A confirmação de novos casos de covid-19 causados pela variante brasileira P.1 (ou P1) em cidades de São Paulo e outros estados brasileiros aumenta a preocupação com uma terceira onda da covid-19 e uma eventual saturação do sistema de saúde.
A variante identificada pela primeira vez no início de janeiro, em Manaus, está ligada ao aumento do número de casos no estado do Amazonas e, agora, também em locais como o município paulista de Araraquara.
Embora existam centenas de variantes do coronavírus já identificadas no mundo, a variante brasileira P1 tem mutações que tornam o coronavírus mais contagioso e também mais resistente a anticorpos da doença, o que pode aumentar o número de casos inclusive entre as pessoas que já se recuperaram da covid-19.
Como e quando surgiu a variante P1?
A nova cepa do coronavírus foi identificada pela primeira vez em quatro pessoas que voltaram ao Japão depois de uma viagem ao estado do Amazonas.
Os passageiros desembarcaram em Tóquio no dia 2 de janeiro e passaram por uma testagem no aeroporto, que indicou a presença do coronavírus.
Após análise, o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão identificou, no dia 6 de janeiro, que o vírus encontrado nos passageiros se tratava de uma nova variante com 12 mutações.
O caso foi tornado público pelo Ministério de Saúde do Japão no dia 10 de janeiro, que alertou as autoridades brasileiras.
No dia 12 de janeiro, cientistas brasileiros e do Reino Unido publicaram um estudo mostrando que a nova variante é uma descendente da linhagem B.1.1.28, que já circulava no Brasil. Ela foi batizada de P.1.
Os cientistas também identificaram a presença da nova variante em 13 de 31 amostras (42%) de testes de covid-19 coletados de pacientes de Manaus entre 15 e 23 de dezembro. Entretanto, a nova variante não foi detectada em 26 análises genômicas de Manaus coletadas entre marco e novembro do ano passado.
O resultado sugeria que a variante surgiu nos últimos meses do ano e poderia estar ligada ao aumento no número de casos de covid-19 em Manaus, que levou ao colapso do sistema de saúde no estado do Amazonas.
No fim de janeiro, os pesquisadores atualizaram a pesquisa e analisaram a presença da nova variante em 142 amostras do coronavírus de pacientes de Manaus, coletadas entre 15 de dezembro e 9 de janeiro. A nova variante foi encontrada em 52% das amostras de dezembro e em 85% das amostras de janeiro. Outro estudo mostrou a presença da variante P1 em 91% dos casos de covid-19 no Amazonas.
Onde a nova variante brasileira P1 já foi identificada?
Além do Amazonas, o Ministério da Saúde diz que a nova variante do coronavírus já foi identificada em nove estados, incluindo Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.
Em São Paulo, são 25 casos confirmados da nova variante. Doze deles foram identificados na cidade de Araraquara, no interior do estado, que está com UTIs e hospitais lotados de pacientes de covid. Além deles, 9 casos foram identificados na capital paulista, 3 em Jaú e 1 em Águas de Lindoia.
Fora do Brasil, a linhagem P1 já foi identificada em casos em pelo menos 19 países (Alemanha, Bélgica, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, Peru, Portugal, Turquia e Venezuela).
Quais são as mutações da variante P1 e por que ela é mais contagiosa?
A variante P1 tem três mutações genéticas principais que causam mais preocupação nos cientistas:
N501Y – A mutação N501Y (também chamada de “Nelly”) é uma alteração genética da proteína da espícula do coronavírus — as pontas que formam a sua coroa e que são o primeiro ponto de contato do vírus com as células.
Essa mutação permite que o vírus se encaixe de forma mais firme nas células humanas, o que faz com que seja mais contagioso. Essa mesma mutação também é encontrada nas variantes do Reino Unido (chamada de B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351).
E484K – Esta é outra mutação na proteína da espícula do vírus, encontrada também na variante da África do Sul. Em testes de laboratório, essa mutação tornou o vírus mais resistente a anticorpos formados pelo sistema imunológico. Essa diferença pode estar por trás de um maior número de casos de reinfecção do coronavírus.
Estudos recentes mostraram que a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford tem uma eficácia menor contra a variante da África do Sul.
K417T/K417N – Esta mutação também permite que o vírus se encaixe de forma mais fácil nas células, aumentando o contágio. Ela também está presente na variante da África do Sul.