ELEIÇÕES 2020: Centrão avança sobre candidatos a prefeitos do PSDB e MDB

O pesadelo de 2018 ainda não chegou ao fim para PSDB e MDB. Há dois anos, as legendas perderam cadeiras na Câmara Federal e deixaram de ser protagonistas da política nacional. Nas eleições municipais de 2020, os partidos estão entrando em campo desfalcados porque perderam quadros para o Centrão, principalmente para o DEM e PSD.

Se os candidatos que PSDB e MDB possuem não tiverem um resultado acima da média nas urnas em novembro, a sangria de 2018 que os transformou em legendas médias se repetirá e esses partidos perderão os bons frutos que colheram em 2016. Na dança das cadeiras da migração partidária, o PSD sozinho mordeu 60 candidatos que disputaram 2016 pelo PSDB, o DEM pegou seu naco, 54 candidatos. O partido mais capilarizado do Brasil, MDB, perdeu pedaços para os principais partidos do centrão. DEM arrancou 57, PSD, 59.

Esse movimento de migração partidária ocorre em todos os partidos e todos os anos, mas a direção dos ventos dá pistas de como a eleição vai se desenrolar. O campo político à direita mudou seu perfil. O PSD atraiu para si 467 candidatos a prefeito que tinham a experiência de participar de 2016 em qualquer cargo, e perdeu 276. Ou seja, saiu da disputa com 191 candidatos experientes de saldo positivo. O saldo do DEM é um pouco menor, 182 prefeitáveis. Além dos citados, Progressistas, Republicanos e PSL ganharam espaço. Já PSDB e MDB aparecem na contabilidade partidária com  um saldo negativo de mais de 200 membros, em relação ao último ciclo municipal.

Mas a migração partidária não age sozinha, ela vem acompanhada dos crescimento interno do partido com suas próprias forças. Devido às regras eleitorais que incentivam a fragmentação partidária por razões de sobrevivência frente à futura cláusula de barreira sem coligações proporcionais, as eleições desse ano bateram recorde de candidatos. Foram 10% a mais que 2016. Parte desse aumento é explicado pelo crescimento desses mesmos partidos de direita, especialmente o PSL e o DEM. O PSL em 2016 disputou a prefeitura em 151 cidades diferentes.

Em 2020 o partido estará presente em 719 municípios, um aumento de 376%, segundo dados tabulados pela consultoria MAF dataScience. O relatório aponta que apesar da saída do presidente Jair Bolsonaro da sigla, o PSL conseguiu se firmar e será o 12º partido com mais candidatos. Em quatro anos, o PSL deixou de ser nanico e se colocou como legenda de porte médio.

A migração partidária entre candidatos a prefeito atingiu 28% em 2020, ainda segundo estudo da MAF. O candidato é considerado migrante quando disputou a eleição municipal passada, em qualquer cargo, em um partido diferente do que disputa agora. Essa taxa vem aumentando desde 2012 atingiu o recorde histórico este ano.

Para o cientista político Marco Antonio Faganello, que assina o levantamento, os candidatos migrantes são importantes para os partidos. “A migração partidária pode medir a capacidade dos partidos políticos de reterem candidatos competitivos entre uma eleição e outra, e, ao contrário, também da capacidade deles de conquistarem quadros experientes com uma bagagem de eleitores fiéis”. Porém há um efeito colateral, ele acrescenta, “o distanciamento do partido e do eleitor, e um estímulo ao voto personalista que dilui a identificação partidária.”

Os sinais de encolhimento dessas legendas tradicionais também demonstra o aumento do poder das siglas do chamado Centrão, grupo de partidos que vem aumentando seu poder de influência desde 2018, e sobretudo, após acordo em maio deste ano para embarcar no governo Bolsonaro.

No campo da esquerda, PT e CIDADANIA (antigo PPS) foram os únicos que cresceram de forma expressiva (23,2% e 26,4% respectivamente) a participação no número de prefeituras disputadas em relação a 2016. No mês do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as candidaturas petistas foram varridas das prefeituras no país inteiro. Esse aumento indica uma tentativa de retorno do partido aos terrenos antes perdidos. PSB, PSOL e PCdoB lançaram menos candidatos a prefeito do que na eleição passada (respectivamente -21,5%, -19,3% e -33,9%).

Na oposição, Faganello explica que “os dados indicam que a ”sangria” que atingiu o PT na eleição de 2016 pode ter sido estancada e que o ônus da crise que atingiu o sistema partidário agora se concentra nos derrotados de 2018.”

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