ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O REITOR DA UFT LUÍS EDUARDO BOVOLATO

Entrevista exclusiva com o Reitor: Luís Eduardo Bovolato, orginário do município de Presidente Prudente é formado em Geologia pela UFMT, com mestrado e doutorado em Geografia pela Unesp, e especialização em Geociências e Gestão Empresarial. Trabalha na UFT desde maio de 2003, tendo ingressado no quadro de servidores da Universidade entre os primeiros docentes concursados.

Abordando nesta entrevista descontraída o panorama da universidade, com a tematica do Covid-19, além de pontuar os avanços em sua gestão.

1) Qual foi sua maior motivação em ser reitor da UFT?

As motivações para enfrentar o desafio de uma Reitoria foram várias. Destacaria a coragem para participar de um processo eleitoral onde inevitavelmente ocorre grande exposição pessoal; a motivação pela ascensão profissional; a vontade de trazer seu acúmulo de experiências e sua network e torna-las úteis para a Universidade; a vontade de querer dar sua contribuição à medida que sempre é possível melhorar em tudo; o espírito motivador interno do desafio e das oportunidades; as expectativas da maior visibilidade e reconhecimento ao seu talento, capacidade profissional, projeção e execução de bons projetos e também a possibilidade de vivências em outros espaços que obviamente se ampliam quando se chega ao cargo de Reitor de uma Universidade Federal.

2) Quando o senhor começou a gestão, qual era o maior desafio e por quê?

Quando iniciamos a gestão cabe destacar o caráter atípico uma vez que fui Vice-Reitor da Reitora Isabel Auler. Infelizmente, por motivos de saúde, ela esteve à frente da Universidade apenas por 6 meses. Depois disso, assumi a Reitoria como Vice por alguns meses. Com o falecimento da Reitora, tivemos que abrir novo processo eleitoral. Participei então como candidato a Reitor e venci as eleições.

Mas nosso grande desafio foi melhorar e aperfeiçoar nossos instrumentos de gestão e governança. Fazer com que pudéssemos pensar, desenvolver e implantar modelos conceituais de gestão pública alinhados à eficiência, eficácia e efetividade; a ganhos de produtividade, à modernização e revisão de nossas resoluções e normativas internas. Também precisávamos avançar em muitos quesitos apontados pelas avaliações internas e externas, além de melhorar a qualidade de nossos investimentos considerando que já estávamos sofrendo com a queda acentuada de nosso financiamento. Para tanto aprimoramos nossa gestão de forma a reduzir os gastos nas atividades meio para que pudéssemos melhorar e ampliar os investimentos nas áreas finalísticas, ou seja, nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, além obviamente da ampliação dos programas internos de assistência estudantil.

Também tínhamos o desafio de melhorar nossa comunicação com a sociedade e nos aproximar de Instituições e empresas privadas, construindo assim uma melhor capacidade de interlocução com diferentes stakeholders.

Conseguimos avançar bastante. Saímos da sexagésima posição no ranking de Governança estabelecido pelo TCU entre as IFES para o décimo quarto lugar, além de melhorarmos em vários quesitos de nossa avaliação institucional, chegando ao conceito nota”4” de um conceito máximo de nota “5”.

3) Qual sua opinião com relação a Covid-19 no que tange as restrições de isolamento?

O cenário da pandemia nos trouxe uma realidade e dinâmica na qual não imaginávamos. A cerca de 8 a 9 meses atrás o Covid-19 era apenas uma notícia nos jornais, algo distante de nossa realidade. Poucos de nós acreditávamos que um surto de Coronavírus em Wuhan na China pudesse causar um estrago enorme no mundo todo, afetando a saúde física e mental das pessoas e abalando a economia mundial.

Nas Universidades tivemos que nos movimentar e a pandemia e a necessidade do isolamento nos trouxeram a necessidade de tomada de decisões. A primeira delas foi a suspensão de nosso calendário acadêmico para as atividades presenciais na graduação, a implantação do trabalho remoto nas atividades administrativas.

