Um dos resultados mais imediatos da pandemia de covid- 19 no país foi o aumento da quantidade de pessoas trabalhando em home office. Mesmo as empresas mais tradicionais viram a necessidade, pelo menos por um período, de manter seus funcionários trabalhando de casa. Com isso, aqueles pequenos negócios que atuam com reformas e materiais de construção e decoração sentiram um “efeito colateral” bem-vindo com o crescimento da procura por pessoas querendo adaptar os espaços de casa a essa nova necessidade.
De acordo com a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19, da Fundação Instituto de Administração (FIA), o trabalho em casa foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia no Brasil. Para que a sala, um quarto de hóspedes ou uma área sem uso fossem transformados em algo próximo a um escritório, foi necessário investir em móveis novos, pequenas obras e até mesmo um “fundo” mais decorado para as reuniões por videoconferência. Tudo isso para tornar o espaço mais confortável, agradável e próprio para trabalhar.
O consultor do Sebrae-SP Éder Max observa que o mercado de pequenas reformas costuma ficar mais aquecido nos meses de janeiro e fevereiro, quando as famílias estão de férias. Em 2020, no entanto, um levantamento do Ibre/FGV e da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), mostra que 42% dos comerciantes consultados registraram crescimento nas vendas entre maio e julho.
“O mercado vinha de altos e baixos, mas, quando chegou a pandemia, os empreendedores do setor se assustaram. Praticamente todo mundo teve o mesmo pensamento, de que haveria estagnação, o que não aconteceu. Passando mais tempo em casa, as pessoas começaram a perceber detalhes que antes não observavam por causa da rotina e isso motivou reformarem o espaço onde vivem. Eu mesmo fui um desses”, conta Max, que adaptou todo seu escritório para continuar atendendo os clientes a partir de sua casa.
Novas demandas
Assim como inúmeros empresários, Samira Salatino tomou um susto quando teve de suspender o trabalho presencial em virtude da covid-19. Há três anos no mercado de casa e construção, a empresa de Samira e do marido, Luciano Jesus Pereira, é especializada em placas para parede em 3D. Em um cenário de incertezas, a empresária acabou cortando sua linha de produção e teve de continuar seu trabalho remotamente. “Quando a pandemia chegou, tivemos que mandar todos os nossos funcionários da linha de produção embora. O único que restou foi o meu marido para embalar e enviar as placas”, conta Samira.
Quinze dias depois de dispensar todos os seus funcionários e passar a trabalhar remotamente, ela começou a perceber um crescimento grande nas vendas via web. Veio outro susto, e Samira correu para contratar pessoas para sua linha de produção. “Não esperávamos essa demanda de vendas em plena pandemia”, afirma.
A empresária também lembra que seu e-commerce não seguia padrões de venda pela internet e que os processos eram totalmente desorganizados. “Atuávamos no mercado digital, mas não tínhamos uma organização correta de processos internos da empresa. Nesse período, estruturamos todo nosso marketplace, ajustamos os processos internos, criamos um novo site e colocamos um padrão especifico para esse tipo de atendimento”, explica.
Com o crescimento de 150% no faturamento nos últimos meses, Samira ressalta o impacto que teve ao ajustar a parte operacional do seu negócio – em boa parte com o auxílio do Sebrae-SP, de quem ela é cliente desde que era Microempreendedor Individual (MEI). “Estruturar todo nosso e-commerce e os processos internos foi fundamental para esse crescimento em um período tão conturbado”, diz Samira. Isso incluiu, claro, providenciar um espaço adequado para também trabalhar de casa.