Como era amplamente esperado entre analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou nesta quarta-feira,17, mais um corte de 0,75 ponto percentual (p.p.) na Selic, taxa básica de juros da economia, que foi de 3% a 2,25% ao ano, uma nova mínima histórica.
Trata-se da oitava redução consecutiva da Selic, cujo atual ciclo de redução começou em julho do ano passado.
“A magnitude do estímulo monetário já implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da Covid-19. Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual”, disse o comitê em comunicado, sugerindo que, se for necessário, e, a depender da conjuntura, o ciclo de queda pode não terminar aqui neste ano.
Na reunião passada, na primeira semana de maio, o BC anunciou um corte de 0,75 (p.p.) e sinalizou que faria outro de mesma magnitude na Selic em junho, o que complataria estímulo necessário como reação aos efeitos econômicos da covid-19.
Desde a então, houve um agravamento significativo do surto viral no país, deterioração das expectativas de crescimento, queda das expectativas de inflação de curto e médio prazo.
A expectava do mercado medida semanalmente pelo Banco Central pelo Focus é de que a taxa permaneça em 2,25% em 2020. Para o ano que vem, a previsão caiu a 3%.
A queda de 16% nas vendas do comércio varejista em abril, anunciada ontem, e de 11,7% no segmento de serviços confirmaram que a atividade pode ter chagado ao fundo do poço no período, o que é um incentivo a mais para que o BC a continue com sua polítiva monetária estimulativa. Junto e esses dois setores, o industrial teve queda de 18% na produção em abril.
A inflação em níveis historicamente baixos também favorece o movimento. Em maio, o IPCA veio negativo pelo segundo mês seguido. No acumulado de 12 meses até março, o IPCA teve alta de 1,88%, de 2,40% antes, abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Ao reduzir os juros, o Banco Central dá condições para que haja mais recursos no mercado. Em meio à situação excepcional de pandemia, porém, estímulos tradicionais podem não ter o efeito esperado, o que tem feito com que a política monetária aqui e lá fora percam potência.
Mesmo com recursos disponívels, os bancos adotam uma posição cautelosa e param de emprestar devido ao maior risco de inadimplência em um cenário de alta do desemprego, queda da renda e risco de falências. Essa tem sido uma das maiores reclamações de pequenos empresários que tentam se financiar para atravessar este período mais agudo: o dinheiro não chega na ponta.
O Ministério da Economia tem recebido dados mostrando que a liberação de crédito “travou no meio do caminho” pela regulamentação do setor bancário, disse o vice-presidente da República, Hamiton Mourão, nesta terça.
Veja o comunicado do Copom na íntegra:
Em sua 231ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 2,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
No cenário externo, a pandemia da Covid-19 continua provocando uma desaceleração pronunciada do crescimento global. Nesse contexto, apesar da provisão significativa de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador;
Em relação à atividade econômica, a divulgação do PIB do primeiro trimestre confirmou a sua maior queda desde 2015, refletindo os efeitos iniciais da pandemia. Indicadores recentes sugerem que a contração da atividade econômica no segundo trimestre será ainda maior. Prospectivamente, a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 1,6%, 3,0% e 3,5%, respectivamente;
No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,95/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 2,0% para 2020 e 3,2% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,25% a.a. e se eleva até 3,00% a.a. em 2021; e
No cenário com taxa de juros constante a 3,00% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,95/US$*, as projeções situam-se em torno de 1,9% para 2020 e 3,0% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia se prolongue e provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as estimadas.
Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco.
Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 2,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021.
O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O Comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo.
Neste momento, o Comitê considera que a magnitude do estímulo monetário já implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da Covid-19. Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual. No entanto, o Copom segue atento a revisões do cenário econômico e de expectativas de inflação para o horizonte relevante de política monetária. O Comitê reconhece que, em vista do cenário básico e do seu balanço de riscos, novas informações sobre a evolução da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.