Não é de hoje que a Lava Jato perdeu o apoio que tinha em outros tempos. Vários episódios em sequência fizeram com a operação, que era a queridinha do Brasil, perder atenção na sociedade e ver-se enfraquecida por ações de bastidores. O episódio da polêmica entre o grupo de Augusto Aras, o procurador geral da República, e os responsáveis pela força-tarefa é mais um exemplo claro disso.
A Lava Jato já não é mais a mesma, pois parte da sociedade tinha na operação não uma ação efetiva de combate à corrupção, mas uma estratégia para mudança de poder. Isso ficou claro quando, após a queda do governo petista e a ascensão do bolsonarismo, muita gente que tinha na operação um símbolo do novo Brasil abandonou as investigações na estrada. Ainda que seja inegável a contribuição da Lava Jato para a revelação de enormes escândalos de corrupção e a impensável punição de empreiteiros e importantes membros da classe política, a ação ficou pelo caminho. Muito ainda ficou por ser analisado e aquela força que a Lava Jato tinha para romper as barreiras que se colocavam no caminho se esvaiu.
Também marca essa mudança a saída do ex-juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal no Paraná para o governo de Jair Bolsonaro. Principal símbolo da operação, Moro levou junto parte da força que a ação tinha. E, além disso, deixou evidente uma predileção que fez com que os alvos fossem escolhidos a dedo sobretudo em períodos eleitorais.
Veio depois Augusto Aras no comando da PGR. Escolhido por Jair Bolsonaro, ele sempre foi um crítico da operação. Foi colocado ali para colocar um freio na Lava Jato também. E, entre outras coisas, essa ideia ganhou ainda mais força com a aliança de Bolsonaro com o Centrão. Afinal, alguns dos líderes dos partidos que compõem o grupo eram os próximos da lista de alvos da operação de combate à corrupção.
Ao buscar dados sigilosos e interferir na constitucional independência funcional dos membros do MP, o grupo de Aras, representano no episódio pela procuradora Lindôra Araújo, tentou dar mais um golpe na Lava Jato. A saída de alguns dos importantes procuradores do grupo de trabalho que lida com o caso na PGR enfraqueceu ainda mais as investigações a respeito de pessoas com foro privilegiado. Se na primeira instância a Lava Jato continua nas ruas, pegando operadores e figuras menores, no nível maior há quase uma paralisia.
Quando a Lava Jato tenta avançar um pouco mais, como no Rio com a tentativa de prisão do ex-ministro Silas Rondeau, vem logo alguém para encerrar essa iniciativa e devolver as coisas ao status quo atual. A Lava Jato hoje já não tem mais força para enfrentar a estrutura que se coloca diante dela.