No consultório de otorrinolaringologia é muito comum nos deparamos com pacientes com queixa envolvendo a garganta porém a causa não se deve a ela, como no caso do refluxo gastroesofágico (alteração no órgão digestivo), recebendo o nome de refluxo laringo-faríngeo quando a manifestação é alta (acima do esôfago).
Primeiramente temos que entender que em qualquer indivíduo saudável há o retorno do suco gástrico para o esôfago em quantidades aceitáveis e que não provoca danos nem sintomas; recebendo o nome de refluxo gastroesofágico fisiológico.
No caso da doença do refluxo gastroesofágico esse limite é ultrapassado, observando-se um retorno anormal e excessivo do suco gástrico para o interior do esôfago e adicionalmente o esôfago não consegue devolver todo o conteúdo de volta para o estômago.
A doença do refluxo gastroesofágico é umas das patologias mais frequentes do aparelho digestório e pelo fato de apresentar um caráter crônico e recidivante, requer na maioria dos casos um tratamento clínico contínuo, prolongado e dispendioso, podendo até, em alguns casos, ser necessário o tratamento cirúrgico.
Existem alguns fatores que contribuem para a doença acontecer, como causas anatômicas (ex: hérnia de hiato), comportamentos e hábitos, costumes dietéticos (comida gordurosa, fritura, café, chocolate, álcool, cebola, hortelã, menta, alho, alimentos picantes ou cítricos, alimentos a base de tomate), obesidade, gravidez (transitoriamente na maioria dos casos), medicamentos, algumas influências hormonais e até mesmo outras doenças, como no caso da diabetes mellitus (que pode acontecer a gastroparesia ocorrendo um esvaziamento lento do conteúdo do estômago devido a neuropatia diabética).
É importante ressaltar que o quadro clínico pode variar de um indivíduo para outro e as manifestações clínicas podem se apresentar de forma isolada ou agrupadas dentro de diversas especialidades médicas. As principais especialidades que podem vir a enfrentar as manifestações do refluxo são a gastroenterologia, cardiologia, pneumologia, odontologia e otorrinolaringologia.
Em relação aos sinais e sintomas otorrinolaringológicos temos: faringites e/ou laringites de repetição, otalgia e otites (principalmente em crianças que devido a disposição anatômica da tuba auditiva predispõe o refluxo a chegar ao ouvido médio com mais facilidade que no adulto), pigarro (que além do constrangimento social pode ocasionar lesões nas pregas vocais), sinusites e rinites (como causa e como agravamento), pólipos e granulomas em pregas vocais, rouquidão (devido as laringites, pólipos, granulomas, lesão direta do suco gástrico; se agravando ainda mais em profissionais da voz como professores, cantores, radialistas, dentre outros)
As manifestações extradigestivas apresentam maior dificuldade no controle durante o tratamento, normalmente com dosagens medicamentosas maiores e por tempo mais prolongado, sendo os pilares do tratamento a dieta, medidas comportamentais e o tratamento medicamentoso.