A rede de lojas de departamento de origem catarinense Havan, que por muitos anos foi mais conhecida pela excêntrica réplica da Estátua da Liberdade fincada à frente de cada unidade, formalizou na semana passada o pedido para abrir capital na bolsa de valores brasileira, a B3.
Na oferta inicial de ações (initial public offering, ou IPO, na sigla em inglês), a Havan espera ser avaliada em até 100 bilhões de reais. A fama de seu fundador e dono, Luciano Hang, pode ajudar ou atrapalhar tal ambição.
Hang se tornou conhecido nacionalmente nos últimos anos como um dos mais fiéis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no meio empresarial, defendendo o candidato e depois o governo quase sempre trajando verde e amarelo. À solicitação de registro da oferta de ações o empresário acrescentou uma carta contando sua origem humilde e como construiu do nada uma cadeia de 147 lojas que faturou 10,5 bilhões de reais em 2019.
Páginas depois, no documento, a Havan lista os principais riscos à sua operação e às suas perspectivas de crescimento – como pedem as normas a todos os interessados em atrair investidores no mercado de capitais. Além do surto do novo coronavírus, que paralisou a economia mundial a partir de fevereiro e ainda não está superado, Hang também aparece como uma potencial ameaça.
“Nosso presidente e acionista controlador já foi e é parte em processos relativos a condutas supostamente inapropriadas, e/ou ofensivas, inclusive decorrentes de sua opinião pessoal nas redes sociais, sendo que alguns tiveram ou podem ainda ter potenciais desdobramentos na esfera ciminal. Em caso de decisões desfavoráveis, a reputação da companhia poderá ser afetada de maneira adversa, o que pode gerar efeito negativo sobre negócios e resultados operacionais. Não podemos assegurar que novos inquéritos ou ações envolvendo nosso presidente e controlador não surgirão no futuro”, diz o pedido, resumidamente. “Publicações, notícias ou comentários negativos sobre a companhia, suas operações, sua marca ou seus administradores, principalmente o senhor Luciano Hang, podem prejudicar a reputação e os negócios da companhia, inclusive gerando manifestações em nossas lojas, além de poderem inclusive ocasionar a perda de direitos de contratar com a administração pública, de receber incentivos ou benefícios fiscais ou quaisquer financiamentos e recursos dos órgãos e entidades governamentais.”
O alerta diz respeito às controvérsias envolvendo Hang e a Havan. Relembre algumas:
1 – Investigações por sonegação de impostos
A Receita Federal aponta que a Havan deixou de declarar e de recolher, entre 2009 e 2010, taxas e contribuições como a previdenciária patronal e até a destinada ao patrocínio a um time de futebol da cidade de Brusque, onde fica a sede da empresa. O valor atualizado da pendência é de 2,5 milhões de reais. Quando a investigação veio a público, em junho, a Havan disse ao jornal “O Estado de S. Paulo”, que publicou a notícia, que a denúncia era “velha” e “não foi aceita”. Em 2003, Hang foi condenado a três anos, 11 meses e 15 dias de pena privativa de liberdade, além de multa por sonegar 10,4 milhões de reais em contribuições. A punição foi substituída por prestação de serviços comunitários e pagamento de dez salários mínimos mensais durante o período da condenação. Antes de ser obrigado a começar a cumprir as penas, o empresário fez acordo para pagar parte do débito e parcelar o restante.
2 – Investigação por disseminação de fake news
Hang está sendo investigado no inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura a disseminação de fake news no país e ataques contra ministros da Corte. Dois endereços do empresário – que nega qualquer ato ilícito – foram alvos de uma operação de busca e apreensão em maio. Suas contas no Twitter e no Facebook estão suspensas.