Chover no período certo é algo que todos os setores da sociedade esperam. Ter em nossos dias “invernadas” como há tempo não se via na nossa região, também era desejo de boa parcela dos tocantinenses.
Até aí, tudo bem e razoável?
Fake News de barragem estourando, são virais e recorrentes. Má fé!
Que os autores sejam identificados e punidos nos rigores da lei.
Razoável o que me parece também, é que o ciclo hidrológico continue ocorrendo.
Choveu, a água infiltrou, elevou o lençol freático e que os rios corram para o mar (me perdoem a simplicidade com que resumo este importante processo).
Razoável é que as usinas hidrelétricas também operem em seu potencial máximo, já que sua matéria-prima esteja em abundância nesta época do ano, as águas que descem pelo rio Tocantins.
O que tem de diferente neste período chuvoso até agora?
Atualmente, ele está sendo marcado pela atuação de um La Niña, com um ligeiro aumento da temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul e de uma tempestade subtropical, denominada de Ubá (canoa indígena) na costa brasileira. Sem mencionar os 5 ou 6 eventos da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que são conhecidas e recorrentes nesta época em nossa região.
Até aqui, tudo razoável e dentro do normal?
Do ponto de vista meteorológico e climático? Sim!
Contudo, as chuvas registradas em dezembro de 2020 chegou a superar os 600 mm em Talismã do Tocantins.
E aí? Continua dentro do esperado para um ano atípico com tantas atuações de sistemas que contribuiem para aumentar os acumulados de precipitação.
Em algumas regiões produtoras de soja, a cultura tem aguentado bem os grandes volumes de chuvas e as temperaturas têm se mantido em níveis aceitáveis e não devem interferir fortemente na produtividade.
Nas rodovias, tudo dentro do esperado. Alguns trechos estão ainda pior.
O que não me parece razoável mesmo é ver como os eventos ocorridos na Zona Rural do município de Peixe e no município de Tocantinópolis foram tratados pelas autoridades.
E será que há culpados?
Tudo dentro do esperado?
Ou iremos colocar a culpa pelos transtornos ocorridos no Santo da Igreja Católica, o São Pedro?
Será que não há um contexto que explique os desabrigados e as “forças” das águas que destruíram parte de um porto?
Precisamos ir a fundo!
Entender para prevenir e salvaguardar vidas humanas. No mínimo!
Nada é simples! Tão pouco o desabrochar de uma rosa.
Aqui peço licença ao amigo leitor, para reproduzir trechos do meu artigo, publicado em janeiro de 2020 (dá uma googlada que você encontrará, E a culpa é de São Pedro? Por quê?).
Somos mais de 5500 municípios.
Somos um Brasil de particularidades e desigualdades.
De nada adianta o monitoramento realizado pelos Centros Regionais de Meteorologia, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN, Instituto Nacional de Meteorologia-INMET, Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC se ainda falta o fortalecimento de ações de proteção e defesa civil, pelos Planos de Ação e Emergência (PAE) e emergencialmente pela inclusão da cultura da vulnerabilidade do risco nos municípios e nos estados.
Temos profissionais dedicados e altamente qualificados, mais temos dimensões continentais e cada vez mais precisamos do engajamento de profissionais para somar e fortalecer a cultura do RISCO (sim, em caixa alta).
Proteção e Defesa Civil é um dos setores mais importantes de um município, de um Estado, de um País.
Aqui não busco encontrar “culpados”.
Mas fomentar um debate sobre a complexidade da gestão e da vulnerabilidade do risco de pequenos e médios municípios frente aos constantes desafios colocados pelo uso e ocupação do solo, uso múltiplos das águas, preservação ambiental e eventos meteorológicos extremos.
Uma certeza. É que estes eventos retornarão. Talvez no próximo verão ou no ano seguinte. De menos ou com mais intensidade? A certeza é, eles retornarão.
E até lá, o que foi que aprendemos?
Pela atenção, meu muito obrigado.
JOSE LUIZ CABRAL DA SILVA JUNIOR
METEOROLOGISTA
Registro Nacional:
CREATO nº 241641415-1
Registro Regional: 2416414151