Pessoalmente, mantive minha rotina de trabalho, tomando os devidos cuidados e respeitando as recomendações ligadas à biossegurança. Também criamos na Universidade um Comitê Científico Extraordinário Covi-19, de caráter consultivo, composto por profissionais da área da saúde, para nos auxiliar tecnicamente na tomada de decisões e nos orientar em relação a todo o cenário ligado a este problema. Mesmo com a suspensão do calendário, a partir da aprovação de uma Resolução específica por parte do Conselho Superior da Universidade, mantivemos, não de forma presencial, as atividades dos programas de pós-graduação e, na graduação, embora desobrigada do ensino presencial, tivemos muitas iniciativas de oferta de conteúdos diversos de forma remota e facultativa aos nossos alunos, tais como mini-cursos, palestras, oficinas, etc.

4) Quais são os projetos mais relevantes que pretende implementar em sua gestão?

Já implantamos vários projetos interessantes na Universidade e alguns estão planejados. Dos já implantados destacaria o “NAUS”, que é uma ferramenta gerencial desenvolvida internamente que traz em sua estrutura todos os elementos presentes nas avaliações institucionais do INEP, além de permitir toda a organização, monitoramento e plano de metas e resultados orçamentários e financeiros de todas as UGs (unidades gestoras da Universidade). Importante destacar também que neste sistema contém todos os elementos de meu plano de gestão. Desta forma, acompanhamos diariamente nosso desempenho. Esta foi uma inovação em nossa gestão que pouquíssimas Universidades possuem.

Ainda, no campo das soluções ligadas à gestão, merece destaque o desenvolvimento e disponibilização em nossa home page, do Painel da Transparência. Trata-se de uma ferramenta desenvolvida em plataforma BI que permite a visualização de todas as informações da UFT no que se refere a: como se dá a execução Orçamentária e Financeira da UFT; acompanhamento de pagamentos efetuados inerentes a auxílios financeiros a estudantes; execução dos estágios da despesa pública dentro da instituição; demandas por compras por meio de pregões eletrônicos e/ou presenciais; acompanhamento da execução de recursos por emendas ao orçamento; apresentação de dados de projetos executados via fundação de apoio através de contratos e/ou convênios; Ações inerentes a: gestão de pessoas; gestão de assistência estudantil; Auditoria Interna e demais dados gerenciais da Universidade.

Estes foram exemplos de inovações já aportadas e presentes em nossa gestão. Os próximos desafios estão ligados à melhoria de nosso desempenho acadêmico, à captação de recursos próprios com estímulo às iniciativas empreendedoras, ampliação das incubadoras de empresas, empresas juniores e startups. Também nesta mesma linha, aprovar os normativos internos para que possamos melhorar o ressarcimento institucional e aplica-los nas atividades finalísticas, estimular o registro e proteção de patentes, criar espaço físico pensado para abrigar um “ambiente de negócios” e ligado a isso uma unidade responsável pela inovação e captação de recursos.

Importante também criarmos o ambiente favorável para a cultura empreendedora entre todos da comunidade acadêmica. E isso é possível em todas as áreas do conhecimento.

Na área acadêmica, não menos importante, é preparar as bases para a adoção de novas metodologias de ensino, flexibilização e modernização curricular e possibilidades de adoção, naquilo que for possível, de ensino híbrido, ensino mediado pela tecnologia e outras formas na relação ensino e aprendizagem.

5) A UFT está fazendo aulas remotas. Como tem sido para a universidade se adaptar a essa nova realidade e como os senhores têm atuado para impedir que as atividades de pesquisa e outras atividades da universidade acabem ficando comprometidas por causa da pandemia?

Aulas remotas na UFT estão ainda limitadas à algumas iniciativas de alguns cursos e professores que, neste período de suspensão do calendário acadêmico, estão fazendo a oferta de conteúdos diversos e não obrigatórios. O ensino mediado pela tecnologia é algo que já estava sendo discutido na Universidade. A pandemia antecipou este debate. A gestão tem procurado estimular estas discussões, trazendo especialistas que já tem uma experiência nesta área para que possamos trabalhar os conceitos, socializar com todos as diferenças entre as diferentes modalidades. Nosso objetivo é, antes de mais nada, qualificar o debate. Pessoas com melhor domínio e informações a respeito deste assunto poderão dar opiniões mais qualificadas e isso irá auxiliar na redução dos preconceitos ainda muito fortes à respeito do ensino mediado pela tecnologia. Preconceito este mais forte nas instituições públicas de ensino. As instituições de ensino privadas já estão mais familiarizadas.

