêm de possíveis efeitos climáticos, dúvidas sobre o acordo de exportações entre Rússia e Ucrânia e demanda internacional.
Os preços do café subiram 42% na safra 2021/22, mas os custos tiveram elevação de 63%. Os fertilizantes participaram com 35% dos custos operacionais efetivos, enquanto a mão de obra ficou com 28%.
Em 2023, a queda nos estoques mundiais pode dar sustentabilidade aos preços, mas há uma recuperação da produção em alguns países. A alta de custo e as demandas da Europa e dos EUA vão definir receitas.
No caso dos suínos, apenas 36% das regiões pesquisadas apresentaram margem líquida neste ano. As esperanças são boas vendas neste final de ano e aumento do poder de compra dos consumidores.
A avicultura de corte não conseguiu arcar com os custos fixos, ocorrendo prejuízos no setor. Para este final de ano, é esperada uma alta nas exportações e uma oferta interna menor.
O arroz, que perde espaço na área semeada, teve alta de 20,3% nos custos operacionais efetivos e queda de 19% nas receitas brutas. Com a mesma tendência, a cultura do feijão passou por um aumento de 31,3% nos custos nas duas primeiras safras, mas teve recuo de 44,5% na receita bruta.
As receitas na pecuária de cria e engorda caíram 9,7% nos últimos 12 meses, enquanto 5 das 12 regiões pesquisadas com a atividade leiteira tiveram margem líquida negativa.
O trigo, com safra recorde e preços em alta, obteve margem bruta positiva em todas as regiões avaliadas pelo Projeto Campo Futuro. Porém, o custo médio de produção, com alta de 34%, inibiu o aumento líquido das receitas.