Uma nova onda de apetite pela tomada de risco por investidores estrangeiros, aliada a uma escassez de ativos com retornos interessantes, alimentou uma sequência de captações por empresas brasileiras nos últimos dez dias. As transações totalizaram 4,6 bilhões de dólares.
Nos próximos dias, devem captar Stone e Light e a expectativa é que o sucesso seja o mesmo. A empresa mira captação em torno de 500 milhões de dólares e 750 milhões de dólares, enquanto a Light deve levantar até 600 milhões de dólares. Ou seja: o montante de captações de empresas brasileiras vai pular para perto de 6 bilhões de dólares na semana que vem.
Até o fim de julho, pelo menos outras três emissões estão previstas, envolvendo até 4 bilhões de dólares, conforme apurou o Estadão/Broadcast. Os emissores brasileiros haviam paralisado planos de captar no exterior nos últimos meses, em meio à turbulência interna com a pandemia e o aumento do juro norte-americano, na esteira de preocupações com a inflação nos Estados Unidos.
A virada de chave aconteceu nas últimas três semanas, quando a volatilidade com o juro norte-americano (Treasury) se estabilizou, diz o responsável por dívida externa do Itaú BBA, Pedro Frade. “Com o Treasury mais estável, vimos os investidores retomando apetite por risco, e o Brasil se beneficiou, especialmente porque apresenta valor relativo melhor do que outros países da região, que enfrentam turbulência com questões internas”, diz.
O que chama a atenção, sobretudo, é o volume de ordens de compras que as cinco empresas brasileiras que ofertaram títulos de dívida (bonds) lá fora tiveram durante o processo de venda desses papéis. Ao todo, foram 24,4 bilhões de dólares em pedidos de compra registrados nos “livros” das emissões de Petrobrás, PetroRio, JBS, CSN e Azul.
Para algumas empresas, como CSN e Azul, os investidores não retiraram suas ordens mesmo quando os emissores decidiram reduzir a taxa de retorno, o que é bastante comum. “As emissões foram retomadas em momento bastante sólido e tecnicamente favorável”, diz o responsável pelo mercado de dívida do Bradesco BBI, Philip Searson. O executivo do BBI acredita que o bom momento dura até o fim do ano.
O fato de muitas das companhias estarem retirando papéis do mercado, com a recompra dos mais caros, também faz com que as novas captações sejam bastante concorridas, afirma Frade, do Itaú BBA. “Foram 21 emissões realizadas neste ano, com perto de 13 bilhões de dólares emitidos, e metade delas combinada à recompra.”