Os desafios ligados à esta temática são enormes. A inclusão digital nos coloca frente às limitações na oferta da conectividade, a disponibilidade de equipamentos e também a capacitação para discentes e professores para estarem aptos a trabalharem com esta modalidade de ensino.

Quanto as demais atividades na Universidade, conseguimos nos adaptar. As atividades dos programas de pós graduação se mantiveram, assim como os trabalhos administrativos de forma remota. Percebo que nestas áreas não tivemos maiores prejuízos.

6) Qual é o impacto financeiro que a UFT está tendo como as diretrizes do MEC do atual governo federal e em especial da própria Covid-19?

Quanto ao nosso orçamento, não tivemos reduções além daquilo que já estava previsto na LOA. Importante lembrar que há um declínio acentuado do financiamento público para as IFES e isso vem acontecendo ano após ano. Não há uma proporcionalidade entre o tamanho da Universidade, o avanço vegetativo de seus gastos e a disponibilidade do orçamento em quantidade suficiente para a manutenção de suas atividades. A pandemia nos trouxe algumas questões que não estavam planejadas como por exemplo investimentos em estrutura tecnológica e de acesso à internet para um número elevado de alunos de baixa renda. Este contexto exige um planejamento cada vez mais eficiente do ponto de vista de uso dos recursos disponíveis e busca permanente pela redução de despesas nas áreas meio.

7) Antes da pandemia, a previsão da universidade era arrecadar quanto e hoje estima-se qual valor? 

Não é possível prever qual seria hoje a diferença entre o que foi previsto em relação à nossa arrecadação própria e aquilo que efetivamente poderemos arrecadar pois ainda há uma grande incerteza quando se dará o retorno de nossas atividades presenciais.

8) Como ficará a questão do vestibular e do retorno das aulas na UFT para o ano de 2020?

O vestibular foi cancelado por não haver segurança para a realização de um certame do porte do como este, ainda mais de forma presencial. Como alternativa utilizaremos o SISU e o PSC (processo seletivo complementar – usa notas do Enem). O retorno às aulas poderá acontecer no segundo semestre de forma não presencial se o Conselho Superior da Universidade aprovar o uso do ensino remoto e um calendário alternativo. Presencialmente ainda é muito arriscado fazer qualquer previsão a respeito deste retorno.

9) Qual a situação atual e projetos com relação a pesquisas na universidade e as próprias bolsas de mestrado e doutorado?

No que quesito Pós-Graduação, pela sua própria dinâmica, as atividades estão em curso, assim como também a manutenção de bolsas de mestrado e doutorado.

10) Das metas iniciais da gestão atual, quais não poderão ser consolidadas em face a pandemia?

Na minha opinião a maior parte daquilo que projetamos fazer nesta gestão será entregue à comunidade acadêmica mesmo com a pandemia. Estamos trabalhando na construção de nosso novo PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional para o período 2021 a 2025, uma vez que o atual PDI se encerra ao final de 2020. Para isso estamos utilizando uma sistemática de discussões utilizando reuniões virtuais, trabalhos em GTs e ao final deste ano iremos apresentar o novo PDI da UFT. Este Plano é um documento institucional, obrigatório, e que é o instrumento norteador de nossas ações para os próximos anos.

Mensagem do Reitor

Mensagem à sociedade: o momento nos traz inquietações, dúvidas e insegurança. Porém, é preciso seguir a vida. Tomando as devidas precauções, respeitando as orientações dos órgãos de saúde, este momento irá passar e com ele uma nova realidade para o mundo todo. Nos momentos de dificuldades se criam homens fortes e surgem também muitas outras oportunidades. É preciso estarmos preparados para estas mudanças. Estar aberto ao novo será sem dúvida um importe requisito.

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