PIB do Brasil encolhe 0,1% no 2º trimestre

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou leve queda no segundo trimestre deste ano, perdendo força em relação aos três primeiros meses de 2021 e estabilizando-se depois de três trimestres seguidos de ganhos.

No segundo trimestre, o PIB teve queda de 0,1% em relação aos três meses anteriores, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira. No primeiro trimestre a economia brasileira havia avançado 1,2%.

A expectativa em pesquisa da Reuters era de um crescimento no segundo trimestre de 0,2%, na comparação trimestral.

Em relação ao segundo trimestre de 2020, o PIB registrou expansão de 12,4%, ante expectativa de aumento de 12,8% nessa base de comparação.

“Mantemos nossa projeção de PIB em torno de 5% para o final do ano, basta que se cresça 0,5% por trimestre para que atinja tal resultado. Contudo, vale notar, que se observarmos o crescimento no ano propriamente a variação esperada para o final deste ano não é 5%, mas sim próximo de 2%”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Depois de um começo de ano cheio de incertezas, o Brasil seguiu vivendo no segundo trimestre restrições para controle da pandemia, que aos poucos foram sendo relaxadas.

Mas ao mesmo tempo o país passou a sofrer com um forte aumento da inflação, em meio à alta do dólar e dos preços das commodities no exterior, bem como dificuldades nas cadeias globais de suprimentos. Reajustes da gasolina e das contas de luz também pesaram nos bolsos dos consumidores, com o fantasma da escassez hídrica no radar.

“Cada vez mais os efeitos (da pandemia) vão se dissipando e as explicações (para esse resultado) vão sendo ampliadas para além dela, com juros, crédito, mercado de trabalho e inflação”, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Serviços e indústria

O destaque no período foi serviços, diante da reabertura da economia com o alívio nas medidas de contenção da Covid-19, depois de este ter sido o setor mais afetado pela pandemia.

No segundo trimestre, os Serviços apresentaram crescimento de 0,7% em relação aos três primeiros meses do ano, repetindo a taxa vista nos três primeiros meses do ano nessa base de comparação.

Os melhores resultados foram de informação e comunicação (+5,6%), outras atividades de serviços (+2,1%). O setor de serviços, entretanto, ainda está 0,9% abaixo do nível pré-pandemia.

Mas o número trimestral foi apagado pelas retrações de 0,2% na Indústria e de 2,8% da Agropecuária, que sofreu com questões climáticas e ainda teve a safra de café em bienalidade negativa.

No setor industrial, o peso veio das quedas de 2,2% nas indústrias de transformação em meio à falta de insumos e de 0,9% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos com o aumento no custo de produção por conta da crise hídrica.

Essas retrações compensaram a alta de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção.

Do lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, despencou 3,6% no segundo trimestre sobre o período anterior, depois de ter avançado 4,8% no primeiro.

As Despesas das Famílias ficaram estagnadas, ainda sob impacto dos efeitos da pandemia, e as do Governo aumentaram 0,7%.

“O consumo das famílias pesa mais de 60% no PIB. Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias”, explicou Palis.

Em relação ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 9,4%%, a maior variação desde o primeiro trimestre de 2010, enquanto as importações diminuíram 0,6%.

Banco Central

Logo após o anúncio, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o número veio abaixo do que o mercado esperava, mas dentro das expectativas da autoridade monetária.

— (O número) veio um pouquinho mais fraco do que o mercado esperava, a gente deve ter uma revisão um pouquinho pra baixo no ano corrente. Veio mais ou menos em linha com o que o BC achava. A gente já tinha um número de crescimento ligeiramente abaixo do mercado — disse durante apresentação na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Para o ano, a última projeção do BC é de um crescimento de 4,6%, enquanto o mercado espera uma alta de 5,22% na atividade econômica, segundo o relatório Focus.

PIB raiz quadrada?

Muitos economistas diziam que o volta da atividade do PIB no pós pandemia seria em V, querendo dizer com isso que seria apenas um choque. Outros diziam que seria em K o que faz alusão que seria um crescimento desigual em diversos setores. Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a retomada será em ‘raiz quadrada’: depois de certa retomada do mais agudo da crise o PIB iria ficar de lado e parece que este é o caso.

O economista destacou alguns pontos que justificam a tese:

1.  Consumo das Famílias tende a ficar estável ou até mesmo em queda;

2. Consumo do Governo tende a ficar estável uma vez que o Ministério da Economia está sim tentando controlar os gastos públicos;

3. Exportações líquidas

“É de onde pode vir as boas notícias, afinal com o Real fraco e com incentivos nos EUA e na China (para ficar com os maiores) tendemos a ter superávits”.

4. Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) veio fraco depois de alguns trimestres subindo de maneira relevante.

“Os dados do 2º trimestre mostram uma queda nos estoques o que explica em parte o fraco resultado da FBCF e da frustração com a retomada. Outro fator que pode explicar o mal resultado é que nos trimestres anteriores foi reportado grandes investimentos em plataformas, o que gera um grande influxo de investimento de uma vez só ‘sujando’ a série”, comentou André Perfeito.

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