O Facebook suspendeu nesta quarta-feira uma rede de contas na rede social que a empresa disse ter sido usada para espalhar mensagens políticas de desinformação por assessores do presidente Jair Bolsonaro e de dois de seus filhos.
A empresa afirmou que, apesar dos esforços para disfarçar quem estava por trás da atividade, foram encontrados vínculos com as equipes de dois parlamentares, assim como de assessores do presidente e de seus filhos Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é deputado federal, e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que é senador.
Nathaniel Gleicher, chefe da política de segurança cibernética do Facebook, disse que as contas foram removidas por usarem perfis falsos e outros tipos de “comportamento não-autêntico coordenado”, o que viola as regras da companhia.
Ele disse que não há evidências de que os próprios políticos tenham operado as contas. “O que podemos provar é que os funcionários desses gabinetes estão envolvidos em nossas plataformas nesse tipo de comportamento”, disse ele à Reuters antes do anúncio oficial da empresa.
Procurado pela Reuters, o Palácio do Planalto não respondeu de imediato a pedido de comentários.
As alegações do Facebook se somam à atual crise política no Brasil, onde apoiadores de Bolsonaro e filhos do presidente têm sido acusados de realizar campanhas online coordenadas para atacar adversários políticos do presidente.
As acusações estão sendo abordadas em uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso, a CPMI das Fake News, e também são alvo de uma investigação separada do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre ataques ao Judiciário, que já resultou em operações policiais de busca e apreensão em casas e escritórios de aliados de Bolsonaro.
O presidente, que também é alvo de críticas pela resposta do governo federal à pandemia de coronavírus, disse que a investigação do STF é inconstitucional e pode resultar em censura no Brasil, ao restringir o que as pessoas podem dizer nas redes sociais.
O Facebook está sob crescente pressão nas últimas semanas para policiar melhor como os grupos políticos usam sua plataforma. Centenas de anunciantes aderiram a um boicote destinado a forçar a empresa a bloquear o discurso de ódio, e vários funcionários saíram no mês passado devido à decisão do CEO, Mark Zuckerberg, de não questionar posts inflamatórios de Trump.
O Facebook também suspendeu outras três redes de desinformação nesta quarta-feira, incluindo uma que atribuiu a Roger Stone, um amigo de longa data e conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No caso do Brasil, Gleicher disse que sua equipe identificou e suspendeu mais de 80 contas no Facebook e em seu site de compartilhamento de fotos, o Instagram, como parte da rede de desinformação. As contas acumulavam 1,8 milhão de seguidores, disse ele, e algumas datam de 2018.
Pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do centro de estudos Atlantic Council, que passaram uma semana analisando a atividade identificada pelo Facebook, disseram ter encontrado cinco assessores políticos atuais e do passado que registraram e operaram as contas.