Mesmo sendo recebidos com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha pela polícia, os milhares de manifestantes que tomaram as ruas de Beirute, no Líbano, neste sábado, 8, conseguiram furar o bloqueio das forças de segurança e tomaram conta de prédios do governo. Os ministérios das relações exteriores e da economia foram invadidos. A associação dos bancos também foi atacada.
Os manifestantes, em sua maioria jovens, exigem a deposição do governo. Um grupo levou um guindaste ao protesto. Segundo a Cruz Vermelha, 728 pessoas foram feridas nos protestos.
Diante da revolta expressada pelos libaneses, o primeiro ministro libanês, Hassan Diab, disse neste sábado que convocorá eleições parlamentares antecipadas. O pronunciamento, no entanto, não convenceu a população de que haverá mudanças essenciais na forma como o país é governado.
Nos protestos, os jovens estão sendo reprimidos por forças policiais e militantes xiitas, de grupos como o Hezbollah e Amal, que têm forte influência no governo. Acusados por boa parte da população de controlar as operações portuárias e setores importantes da economia, os grupos xiitas estão cada vez mais na berlinda — e não querem perder o poder.
A revolta com o governo tem aumentado desde a última terça-feira, 4, quando uma forte explosão no porto de Beirute destruiu a região central e diversos bairros. Um armazém portuário que guardava 2.700 toneladas de nitrato de amônia, utilizado na fabricação de bombas, pegou fogo e explodiu. Já são mais de 150 mortos e 5.000 feridos.
Em outubro do ano passado, os libaneses foram às ruas para protestar contra a crise econômica e a corrupção. O Líbano está imerso em uma derrocada econômica sem precedentes, com 30% de taxa de desemprego, uma inflação galopante, de 30% ao mês, e uma dívida pública de 170% do PIB. As reservas do governo também estão minguando.
Nos bairros mais pobres, em que a população não tem condições de arcar com o custo de geradores, as pessoas precisam comprar velas para ter luz à noite.
O governo também enfrenta dificuldades para manter o orçamento dos hospitais e pagar os funcionários público em dia. A explosão no porto era a gota d´água que faltava para incendiar o sentimento de revolta da população.