ANP levantou em mais de 1.200 postos no Brasil preços do diesel na última semana entre R$ 3,599/l e R$ 5,850/l; média ficou em R$ 4,23/l em todo o país
Composição do custo de transporte (Bitrem Graneleiro x 1.000 km) – Fonte: ESALQ-LOG
A recente disparada nos preços dos combustíveis, com níveis recordes na média Brasil para o diesel, gasolina e etanol, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pode trazer impactos diversos para o agronegócio do país. O diesel é o principal componente no custo do frete, além de também ser utilizado de diversas formas dentro das propriedades.
Na semana última semana, entre os dias 28 de fevereiro e 06 de março, o diesel registrou preço médio recorde no Brasil de R$ 4,23/l, segundo a ANP, variando nos mais de 1.200 postos pesquisados entre a máxima de R$ 5,850 e mínima de R$ 3,599/l. O tipo S10, com menor teor de enxofre, registrou preço ainda maior, a R$ 4,297/l.
“O óleo diesel tem um impacto grande no peso do frete no Brasil. Em uma viagem de 1 mil km no transporte de grãos, por exemplo, o gasto com combustível chega a representar de 40% a 50%. Esses aumentos preocupam. Diante da alta do combustível e a alta demanda neste momento de safra, não devemos mais ter os fretes voltando para os níveis de 2020”, afirma Fernando Pauli de Bastiani, pesquisador do ESALQ-LOG.
O Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG) é ligado ao departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). A equipe levanta semanalmente informações de aproximadamente 5 mil rotas distintas em todo o país.
Na escalada de aumento de preços dos combustíveis e a alta demanda para o escoamento da safra 2020/21 de soja, o preço do frete de grãos no Brasil atingiu recorde de quase R$ 140,00 por tonelada na rota de Sorriso (MT) – Rondonópolis (MT), apenas uma levantada pelo Sistema de Informações de Fretes (SIFRECA) do ESALQ-LOG. A máxima anterior era de 2018, com cerca de R$ 129,00/t.
“Ainda é difícil mensurar exatamente qual é a parcela da demanda por fretes e do diesel neste momento de alta dos preços, mas a gente sabe que eles têm exercido impacto sim, mais pra frente poderemos ter um cenário mais claro”, pontua Bastiani.
O aumento do óleo diesel, além de impactar e afetar a competitividade da cadeia do agronegócio como um todo, com influencia principal aos produtores rurais e transportadores, também tem potencial de reflexo nos preços aos consumidores finaiis, além de poder impactar na inflação.
Segundo o pesquisador do ESALQ-LOG, neste momento, com a alta internacional do petróleo, em retomada das máximas de US$ 70 o barril, que não eram vistas desde o início da pandemia do coronavírus, nem mesmo as ações do governo têm pressionado o diesel e os custos aos transportadores.
Mercado de fretes de grãos – Fonte: ESALQ-LOG
Além do impacto no transporte, a alta dos combustíveis também tem contribuído para o aumento dos custos de produção nas lavouras pelo Brasil. Apesar disso, em determinados casos, de acordo com Bastiani, os produtores poderão equalizar os custos com os preços elevados na negociação da safra como na soja, por exemplo.
“A gente vê os preços das commodities em níveis recordes. Então, alguns produtores teoricamente estão sendo remunerados, por mais que se tenha algum impacto eles podem conseguir vender melhor seus produtos”, considera Bastiani.
Osmair Guareschi é produtor de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão na região de São José do Rio Preto (SP) e já sente o impacto do combustível . “Os custos subiram e a tendência é que isso se mantenha. Nós vamos iniciar uma safra e o que mais se gasta é o diesel, apesar de que também subiram as peças de reposição e pneus. Os custos ficarão acima da expectativa”, aponta Guareschi.
Diesel registrou preço médio recorde no Brasil de R$ 4,23/l na última semana, segundo a ANP – Foto: CNA
A safra de soja 2020/21 do Brasil está com a colheita sendo finalizada e escoada neste momento, com influência dos altos preços dos fretes sobre as negociações, já a safra de milho, cana-de-açúcar e café será colhida nos próximos meses no país, já com impacto do diesel sobre os trabalhos no campo e depois também com a logística para o escoamento.
“Estamos vendo que as usinas estão preocupadas com a pressão de custos e insumos dolarizados sobre suas margens. Apesar dos bons preços, algumas usinas estão planejando quebras que chegam a 15%, com produtividade menor em alguns casos também. Existe uma preocupação de as margens serem menores com esse cenário”, destaca Lígia Heise, consultora sênior em gerenciamento de risco da StoneX.