O crédito consignado é uma modalidade de financiamento pessoal com uma das menores taxas de juros do mercado. O custo é baixo porque as parcelas do empréstimo são descontadas do salário, diretamente na folha de pagamento. Apesar de ser um tipo de crédito sem garantia, os bancos conseguem praticar juros menores em razão da previsibilidade dos pagamentos.
Desde 2018, o custo do crédito consignado está em queda no Brasil. No último ano, as taxas médias caíram de 21% para 18% ao ano, de acordo com dados do Banco Central. Em novembro de 2020, último dado disponível, os juros estavam no piso histórico para a modalidade, em 1,4% ao mês.
Naturalmente, parte dessa diminuição se deve à própria queda da taxa básica de Juros, a Selic, que está em 2% ao ano, o menor patamar da história.
Outra razão para a queda do custo da modalidade foi a entrada de novos competidores. Bancos médios, que antes não tinham participação no consignado, e bancos digitais passaram a investir pesado na captação de clientes para essas linhas de crédito. De acordo com a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa as instituições financeiras menores, o número de bancos médios e fintechs atuando com o consignado saltou para 30.
“A tendência é a de aumento da competitividade. Como boa parte da carteira está na mão das grandes instituições, há ainda bastante espaço para o crescimento dos bancos menores”, diz Alex Sander Gonçalves, diretor da ABBC e executivo do banco Pan. Ele diz que as fintechs e os bancos digitais têm investido pesado em tecnologia para oferecer novos canais de atendimento e de oferta de produtos para os clientes.
A razão para o investimento é simples: o consignado é uma linha com baixa inadimplência e boas margens. Além da vantagem dada pelas próprias categorias do produto, os bancos que atuam no segmento podem oferecer ao cliente uma troca de dívidas mais caras (em que o nível de atraso e de calote é maior) pelo crédito consignado.
“Qualquer crédito pessoal sem garantia tem taxas bem mais altas. Além de trabalhar com um produto mais vantajoso, podemos oferecer ao cliente endividado uma condição melhor de crédito”, diz Nora Trindade, superintentende de crédito consignado do Banco Inter.
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Quem tem os menores juros?
É curioso notar que, embora detenham cerca de 80% de todos os recursos emprestados no consignado, os grandes bancos não figuram entre aqueles que oferecem as menores taxas. De acordo com os dados do BC, os bancos regionais, as fintechs e as financeiras possuem as melhores condições de empréstimo. Vale dizer, no entanto, que as exigências para a oferta desse crédito tendem a ser mais restritas.
Veja a tabela abaixo:
Consignado para o setor privado | Consignado para o setor púbico | Consignado para o INSS | ||||||
Instituição | Taxa ao mês (em %) | Taxa ao ano (em %) | Instituição | Taxa ao mês (em %) | Taxa ao ano (em %) | Instituição | Taxa ao mês (em %) | Taxa ao ano (em %) |
Banco do Nordeste | 0,92 | 11,61 | Banco do Nordeste | 0,76 | 9,49 | Bancoob | 0,98 | 12,35 |
Daycoval | 1,00 | 12,68 | Banco Sicredi | 0,83 | 10,40 | Banco Inter | 1,18 | 15,14 |
Banco do Estado do Pará | 1,23 | 15,81 | Banco Inter | 1,01 | 12,79 | Financeira Parati | 1,32 | 16,98 |
Caixa | 1,27 | 16,29 | Financeira Alfa | 1,06 | 13,44 | Banco Cetelem | 1,32 | 16,99 |
Banco Arbi | 1,33 | 17,16 | Banco de Brasília | 1,07 | 13,68 | Banrisul | 1,36 | 17,55 |
O Inter, que tem o terceiro menor juro do consignado para servidores públicos e o segundo menor juro para aposentados do INSS, passou a apostar no consignado mais recentemente.
Embora ofereça o produto desde quando ainda se chamava Intermedium, o banco reformulou suas linhas de consignado em 2018 e investiu em parcerias com prefeituras e governos estaduais para oferta de crédito para os servidores. O Inter tem acordos com os governos de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, por exemplo.
As contas-salário eram a mina de ouro para as instituições financeiras. A liderança dos grandes bancos no consignado acontece porque eles ainda são os principais intermediadores do pagamento de salários. Mas até isso está mudando progressivamente.
Até poucos anos atrás, as maiores instituições compravam o direito de receber as folhas de pagamento de empresas, de instituições públicas e de governos regionais. Por terem um relacionamento mais próximo com os trabalhadores e aposentados, os grandes bancos cavaram um espaço importante no segmento.
No entanto, com o crescimento de pedidos de portabilidade de salário, esse tipo de negócio deixou de fazer sentido. Os bancos digitais costumam oferecer contas com isenção de tarifa de manutenção, o que serve de incentivo para a migração da conta-salário.
“O pagamento do salário gera recorrência e cria uma base de clientes mais sólida para a oferta de outros produtos da prateleira, como o crédito consignado e o financiamento imobiliário”, diz Gonçalves, da ABBC.
Vale a pena contratar?
O consignado é um empréstimo de fácil contratação, mas, como qualquer outra linha de crédito, deve ser usada com parcimônia. Os juros baixos costumam ser o grande atrativo das financeiras e de bancos que oferecem o produto, mas ainda são taxas capazes de multiplicar qualquer pequena dívida.
Além disso, por ser descontado diretamente do salário, o consignado costuma ser um ponto de partida para a criação de outras dívidas — por exemplo: um consumidor que compromete uma parcela grande da renda com o consignado e deixa de ser capaz de pagar as despesas do dia-a-dia, precisando recorrer a outras linhas de empréstimo.
O consignado vale a pena quando é para a troca de uma dívida cara por outra mais barata. Quem está pendurado no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito deve colocar na ponta do lápis os custos para a tomada de um empréstimo consignado para a quitação dos outros débitos — em geral, o consignado é mais vantajoso. Mas entrar em uma dívida com juros para adquirir bens e serviços não-essenciais pode ser uma furada.
Cuidado com as pegadinhas
Não faltam reclamações de consumidores que alegam terem empréstimos consignados contratados sem a devida autorização. De acordo com o Procon de São Paulo, o número de reclamações chegou a saltar 800% durante a pandemia.
Para os clientes que tiveram a contratação indevida do crédito, a recomendação é não utilizar o dinheiro depositado em conta e buscar atendimento com o banco que realizou o consignado. Caso o banco não faça a restituição dos valores, o caminho é abrir uma reclamação nos órgãos competentes — o Procon e o próprio Banco Central.