A montadora americana Ford decidiu encerrar toda a sua operação fabril no Brasil, pegando de surpresa fornecedores, concorrentes, funcionários e os governos das localidades onde está instalada. Em comunicado ao público na tarde desta segunda-feira (11), a montadora informou que irá atender os clientes por meio das operações da Argentina, do Uruguai e de outros mercados.
A companhia deve encerrar ainda em 2021 as operações das fábricas de Camaçari, na Bahia e de Taubaté, no interior de São Paulo, além da unidade da Troller em Horizonte, no Ceará. A Ford não é só a pioneira global da indústria automobilística, como também a primeira montadora a instalar uma operação fabril no Brasil em 1919, no centro da capital paulista.
Cerca de 5 mil funcionários devem ser demitidos no país. Ao todo, a Ford Brasil tem 6.171 funcionários, sendo 1.652 em Taubaté, São Paulo e Tatuí; 4.059 na Bahia e 460 no Ceará. Algumas centenas de trabalhadores devem ser mantidos na sede da companhia, no estado de São Paulo.
“A Ford encerrará a produção à medida em que a pandemia de covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e da redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”, disse a montadora em nota. No comunicado, a companhia afirma que a marca atenderá a região “com seu portfólio global de produtos” e que planeja “acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados”.
A produção será encerrada imediatamente em Camaçari e Taubaté. A fabricação de peças será mantida por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda, segundo a empresa. O Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí, interior de São Paulo. A fábrica dos jipes Troller, em Horizonte, continuará operando até o quarto trimestre de 2021.
Como resultado da decisão, a Ford encerrará as vendas do SUV EcoSport, do compacto Ka e da Troller T4 assim que acabarem os estoques no mercado brasileiro.
O encerramento das operações no Brasil vão custar à montadora 4,1 bilhões de dólares em despesas não recorrentes, como verba de rescisão de contrato de funcionários, baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos.
“Difícil e necessário”
No final do ano passado, a Ford concluiu a venda do complexo fabril de São Bernardo do Campo, em São Paulo, onde eram montados os caminhões da marca e o compacto Fiesta.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil, e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente da Ford, em nota à imprensa. “Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global.”
A montadora informou ainda que a empresa irá trabalhar “imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos e outros parceiros” no desenvolvimento de um “plano justo e equilibrado” para minimizar os impactos do encerramento da produção.
“Nosso dedicado time da América do Sul fez progressos significativos na transformação das nossas operações, incluindo a descontinuidade de produtos não lucrativos e a saída do segmento de caminhões”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul e grupo de Mercados Internacionais no comunicado.
Ele acrescentou que a chegada de novos produtos melhorou os resultados nos últimos quatro trimestres. Entretanto, “a continuidade de um ambiente econômico desfavorável e a pressão adicional causada pela pandemia deixaram claro que era necessário muito mais para criar um futuro sustentável e lucrativo”.
A Ford vem perdendo participação no Brasil de forma persistente. Antes detentora do posto cativo de quarta maior do país, a marca encerrou 2020 na quinta posição do ranking de automóveis e comerciais leves mais vendidos e na sexta colocação se considerados somente carros de passeio.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) disse, em comunicado à imprensa, que “respeita e lamenta” a decisão de sua associada. “Isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil”, afirmou a entidade.