O dólar começou a semana descendo a novas mínimas em cerca de cinco meses, com o real entre as divisas globais de melhor desempenho no dia, ainda embalado pelo atrativo juro oferecido pelo Brasil.
O dólar à vista terminou esta segunda-feira em baixa de 0,43%, a R$ 5,2186, menor valor desde 6 de setembro do ano passado (R$ 5,1764).
Temores de conflito entre Rússia e Ucrânia justificaram uma postura mais defensiva de forma geral nos mercados financeiros globais ao longo do dia, mas a moeda brasileira mais uma vez venceu a pressão externa — e a narrativa para explicar segue a mesma: os elevados juros brasileiros como atratores de capital.
Mas no câmbio doméstico o fluxo positivo de capital estrangeiro continuou a dar o tom, num movimento que tem chamado a atenção desde o começo do ano, desde quando já ingressaram cerca de US$ 5,7 bilhões, em termos líquidos.
E especuladores que operam na Bolsa Mercantil de Chicago fizeram, na semana finda no último dia 8, a maior compra líquida de contratos de reais em pelo menos 26 anos. O montante foi tamanho que provocou uma virada no estoque de posições — de alvo certo de perda, o real agora é aposta de alta. É a primeira vez que investidores estão otimistas com a moeda brasileira desde setembro do ano passado e o nível de confiança é o maior desde agosto do mesmo ano.
O real lidera com folga os ganhos em 2022 entre seus principais rivais ao subir 6,78%, o equivalente a uma queda do dólar de 6,35%.
Em fevereiro, a taxa de câmbio valoriza 1,66% — o dólar cai 1,63% —, o que deixa o real na vice-liderança global no período.
“O real tem se beneficiado de um ciclo de alta de juros muito rápido”, disseram em relatório estrategistas do Goldman Sachs, chamando atenção para o “carry” (taxa de retorno) da divisa, já em torno de 11% ao ano, a boa performance das moedas emergentes em geral e o patamar ainda elevado de prêmio de risco embutido na taxa de câmbio local.
“Diante disso, aliado ao alto ‘beta’ do real para o potencial de alta para as commodities, estamos reduzindo nossas projeções para o dólar a R$ 5,00, R$ 5,10 e R$ 5,10 em três, seis e 12 meses, respectivamente (de R$ 5,40, R$ 5,50 e R$ 5,50 anteriormente”, disseram, considerando que o entusiasmo com o real e com outras moedas de países que começaram cedo a subir os juros pode continuar no curto prazo.
Na mesma linha, o Rabobank reduziu sua projeção para o nível do dólar ao fim deste ano a R$ 5,56, ante estimativa anterior de R$ 5,65.
Há ponderações, contudo.
Em revisão de cenário da semana passada, o Itaú Unibanco disse que a Selic em alta e agora em dois dígitos tem ajudado a atrair maior fluxo de dólares ao Brasil, o que explica a apreciação recente do real. Não obstante, o banco manteve prognóstico de taxa de câmbio de R$ 5,50 por dólar ao fim de 2022 e de R$ 5,75 por dólar no término de 2023, avaliando que um movimento mais expressivo de apreciação dependeria da diminuição das incertezas externas e domésticas.
“No cenário global, a antecipação da elevação da taxa básica de juro americana [diante do aumento das pressões inflacionárias] é um fator importante e tem peso relevante na dinâmica do real. Internamente, as dúvidas relacionadas à evolução das contas públicas e sustentabilidade fiscal também tendem a pressionar a moeda nos próximos anos”, disseram.