Evolução da participação brasileira nas exportações mundiais de carne de frango nos anos 2000

Mesmo que não corresponda exatamente à realidade, o gráfico abaixo dá boa ideia de como vem evoluindo a participação brasileira no contexto das exportações mundiais de carne de frango no decorrer dos anos 2000. A elaboração do gráfico teve como base, de um lado, os dados globais de exportação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e, de outro, as informações internas de exportação da SECEX/ME.

Mesmo iniciado em anos anteriores, o grande avanço brasileiro no mercado internacional foi observado nos cinco primeiros dos anos 2000. Em 2004 o Brasil ocupou, pela primeira vez, a posição de maior exportador mundial de carne de frango – posto mantido desde então, sem qualquer interrupção. Nesse quinquênio, a participação brasileira no total mundial passou de algo em torno de 17%/18% para cerca de 37% – média, hoje inacreditável, superior a 25% ao ano.

Tal desempenho foi resultado de nova abordagem oficial da política agrícola brasileira, processo iniciado pouco antes da virada do século, no final dos anos 1990. Foi quando a Pasta da Agricultura passou a ser encabeçada por técnicos e não mais por políticos sem maior interesse no setor. Além disso, porém, as exportações brasileiras de carne de frango também foram beneficiadas por surtos de Influenza Aviária ocorridos no Hemisfério Norte, logo no início do novo século.

Por sinal, naquele período os surtos da doença ganharam tal intensidade (houve vítima humanas), a ponto de afetarem o consumo de carne de frango e reduzir o comércio internacional. Daí a baixa ocorrida nas exportações brasileiras em 2006. Mas como a doença ocasionou também perdas na produção, a contrapartida foi uma explosão nas exportações brasileiras de 2007, ano em que – pelos números do USDA – representaram em torno de 40% das exportações mundiais do produto.

Foi, sem dúvida, um resultado excepcional, mas – claro! – temporário. Porém, acabou agravado pela crise iniciada nos EUA em 2008 e que, estendendo-se além, afetou a economia mundial por vários anos. Assim, enquanto no quinquênio 2000/2004 as exportações brasileiras evoluíram a uma média superior a 25%, nos cinco anos decorridos entre o recorde de 2007 e 2011 o incremento médio não chegou a 5% ao ano.

A queda de participação – não necessariamente de volume, ressalte-se – iniciada em 2008 foi interrompida em 2015, novamente em decorrência de surtos de Influenza Aviária no Hemisfério Norte. Mas, com a recuperação da produção, os retrocessos na participação brasileira tiveram continuidade, somente sendo interrompidos nos últimos dois anos.

De toda forma, entre o pico de 2007 e o piso de 2020 essa participação recuou a uma média próxima de 2% ao ano, sobretudo porque houve aumento de produção em países anteriormente grandes importadores. Provavelmente, graças ao milho e à soja brasileiros.

A recuperação registrada no último biênio tem como origem inicial as perdas de produção decorrentes da pandemia e, no ano que passou, da guerra na Ucrânia. Tende, neste ano, à continuidade e a alcançar níveis bem superiores que os dos anos anteriores devido, mais uma vez, à redução de plantéis em decorrência da crescente disseminação da Influenza Aviária.

Ainda assim, os efeitos sobre as exportações brasileiras serão muitíssimo menores que aqueles observados no início deste século. É que os casos de Influenza Aviária passaram a ser enfocados sob outro ângulo e, agora, em vez do embargo generalizado a um país afetado, os importadores restringem suas compras a regiões especificamente atingidas pelo surto.

Por sinal, a questão da Influenza Aviária, os problemas que vem causando e, inclusive, a possibilidade de ampla adoção da vacinação vêm sendo profundamente discutidos nos encontros técnicos que ocorrem nesta semana em Atlanta (IPPE 2023) com a participação da avicultura mundial, inclusive da brasileira. Novidades devem vir à tona até sexta-feira.