A ciência não é exata. Nem sempre as pesquisas trazem as respostas que os cientistas queriam – mas, às vezes, isso é exatamente o que eles precisavam.
É o caso de um estudo publicado na revista científica Science Translational Medicine. Feita por um grupo de pesquisadores liderados pelo oftalmologista Patrick Yu-Wai-Man, da Universidade Cambridge, a pesquisa investigou um tratamento promissor para a cegueira hereditária.
Os resultados, que ficaram longe da hipótese que os cientistas queriam comprovar, acabaram se mostrando um sucesso em outro aspecto: 29 dos 37 pacientes que participaram dele tiveram melhoras em sua visão.
Os testes foram realizados em pacientes com neuropatia ótica hereditária de Leber (LHON), que afeta a mitocôndria e causa a morte das células da retina. Com isso, a perda da visão é rápida – e algumas pessoas se tornam completamente cegas em um ano.
O tratamento em questão tinha como base o vírus modificado sem capacidade de reprodução, com uma cópia corrigida do gene. Para entender se ele funcionava, os pesquisadores injetaram o vírus em somente um dos olhos dos pacientes, enquanto o outro olho recebeu uma injeção de placebo.
Foi então que tudo mudou para os cientistas. O objetivo deles era comprovar que o olho tratado melhorava, enquanto o outro, que não recebeu o tratamento, continuava na mesma situação. Não foi o que aconteceu. Pelo contrário: o que foi observado foi que ambos os olhos apresentaram melhoras substanciais.
Isso pode ser explicado porque, segundo os cientistas, o vírus encontrou uma forma de se transportar de um olho para o outro, muito provavelmente pelo nervo ótico. Testes realizados em macacos que receberam a mesma injeção que os humanos indicaram a presença de DNA viral nos dois olhos. O vírus não foi encontrado em nenhum outro lugar do corpo dos macacos.
A companhia que desenvolveu o tratamento, a francesa GenSight Biologics, enviou os resultados para agências reguladoras europeias e esperam ter uma aprovação até o final deste ano. Se tudo der certo, as injeções podem ajudar algumas pessoas a enxergar novamente.
Avanços contra a cegueira
Com Laura Pancini
O tratamento é mais um na esteira de avanços da medicina em relação a pessoas cegas.
Na semana passada foi realizado o primeiro transplante de córnea artificial bem-sucedido do mundo. O paciente, um idoso de 78 anos, conseguiu recuperar sua visão após 10 anos com sua córnea deformada.
O implante artificial, denominado KPro, pode substituir uma córnea deformada ou opaca. Ele tem um nano-tecido sintético não degradável que é colocado sob uma membrana que cobre a superfície da pálpebra e a parte branca do globo ocular. Ao ser implantado, ele se integra com o tecido vivo e estimula a “proliferação celular” dentro do olho.