Tudo começou quando o texano John Carter veio morar no Brasil. Recém-casado com uma brasileira, Carter se estabeleceu em uma fazenda de soja no Mato Grosso. Eram os anos 90, época de terras baratas e pouca consciência ambiental. Ele se viu diante dos inúmeros problemas de uma área de fronteira agrícola: muitos conflitos entre indígenas e grileiros, invasões de terra e produtores pouco preocupados em seguir as leis. O fazendeiro americano decidiu agir.
Carter buscou ajuda do também americano Daniel Nepster, cofundador do Instituto de Pesquisa da Amazônia (IPAM), que na época conduzia um trabalho na floresta. Juntos, eles criaram a ONG Aliança da Terra, com o objetivo de ajudar proprietários rurais a entender e se enquadrar nas leis ambientais, promover novas formas de cultivo mais sustentável e combater incêndios florestais.
O trabalho da ONG acabou virando um negócio. No ano passado, a Aliança da Terra se transformou em uma empresa chamada Produzindo Certo. Seu negócio é vender consultorias para fazendeiros interessados em aprimorar a produção por meio de boas práticas agrícolas e ambientais. A empresa, criada a partir da plataforma de avaliação de fazendas da ONG, nasce com quase 5 milhões de hectares de terra monitoradas em seu portfólio, e 1,5 mil proprietários rurais parceiros.
“Cansamos de fazer apenas projetos-piloto”, afirma Aline Locks, diretora da ONG e agora CEO da Produzindo Certo. “O produtor sabe que tem de preservar o meio ambiente. Ele sente isso na fazenda. Mas ele também precisa de retorno financeiro e, para isso, é necessário ter conhecimento.” Locks foi a convidada desta semana do podcast ESG de A a Z.
Um dos princípios da ONG sempre foi a de que os produtores rurais não são os únicos culpados pelo desmatamento. Na verdade, Carter e Nepster chegaram à conclusão que boa parte dos problemas, até mesmo dos crimes, se dava por falta de conhecimento dos fazendeiros.
“Tivemos um caso recente em que um cliente construiu um tanque de combustível em sua propriedade. Tudo moderno, com a mais alta tecnologia. Só que ele colocou a estrutura no lugar errado”, conta Locks. “Ele não tem intenção de infringir as regras, porém, falta apoio, até mesmo do governo.”
A falta de ajuda governamental agora se soma à falta de fiscalização e às incertezas sobre o futuro da política ambiental brasileira. “O nosso cliente já tem a intenção de atuar de maneira correta, então, não tivemos problemas. Mas quem faz errado sente que o risco de receber uma fiscalização diminuiu”, diz a CEO.
Agenda favorável
A demanda das grandes compradoras de produtos agrícolas por produtos rastreáveis e livres de desmatamento favorece a Produzindo Certo. Na época de ONG, a empresa chegou a fazer parceria com Unilever, Bayer, Yara, Pão de Açúcar e ADM para certificação de produtores.
O banco Santander usou as análises da companhia em suas análises de risco socioambiental para concessão de crédito aos fazendeiros. A ADM, uma das maiores traders de grãos do mundo, inclusive, foi a primeira cliente da fase S/A da empresa. “Hoje as empresas querem encontrar um propósito. Nós fizemos o caminho inverso: encontramos um propósito para depois virar empresa”, diz Locks. Talvez esse seja o futuro.