“Posso fazer um Pix?” Desde meados de novembro, essa é uma pergunta que aos poucos está passando a fazer parte do cotidiano dos pequenos negócios no País. Com esse novo sistema de pagamento digital, o dinheiro passa da conta do comprador para o vendedor quase que instantaneamente, 24 horas por dia, sete dias por semana – em princípio, sem custo algum. De acordo com o Banco Central, responsável por criar o sistema, a chegada do Pix vai proporcionar inclusão financeira e, ainda, estimular a viabilidade de pequenos negócios.
No caso do empreendedor Thiago Leonardo de Almeida, dono da Mr BBQ House, uma boutique de carnes em Santo André, o primeiro impacto do uso do Pix foi facilitar o atendimento aos clientes. “Antes eu só podia oferecer pagamento no crédito ou transferência para quem não usa cartão. Agora, se o cliente me liga para fazer uma entrega às 16h de um sábado, eu ofereço o pagamento pelo Pix e fico mais tranquilo, o dinheiro aparece na minha conta na hora”, diz.
Na prática, o Pix é uma transferência de valores, e pode substituir o pagamento em dinheiro, o pagamento no débito, um DOC ou TED e o pagamento via boleto. O usuário cria uma chave junto à instituição financeira de preferência, utilizando seu CPF ou CNPJ, seu número de telefone ou mesmo um código aleatório, e pode receber o pagamento informando essa chave para o cliente. É possível ter mais de uma chave em instituições diferentes, e elas podem ser atreladas a uma conta física ou jurídica.
Na hora de pagar o produto ou o serviço, os pagamentos também podem ser feitos via QRCode, que podem ser estáticos (em que você precisa informar o valor da venda) ou dinâmicos (gerado a cada venda). No caso do QR Code estático, ele pode ser impresso e ficar “adesivado” na frente do caixa, por exemplo.
Só mesmo compras a crédito e parceladas ainda não são possíveis – o que não significa que não serão no futuro. Afinal, a estrutura do Pix, com menos intermediários entre comprador e vendedor, deve permitir uma série de novas soluções que nem mesmo o Banco Central é capaz de prever.
Por enquanto, Almeida diz que em sua casa de carnes ainda são poucos os clientes utilizando esse meio de pagamento, mas, até o momento, ele tem funcionado bem e ajudado a oferecer mais uma opção para o consumidor. “Se é muito trabalhoso comprar com você, a pessoa acaba desanimando. Com o Pix eu tenho menos incerteza no que posso oferecer. Minha única dúvida é se o sistema vai ser ágil em um horário de pico”, questiona.
De fato, a agilidade e a segurança são questões levantadas pelos empreendedores e consumidores. “Pelo menos no início, o Pix não apresentou instabilidade e foi um sucesso em termos operacionais”, diz o consultor do Sebrae-SP Inge Ommundsen Neto. Segundo ele, as questões de segurança são as mesmas de qualquer operação digital, embora com o Pix as chances de erro sejam até menores. “Só é preciso prestar atenção se você está enviando para a chave certa, pode acontecer de alguém substituir o QRCode e você mandar o dinheiro para outra pessoa”, alerta.
Para Ommundsen, o maior atrativo do Pix para os empreendedores é financeiro. A transferência instantânea não tem custos (pelo menos por enquanto), o que gera uma economia nas taxas das maquininhas de cartão e nos custos de TED e DOC. Quando – e se – as instituições financeiras passarem a cobrar uma taxa pelo uso do Pix em transações para contas jurídicas, a promessa é de que o custo vai ser baixo.
Mesmo assim, o consultor aponta que as vantagens operacionais podem ser ainda maiores para quem souber fazer um bom uso do sistema. “Para o comércio eletrônico que oferece o pagamento em boleto com desconto, o Pix é muito mais interessante. É comum emitir o boleto, separar o produto do estoque para esperar a confirmação e depois a compra não é concluída. O Pix é instantâneo, você não tem esse problema”, diz.