A pandemia nos pegou desprevenidos – parece enredo de filme catástrofe mesmo. Em poucos meses tivemos de mudar nosso modo de viver – nos distanciar de pessoas queridas, perdemos boa parte da liberdade de ir e vir, economia em crise, risco ocupacional de pegar o vírus, ensino a distância… mudanças drásticas.
No meio disso nos ligamos aos meios de comunicação, seja pela televisão, radio, sites de notícias, WhatsApp entre outros para nos informarmos sobre o novo vírus. E aí vem a discussão da crônica de hoje – de que forma a informação chega e como nós reagimos a ela.
Por ser uma doença recém descoberta, o COVID-19 ainda está sendo estudado a fundo. Não temos todas as respostas, mas pelo número excessivo de casos, em especial o impacto na morbimortalidade, estrutura de saúde e economia do mundo, impôs uma pressa excessiva para encontrarmos as respostas. Os veículos de comunicação se voltaram para o problema. E a narrativa depende muitas vezes de como o indivíduo, a organização que repassa a informação ao público encara o problema. Isso sem falar dos viézes políticos e interesses individuais ou corporativos que influenciam no momento que a matéria é pautada.
Muitos pseudoespecialistas entraram na jogada defendendo com unhas e dentes políticas de saúde, medicamentos, representantes de governo mesmo que sem que tenhamos certeza de nada. O número de óbitos absoluto se tornou muito mais importante que a porcentagem de mortalidade. Os exemplos de sucesso no enfrentamento são muito menos exaltados que os locais em colapso. Propagar o medo deve vender mais que transmitir esperança mesmo.
Não se trata de negligenciar a doença! Longe disso, mas encarar ela como encaramos outros males. Dengue hemorrágica, infarto agudo do miocárdio, acidentes de trânsito, sepses graves matam mais que o COVID-19. E não temos uma visão tão pessimista sendo passada adiante nesses casos.
Lombardia, Nova Iorque, Manaus, Belém… tiveram situações onde só cabia noticiar a calamidade e o colapso social devido ao coronavírus. Regionalmente faz sentido. Mas isso não é a realidade de todas as cidades. Aqui mesmo em Palmas onde moro temos um exemplo positivo: até o dia 13/06/2020, já com 3 meses de isolamento social, 966 casos confirmados, 543 recuperados, 18 internados e 11 óbitos.
Eu sou otimista. Copo sempre meio cheio pra mim. Eu olho esse número e penso – menos de 1 óbito por semana! Menos de 1,5% de mortalidade! Pouca gente internada! Sem falar que não conseguimos testar todos que precisariam, então a nossa morbimortalidade é provavelmente ainda menor!
Não concordo com a narrativa de catástrofe total em localidades como a nossa. Temos tanta coisa boa para falar aqui. Não temos nenhuma morte da equipe de saúde. Temos de ter muito cuidado com a narrativa polarizada das histórias. Tentem escutar ambos os lados. Checar aos informações com calma. Não transformar o debate em uma guerra estilo “cloroquiners contra o mundo”!
Perspectiva a meu ver ótima. Começaram a liberar o comércio por aqui, com medidas restritivas. Vão aumentar os casos? Claro! Temos como enfrentar? Com certeza!
Sem falar dos pacientes que migram de outras cidades do Tocantins e dos estados no entorno para tratamento, pois temos a melhor estrutura do estado. Estrutura é fundamental para enfrentar o coronavirus – equipamentos de proteção, equipe de saúde qualificada, leitos disponíveis para internação, ventiladores mecânicos – isso sim impacta nos resultados. Fico orgulhoso ! Ainda assim temos ótimos números!
Sinto muito pelos pacientes que perdemos nessa guerra. Ao olhar o indivíduo tenho de usar de empatia para dar o devido conforto e acolhimento com os familiares, Mas como médico que trabalha há quase 20 anos com urgência e emergência, diga a vocês que nem de longe essa é a pior doença com a qual lidamos no nosso dia a dia. E que dada a força tarefa criada para lidar com o COVID-19, muitas respostas vão sair no segundo semestre. Eu particularmente fico esperançoso com a vacina que deve sair até o ano que vem.
Encarar o copo como meio cheio é um estilo de vida. Ajuda a tratar a ansiedade causada pela pandemia. Dá coragem para tomarmos decisões em tempos difíceis.
P.S. Em 14/06/2020 infelizmente tivemos o 1º óbito de um médico aqui em Palmas. O colega apresentava comorbidades graves. Desejo muita força e paz aos familiares.
Uma boa semana à todos.