Os protestos motivados pela morte de um cidadão negro por um policial branco se intensificaram na terça-feira e prosseguiram até a madrugada desta quarta (3/6) em várias cidades dos Estados Unidos, após a ordem do presidente Donald Trump de reprimir uma manifestação pacífica e sua ameaça de mobilizar o Exército.
Apesar da pandemia do novo coronavírus, que deixou mais de 106 mil mortos nos Estados Unidos, a morte por asfixia há oito dias de George Floyd, em Minneapolis, enquanto era imobilizado pelo policial, levou multidões às ruas, nos maiores protestos registrados no país em décadas.
Os manifestantes enfrentaram a polícia até a madrugada de quarta-feira em Nova York e em Los Angeles, apesar do toque de recolher, mas não foram registradas tantas cenas de violência e saques como nos dias anteriores.
A cinco meses das eleições presidenciais, Trump aumentou as tensões, após ameaçar na segunda-feira mobilizar o Exército para impor a ordem depois que, à margem de protestos, foram registrados distúrbios com saques em várias cidades.
“Me ofende o fato de que esteja disposto a mobilizar os militares”, disse à AFP Amore, estudante do ensino médio de 16 anos, que protestava em Nova York, onde milhares de pessoas foram às ruas protestar pacificamente nesta terça.
As autoridades locais estenderam até 7 de junho o toque de recolher, uma medida que não era usada desde a Segunda Guerra Mundial, depois dos saques registrados na noite de segunda.
Trump ataca seus adversários
Na noite de terça-feira, apesar do toque de recolher, uma multidão permaneceu reunida em frente à Casa Branca.
“Estamos cansados de ver as notícias de que matam pessoas de forma habitual (…) Isto acontece há tempo demais”, disse à AFP Caleb, um manifestante que participa dos protestos há quatro dias em Washington, D.C.
Na segunda-feira à noite, ocorreram mais de 300 detenções na capital americana.
A cidade tinha um forte contingente de segurança depois do registro, durante o dia, de manifestações espontâneas em frente ao Capitólio e ao Memorial de Lincoln. Dois helicópteros sobrevoavam os atos, enquanto a polícia pedia às pessoas que obedecessem o toque de recolher.
Trump reiterou a ameaça de mobilizar o Exército e afirmou que, na segunda-feira à noite, quando 300 manifestantes foram detidos, Washington “foi o local mais seguro da Terra”.
Apresentando-se como o presidente da “lei e da ordem”, o republicano também atacou seus adversários e criticou a gestão da segurança em Nova York – onde democratas governam o estado e a cidade -, afirmando que cederam à “escória”.
Apesar dos incidentes e das críticas do governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, que disse que a Polícia e o município “não fizeram seu trabalho”, o prefeito da cidade, Bill De Blasio, negou-se a mobilizar a Guarda Nacional, considerando que a Polícia podia fazer frente à situação.
“Não podemos tolerar nem fechar os olhos diante de nenhuma forma de racismo, ou de exclusão, e pretender defender o caráter sagrado de toda vida humana”, disse o papa Francisco nesta quarta-feira.
O pontífice chamou o racismo de “pecado” e afirmou que reza por George Floyd e pela “reconciliação nacional”. Francisco também destacou que “nada se ganha” com reações violentas como as registradas nos últimos dias nos Estados Unidos.
Polícia sob investigação
Em Houston, uma cidade com uma importante comunidade negra, onde George Floyd passou a infância, cerca de 60 mil pessoas participaram de uma passeata, segundo o prefeito.
Em Minnesota, onde fica a cidade de Minneapolis, as autoridades anunciaram que vão abrir uma investigação sobre os possíveis abusos por parte da polícia nos últimos dez anos.
“Temos que aproveitar este momento para mudar tudo”, disse a vice-governadora, Penny Flanagan.